sábado, 20 de dezembro de 2008

(Des)Fragmentos Pô-Éticos

É, ou
Noé?

Eloá,
ou não há?

sábado, 13 de dezembro de 2008

Notas.

Como esse blogue é uma manifestação individualista e 100% egóica; como ninguém se aventura a lê-lo e nele comentar, lanço aqui notas de significado subjetivo, e que só podem atingir pessoas diretamente relacionadas com elas -ou não-, as quais não lêem este blogue.


Nota 1 - Hoje corro dos meus fantasmas.

As coisas não precisam de você.
Quem disse que eu tinha que precisar?


Nota 2 - E o farol da ilha só gira agora por outros olhos e armadilhas.

Louco, não-comercial (use sua criatividade), 16, São Paulo.


Nota 3 - Ato contra a Bur(r)ocracia.

(Em três vias e registrado em cartório)


Nota 4 - Antes eu fazia um trabalho perfeito.

Hoje tenho dó dos feijões.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Réplica a um discurso reacionário sobre a adaptação "popular" de uma peça de Antonín Dvorák.

Reacionarismo e retrogradação musical.

Meus amigos, tenho uma triste notícia para vós: a música evolui.
Todos esses discursos reacionários e retrógrados, às vezes até apoiados na ciência (88), não me convencem porque estou convicto de que a música evolui.
A música é um reflexo da cultura de determinado povo. O povo é uma instituição mutável, que evolui, e que depende das ações de cada indivíduo. O ser-humano, assim como os demais seres-vivos, evolui, em busca da sobrevivência. Sim, pois nenhuma espécie de animal luta pelo suicídio, pelo menos que eu saiba. O ser humano planta, o ser humano contrói cidades, o ser humano cria o Xou da Xuxa etc. E também o ser-humano, como um mecanismo de manutenção da sobrevivência, mata o outro ser-humano, para continuar existindo. Isso explica as guerras, a luta de classes, a dominação cultural etc. (Aqui, qualquer tipo de dominação, privação, mutilação, tortura e assassinato, diretos ou indiretos, estão associados à morte.)
Considerem isso. Considerem também que a história é linear e jamais retrocede. Conclui-se que, de fato, as coisas evoluem. O alto IDH finlandês, as olimpíadas de Pequim, assim como as fábricas da Nike no Vietnã e o subdesenvolvimento indiano são recortes retirados da história da humanidade, que evolui ininterruptamente.
O grupo de humanos detentor do poder de dominação (no nosso caso, uma minoria) tende a superar os aspectos negativos de sua sociedade em ciclos históricos (segundo alguns pensadores, há um ponto onde esses ciclos terminam, mas isso não está em discussão agora). Isso é uma verdade histórica. Vamos trazê-la então para a discussão inicial do tópico.
A música, em sua história, evoluiu até certo ponto, quando os homens conheceram os efeitos da dominação cultural. Houveram litofones, liras e, um dia, cantos sacros. Cânones.
Segundo o dicionário eletrônico Houaiss de Língua Portuguesa, o termo cânone, além de tipo de composição polifônica em que uma melodia é contrapontada a si mesma, pode ser também: a) norma, princípio geral do qual se inferem regras particulares; b) maneira de agir; modelo, padrão; c) decreto, conceito, regra concernente à fé, à disciplina religiosa. Opa! Topamos com aquela verdade histórica afinal.
A música evolui, e não há tanque ou ultra-conservadorismo que o impeça. Assim como a própria música erudita evolui. Historicamente, a música erudita geralmente é associada à cultura de uma classe dominante. A música erudita nunca foi amplamente apreciada, salvo exceções como a ópera-bufa italiana, os próprios cantos sacros e aquelas coletâneas do tipo "Clássicos mais populares". Existem, contudo, pontos de ruptura na histórica da música erudita, já que ela está em constante evolução. Tal evolução decorre da aprimoração técnica e das influências que a tal música sofre. Tal influência pode vir tanto de uma fusão de elementos já eruditos (Mozart, Beethoven), de uma fusão de elementos eruditos com populares (Gershwin, Piazzola), ou de uma fusão de elementos eruditos com elementos folclóricos (Stravinsky, Villa-Lobos), e é sempre um reflexo dos avanços sociais de cada época.
É compreensível então que, se o jazz é incorporado pela cultura erudita, ele passa a ganhar maior importância (na sua forma erudita), mas não deixa de ter sua importância no meio popular e folclórico, de onde veio. A evolução da música, como já exposto, SÓ acontece por causa do aprimoramento da técnica e da mistura de influências.
A cultura apreciada por uma classe dominante, contudo, não é necessariamente a cultura que esta imporá sobre a classe dominada. O jazz ganha mais importância, mas quem delimita essa importância é o mesmo grupo que, na sociedade contemporânea, bombardeia o povo com convenções estabelecidas (Jovem Guarda), ou mercantiliza a tradição popular (samba, funk carioca). O funk não conhece o funk, mas o funk nasceu do funk.
Contudo, como já exposto, tais mecanismos de dominação nascem da constante evolução humana. Dizer então que tal estilo musical tem que ser menosprezado é negar a evolução da cultura. Negar a fusão musical é afirmar um conceito fascista de não-miscigenação cultural. A música comercial tem justificativa em seu contexto social. Vende-se Xuxa, como na renascença os pintores comercializavam seu próprio talento. O que difere os artistas mecenados antigos dos atuais? O talento? O talento é relativo. A elite compra Damien Hirst, a subelite compra marcas famosas e a classe C compra Sandy & Junior. Sandy & Junior, que como Michelângelo, nada mais são do que mecenados.
A bandeira que vós levantais é a bandeira da retrogradação. Vocês equivalem àqueles que chiaram quando Beethoven introduziu um enorme coral em uma sinfonia, aqueles que amaldiçoavam Tchaikovsky pela sua opção sexual, aqueles que torceram o nariz para Dvorák e Gershwin, aqueles que xingaram de vacas as bailarinas que dançavam a coreografia de Nijínski, na estréia da Sagração da Primavera de Stravinsky, aqueles que jogavam tomates nos músicos nos recitais da Semana de 22, aqueles que riram da música dadaísta, aqueles que prenderam Messiaen em um campo de concentração, aqueles que chamam John Cage de louco.
Mantenho-me imparcial quanto à música que gerou esta discussão; mas a minha intenção aqui é rebater vossos discursos. Vossa luta é a luta pela imposição. O erro está em pensar na música isoladamente, em definir conceitos dominantes de arte. A luta pelo deseruditismo, pela desacademização é, sobretudo, uma luta social.
Aliás, o rock faz muito bem. Pelo menos pra mim.

Cito como referências Charles Darwin, Friedrich Nietzsche, Karl Marx, Jean Paul Sartre, Raoul Vaneigem e Carlos Rodrigues Brandão.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Narrativa, filosofia de bordel e poesia sobre ansiedade.

Eram quinze rapazes e moças muito bem apresentáveis, mas começar um conto, uma prosa ou qualquer outra coisa assim é perda total de tempo. Tudo agora é uma perda de tempo. Perder tempo, sobretudo. Não há maior perda de tempo do que a perda de tempo. Esqueçamos a filosofia e façamos algo mais de útil.
Eram quase quinze rapazes e moças muito bem apresentáveis. Um deles chegou até o outro lado da sala e disse a uma das moças:
-E aí? Rola?
Silêncio pseudo-quase-constrangedor. Essa minha mania de concretismos cretinos no meio de narrativas já quase me fez perder um frango assado. Felizmente eu o perdi.
A moça olha para uma de suas amigas, essa com um impecável vestido cor-de-qualquer-coisa-que-excite-os-rapazes, e faz uma cara incompreensivelmente entendível.
Sua amiga hesita. Olha para o rapaz e como quem fala com a balconista de um supermercado cujo nome não começa com Z profere a seguinte expressão:
-Pega nada.
Sorrisões por parte de todos. Esse é o casamento perfeito em dois mil e noventa e sete. Me consola saber que este texto não terá a mínima importância em dois mil e noventa e sete e, se caso isso ocorrer, peço que por favor parem de dançar sobre o meu caixão, que eu não mereço. Dúvidas com verbos. Coisas que acontecem com pessoas burras.
Quê? EU me chamando de burro? Eu sou tri-inteligente. Às vezes as pessoas vêem uma certa arrogância na minha convicção. Eu sou fodão mesmo, e o mundo seria melhor se todos se considerassem fodões assim como me considero. Ativos versus passivos, e olha que bosta está a terrível antroposfera deste lixo de planeta. A evolução do homem cheira a lixo. Mas, tudo muito natural, no seu tempo etc. Sou fruto de discursos que foram sendo lapidados e atravessaram séculos e mais séculos, sendo aprimorados etc. Cabe a mim fazer bom uso deles, independente dos meus companheiros de espécie.
Ótimo quase desfecho para um texto que começa como este começou. Preciso falar agora sobre a minha ansiedade.
Acho que linhas poéticas soam melhor agora, por isso pensem em poesia, e não mais em prosa, a partir da próxima frase.

Um momento metafísico, branco e abstrato não-espacial.
Vários momentos como esse, e todos esses dedicados a contemplar o nada. O passado, que é algo desprezível. Como foi mesmo? Por que foi? Foi assim fácil mesmo ou está sendo difícil agora porque eu estou realmente condenado a não gozar plenamente para sempre?
Momentos patafisicamente perdidos, tédio, frustração escrita em folhas amareladas, em branco, em cor-de-nada.
Passeios da minha cabeça pelo antiquário. Um nada, mas um nada tão bonito e tão perfeito para mim... Como terminar algo que não começa? Foi bom enqüanto durou, não? Não interessa.
Superações que não superam nada. Esperando um dia de ruptura desse tédio relativo, esperando esse dia que não vem, e que não virá jamais, então...
Então você me ligou.
Os meus segundos viraram minutos, meus minutos viraram horas, minhas horas viraram dias, meus dias semanas, minhas semanas viraram meses, meu meses se converteram em longos anos que não passarão jamais...
Maldito fim de semana que não chega.


Que bosta de clichê. A única coisa que realmente importa são os três últimos versos.
Prometo que escreverei textos mais coerentes a partir de ontem.
Mentira.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Minha Novela apresenta: The Association salvou a minha vida!

Acho engraçado.
De verdade.
Até que ponto chega a incopetência neste país. Nem os pequenos assaltantes -pelo menos os que moram aqui no Tatuapé, mais precisamente no subdistrito Cidade Mãe do Céu- 'tão conseguindo manter seu negócio mais.
Há poucas horas "sofri" mais uma pseudo tentativa de assalto. 'Takioparíl.
Pseudo sim, porque tenho até vergonha de chamar aquilo de tentativa. Se eu soubesse que era assim, tão engraçado, já tinha deixado de temer esse tipo de coisa.
Ano passado (caso um) foi uma tentativa quase bem sucedida. Quase bem sucedida porque os pivetes queriam um celular -que eu não tinha-, e acabaram levando um óculos piratex. Suas armas: um jornal.
É sério, levei uma jornalada. Por incrível que pareça, levei aquilo tudo numa boa, mas todas aquelas pessoas que me amam me deixaram numa paranóia tal, que dois dias depois fiz a maior merda da minha vida. Levei dois inocentes para a delegacia, os policiais lhes humilharam etc. Não acredito em arrependimento, porque acho que os eventos negativos contribuem para a superação do indivíduo; mas eu gostaria muito de ter evitado aquilo.
Ri dos pivetes.
Semestre passado (caso dois) um carinha me seguiu em volta do shopping Metrô Tatuapé, em busca do meu dinheiro. Abri minha carteira e mostrei-lhe que eu não tinha trocados, mas na verdade eu tinha uma nota de dez.
"Pô! 'Cê 'tá cheio das nota!"
O cara era um incopetente. Fazer aquilo logo no meio daquele monte de gente!?
Convenci-o de que iríamos à polícia; ele e eu, grudadinhos e andando lado a lado como estávamos. Depois de encher um monte o saco dele, ele desistiu.
"Seu Zé Povinho."
Faz uns três meses (caso três), logo quando eu comecei a ir ao curso técnico. Estava voltando pra casa à noite, umas onze horas, perto do shopping também. Dois caras, incopetentíssimos, tentaram me imobilizar enqüanto eu mexia no fone de ouvido do meu mp3 player. Perto do shopping e d'um bar aberto, na frente do guardinha que cuida dos carros. Burros. Comecei a gritar e me contorcer até me desvencilhar dos dois. Dois. E maiores que eu. Nem para me seguirem até as ruas vazias do entorno da minha casa.
Minha mãe me busca de carro até hoje.
Bom... Uma ciclovia nova que liga algumas estações da zona leste, e ajuda bastante os ciclistas (caso quatro).
Que maravilha aquilo. Segui a ciclovia um monte, e continuaria seguindo se não aparecesse um idiota. Na verdade eu continuei seguindo. Ele também estava de bike. Parou e ficou me olhando enqüanto eu seguia. Ué! Segui. Cantando "...along comes babyyyyyyyyyy", um verso da música que tem o mesmo nome, do The Association. Barulho de bike amplificado.
O sujeito apareceu do meu lado, e começamos a andar lado a lado, sobre a bike, na mesma velocidade. Eu pensei; "será que ele quer apostar corrida comigo?"
Ele começou a ziguezaguear; "será que ele quer brincar?"
Tirei o fone de ouvido de um dos ouvidos. Ele falou "'tá co'o celular?"
Uáááááááááááá!! Fi-lo comer poeira. Quero ver agora quem é que vai falar que eu gastei dinheiro demais em bicicleta.
E olha que ele era mais magro e mais alto que eu.
Enfim, segui até certa altura da ciclovia e voltei, vendo que ele não estava mais atrás de mim. Pensei que ele tivesse voltado para o local onde primeiro nos vimos, afinal, tinha um ponto cheio de pessoas ali perto, e ele não marcaria bobeira.
Incopetente; marcou.
Comecei a voltar na outra direção e o filho da puta 'tava lá, indo na minha direção.
Burro; justo na parte mais larga da ciclovia.
Zigue-zague na grama, na calçada, na ciclovia.
Despistei o idiota, inda comecei a rir de tanto gozo e Jamiroquai.
Corri que nem... que nem algo que corre bem rápido.
Parei no Parque Sampaio pra tomar uma água, quando cheguei ao Metrô Carrão.
Depois segui até o Metrô Tatuapé, de novo pela ciclovia, e quando olho pra trás, lá estava o carinha.
Subi na passarela do metrô, e de lá não vi mais ninguém.
Incopetente.
Eu devo ter as manhas pra emputecer os caras que tentam me assaltar pois eu me acabo de rir da cara deles (exceto dos do caso três, que realmente me assustaram). Mas sou mais fã deles do que dos caras que os botam nessa situação. O babaca mais rico do Brasil, que todo mundo que lê a Veja aplaude, por exemplo. Alguém vai falar "você nunca foi assaltado de verdade". Raiva eu tenho. Mas eu também tenho cérebro.
Indo pra casa passei pelo Augusto, que me disse "Sinta-se capaz".

domingo, 16 de novembro de 2008

1ª Imagem Digna de Aparição no HN


terça-feira, 11 de novembro de 2008

Ruptura.

Nada de relatividade.
Nada de anti-tédio.
Estamos na era da falta de imaginação.
Na era do gozar vazio.
O gozar vadio, o gozar no rio.
(espaço para poesia concretina)
POESIA CONCRETINA
QUÃO CRETINA ÉS?
(gostaria que os dois versos supracitados fossem de minha autoria)
Simulacro, fleumático, e palavras que ninguém entende.
Só eu, e a minha boca recém-encerada, magnificamente desvirginada ao pôr do nada.
Ao pôr do nada.
Uma bactéria congênita, hospedada no fundo das minhas entranhas, esperando a hora certa para explodir, causando um Big Bang, flores e chumbo.
Sou eu durante essas horas de angústia existencial, e que bela angústia.
Angústia do reconhecimento.
Angústia do conhecer-me como ser normal que me sou.
Vestido, maltrapilho ou maltratado, allegro ma non troppo, vivo e morto de pseudo-anti-reacionarismo-de-adolescente-passando-por-fase-de-afirmação.
VAMOS AO PSICANALISTA!!
E as pessoas da sala de jantar?
São sempre as mesmas, esperando o dia em que irão pro (fim do -- findo) céu.
Eu já estou nas nuvens e só uma bela pancada me tiraria daqui.
Não existe poder, sou igual a você e utopias à parte, o que me parte é esse raio de nada-singelo, esse raio de nada-terrível, esse raio de quase-nada-vulgar.
Pervertor, distorcedor, subvertor.
Oh! Lua linda
Não fique nua
Teu brilho finda
No fim da rua.
Sou humano, e sei de mim.

domingo, 2 de novembro de 2008

A Máquina Social

co-autoria; Érick Soubihe.

Todos os indivíduos têm potencial para administrarem a si próprios, desde que as suas faculdades mentais o permitam, ou seja, desde que não estejam clinicamente comprometidas. Hoje em dia as pessoas estão sujeitas à sobrevivência, pois existe um dispositivo de poder centralizado que as induz a isso. Tal dispositivo é responsável por coagir, alienar e iludir os indivíduos quanto à validade do poder.

As pessoas condicionadas a sobrevivência, são pessoas que "vivem por apenas viver". Por mais que tenham objetivos a serem alcançados, acabam vazias e frustradas. O conteúdo dos objetivos em questão, se analisados de um ponto de vista social, são vazios, superficiais e extremamente falsos. Há o dispositivo de poder, formado por um conjunto de regras e de agentes que executam-nas. Esse dispositivo induz os indivíduos a sobreviverem (no sentido apresentado), já que é conveniente os organizadores dele; manipular fantoches, evitando que eles se revoltem, vigiando-os e punindo-os.

O indivíduo é fruto da convivência deste com o meio em que está, e absorve dos demais os discursos que farão dele um individuo. Tais discursos englobam diversos conhecimentos adquiridos que vão desde o aprender a falar até a estrutura do caráter do indivíduo. Sendo assim o indivíduo fruto de seu meio, ele tem potencial para administrar a si mesmo, mas a sua autonomia depende da reflexão que ele faz em relação aos discursos por ele absorvidos.

Os indivíduos estão condenados a morrer de tédio. Esse é o efeito colateral e também o ponto imprescindível desta máquina social; a hierarquização social cria o tédio, mas o tédio também é o pressuposto para a hierarquização social. A mobilidade social, e também a falta desta, assim como o dispositivo de poder, não passa de uma ilusão, mas o tédio está longe de ser uma ilusão. O tédio é o inimigo e o antônimo da realização pessoal; a sobrevivência pura e vazia; é a morbidez que guia os indivíduos na máquina social, e que mantém neles o espírito vazio.

Deixa-se de viver autenticamente em prol da manutenção de um dispositivo de poder. O condicionamento coage o indivíduo a escolher a máscara que melhor lhe serve, indo à vitrine que está ao seu alcance. Supre-se um papel específico e perde-se em vida. Os papéis fazem parte da organização social. Todavia, na nossa sociedade atual, eles assumem o caráter de puros agentes da segregação. O papel é o símbolo que determina a posição de alguém numa sociedade. É como uma fantasia, que serve ou não em um contexto específico, e sua mutabilidade é definida por meio do sistema de hierarquização social proposto pelo dispositivo central de poder. Vive-se ou conquista-se a permissão de se navegar em um afluente, quando na verdade tais afluentes não passam de uma ilusão. Fisicamente, o que existe é um oceano, pleno, infinito, e sedento por desbravadores.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O Espetáculo.

"Nosso tempo, sem dúvida prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser. O que é sagrado para ele, não passa de ilusão, pois a verdade está no profano. Ou seja, à medida que decresce a verdade a ilusão aumenta, e o sagrado cresce a seus olhos de forma que o cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sagrado."
Feuerbach

"Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção se anuncia como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente vivido se esvai na fumaça da representação."
Debord

"Tenho pouca vontade de escolher entre o prazer duvidoso de ser mistificado e o tédio de contemplar uma realidade que não me diz respeito."
Vaneigem


Escândalo. A bancada inteira do Acessa São Paulo discute sobre esse último caso da moda, depois da terrível filhadaputice cometida pelo casal (assassino_assassinado) Nardoni.
A(s) coitada(s) vai(ão) se revirar no(s) seu(s) túmulo(s) até os organizadores da grande mídia enjoarem de tratar dela(s).
Mata, mata! Tem que linchar. Aplaudir "Tropa de Elite" pode, porque é de mentira. Mas aplaudir o silêncio discreto que o BOPE deu em Sandro Barbosa do Nascimento é bem mais gostoso.
Vitória. "Não pode atirar, senão Deus castiga", diz Roberto Marinho em pânico.
Nunca acontece; nem no cinema.
Também, com aquelas malditas campanhas midiáticas pró-pseudo-paz, é de se esperar que os cemitérios lotem.
Quero ver só! A Isabella já virou nada senão meia dúzia de gramas virtuais esquecidos no arquivo global. Que mané Isabella! A moda agora é falar sobre a Eloá e a Naiara. O pai dela, bandido em Alagoas? A menina pediu dois milhões de indenização? Bem mais emocionante.

Quem foi Geisa, quem foi Suzane von Richthofen, Carandiru sempre foi nome de tribo indígena.
Adoro aquela minha piada sobre os souvenirs da Isabella.
"Está para ser criada, pois, a Isabellamania (uma peculiar equivalência à Beatlemania, da década de 60s), um típico movimento brasileiro -nada que não possa ser esquecido na liquidez da nossa memória. Trata-se de uma estratégia de marketing responsável pela venda de uma infinidade de produtos, utilizando a imagem de Isabella, cedida (ou defenestrada) pelos seus pais, com um certo apelo emocional e piedoso implícitos, claro.
Com um certo tempo, um novo estilo-de-vida estará à venda, transformando Isabella na única superstar póstuma da história;
para as crianças, cadernos e lancheiras com a clássica imagem de Isabella sorridente; para as donas de casa, portas-retrato que já venham com uma foto da menina; e, finalmente, para os idosos, fraldas geriátricas Isabella, óbvio -e com o máximo de absorção."
Passividade! Triste é pensar na atualidade de textos que já têm quarenta anos de idade. Triste é pensar que o clássico, no fundo e na prática, exerce apenas a função de ser, clássico hasta la sepultura, existindo por existir.

domingo, 19 de outubro de 2008

Estória cruel com início fofo, fim fofo, um dono sedentário, um cachorro sem nome e uma garrafa de Coca-Cola.

(Ficou ruim, mas posto mem'assim)

Era uma vez um cachorro.
Ele era dócil, obediente e quase pretensioso.
Ele só tinha um desejo, um desejo tão simples que, aos nossos olhos, pode parecer o mais tolo dos fetiches já existentes.
Desde que nasceu, o cachorro morou sempre com o mesmo dono; presenciou as principais passagens de sua vida, assim como o dono passou alguns de seus momentos mais importantes ao lado de seu cachorro, numa relação recíproca de amor e fraternidade.
Porém, existia uma terceira fonte de felicidade, praticamente inesgotável naquela casa, e desde cedo o cachorro percebeu o quão importante aquela fonte era, da qual ele jamais havia bebido, mas que seu dono julgava impossível viver sem.
Enfim, em um belo dia, aos 32 anos, o dono do cachorro faleceu silenciosamente no sofá.
Depois de um dia clamando para que seu dono acordasse, o cachorro percebeu que não haveria mais volta.
Então, aproveitando o momento terrívelmente propício, foi até a cozinha e Oh! Ali estavam elas, esperando por ele.
O cachorro se aproximou das garrafas.
Deu uma patada.
Deu duas.
Três, quatro.
Depois de um certo tempo, o cachorro já se sentia familiarizado com a morfologia daqueles objetos.
Como previsto, a sede, a vontade, a curiosidade de provar aquela bebida que tanto aprazia o seu recém-falecido dono foi aumentando, crescendo ao ponto de fazer com que o cachorro lutasse até o limite de suas forças para provar daquele néctar, agora à sua disposição.
O cachorro lutou, estapeou, cabeceou, escoiceou, esfocinhou...
Enfim, cansado, estressado e ensangüentado, o cachorro tomba.
Mas seu esforço não foi em vão: uma gota do líquido vermelho jorra da garrafa plástica e, milagrosamente, alcança as papilas gustativas presentes na língua do animal.
Agora ele já era feliz, podia morrer em paz, junto com o seu dono.
Fim.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Inclusão Digital para fins escatológicos.

Incrível; trocentos PCs num mesmo andar.
Oportunidades de estágio, informação e material de encher quantidades invisíveis de papel físico.
MSN iletrado, analfabetismo virtual, xadrez, letrocas, zumbis negros morrendo e pesquisas bem-sucedidas sobre personagens de desenhos animados.
Fim!

sábado, 13 de setembro de 2008

Comentário sobre o problema das doenças endêmicas e epidêmicas e das guerras civis na África

O professor esqueceu de recolher o trabalho. Contudo, achei demasiado interessante esta redação para condená-la ao esquecimento no meu caderno. Por isso condeno-a ao esquecimento no meu blogue.
Alguns trechos revisitados.


Um dos grandes problemas do continente africano atuais (senão o grande problema), é a seqüela trazida a este pelo imperialismo (europeu ou estadunidense). Com a desculpa do progresso e com a necessidade de manutenção da economia, os países europeus no final do século XIX decidiram que seria melhor partilhar (da forma mais justa possível para o partilhador), simplesmente, a África -poucos séculos depois de decidirem que seria melhor escravizar a população, e importá-la.
Partilha feita, os colonizadores optaram por colonizar o continente visando a exploração dos meios naturais das regiões (como na América, e também em busca do progresso). Desde então o continente e sua população nativa foram explorados até abastecer e satisfazer totalmente o ego e os fetiches da comunidade européia, já na metade do século passado.
Consigo, o imperialismo trouxe tantos outros problemas, como a fome e a alta mortalidade causadas pela miséria, a dependência política e tecnológica causadas pelo atraso na educação, e sérios confrontos políticos internos, causados pela má partilha do continente, que uniu etnias inimigas e acelerou o processo de extinção de numerosas tribos.
O filme "O Jardineiro Fiel", direção de Fernando Meireles, traz a questão da falsa diplomacia existente nas relações entre os países europeus e africanos (em prol de um progresso imperialista e fascista camuflado, e que continua existindo), e a questão das doenças epidêmicas e endêmicas (DSTs, malária, tuberculose etc). O longa "Hotel Ruanda", direção de Terry George, põe em questão as guerras civis na África, exemplificadas pelo caso tratado no filme, hutus versus tutsis, e que dizimaram -e dizimam- milhões de vidas na história moderna da África -enqüanto os europeus cuidam de seu progresso.
O fotojornalista brasileiro Sebastião Salgado ilustra bem as duas questões; tanto em 1995, em Nyarubuye, Ruanda, quando tira fotos de cadáveres tutsis empilhados em uma escola abandonada; como quando examina a fome e a escassez de medicamentos no conflito do Sahel, em Bati, Etiópia, no ano (irônico) de 1984.
Contudo, pouco tem ajudado escancarar o problema das seqüelas do imperialismo na África (ou o que foi escancarado ainda não é o bastante e não tem tanta relevância). A mobilizacão da crítica tem que gerar a crítica da mobilização. Enqüanto o problema da África não for concretamente resolvido, não passarão de hipócritas aqueles que lucrarem com a miséria humana nela presente (por exemplo, Sebastião Salgado, Fernando Meireles, Terry George etc).
A África não precisa de intelectuais que mercantilizem (e vendam para outras elites intelectuais) seus problemas e conflitos; ela precisa de uma população ativa -e não passiva às decisões de seus países como tais elites dizem não desejar. Por enqüanto, qualquer imagem documentada sobre a miséria africana apenas afirmará a hipótese da seqüela imperialista.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Uma Peça.

De repente, se viu segurando uma panela.
Por um instante, parou de comer como um lobo faminto e selvagem.
Olhou para os lados.
Voltou a devorar a panela de picadinho de carne recém-furtada da geladeira.
Parou por mais um instante.
Mais uma vez, se viu segurando uma panela, refletido no espelho.
Ele estava enorme.
Sentou.
Bateu a panela na mesa e começou a chorar.
Uma senhora aparece na cozinha acendendo a luz.
- Meu filho, de novo isto?
- Desculpa mãe -diz o rapaz soluçando-, eu não resisti.
- Se você continuar fazendo isso, nunca mais vai arranjar um emprego decente.
- Eu até tento mãe -esperneia-, mas a pressão é muito forte.
- Desculpa, mas eu não posso mais me intrometer na sua vida.
- Mas, mãe!
É tarde demais, a senhora já cortou a própria cabeça com uma machado e está caída no chão.
O rapaz volta a chorar e, sem levantar da mesa, continua a comer o picadinho de carne.
As cortinas se fecham.
Alguém na platéia grita:
- Eu não paguei trinta e cinco reais para assistir isto! Quero meu dinheiro de volta!
Em pouco tempo, a platéia está totalmente alvoroçada e clamando por seus direitos.
- Vocês não sabem o que é teatro -gritavam alguns escandalizados.
- Eu vou entrar na justiça para receber meu dinheiro de volta -gritavam outros.
Os treze atores da peça, o diretor, o figurinista, o engenheiro de som e a dona Nice (se fala Nice), mãe de um dos atores -e que por sinal faz um cafézinho ótimo-, se trancam em um camarote apertado.
Do lado de fora, ouvem-se batidas furiosas na porta, gritos raivosos, palavras ferinas.
Eles só saem daquele cubículo apertado no dia seguinte, quando a polícia já tomara o controle da situação.
Só aí então, Narciso, filho da dona Nice (se fala Nice), notou que faltava alguém.
- O Zé! O Zé!
José Pedro Santana, vulgo Zé Peçanca, era o autor da peça.
Ninguém sabia, mas naquele momento ele estava em um trem fugindo de uns fanáticos conservadores.
Por alguma coincidência, o trem se dirigia à cidade onde a mãe dele morava.

sábado, 19 de julho de 2008

A mídia, o caso Isabella e a realidade no Brasil.

Neste exato momento, uma criança com menos de um ano acaba de morrer no Nordeste do Brasil. Até que essa criança de, suponhamos, quinze meses (contando com a gestação), viveu um tempo razoável, se sua expectativa de vida for comparada à expectativa de vida da formiga, ou de um espermatozóide não fecundado. De mil crianças nascidas ontem, pelo menos dezessete morrerão em menos de uma semana. 3% das crianças nascidas no Nordeste, entre mil, morrerá antes de completar um ano, a maior parte de fome ou de doenças que já têm cura, ou que já estão em controle nas grandes cidades do Sudeste do Brasil, por exemplo.
Há mais de duas semanas, uma menina da classe média de São Paulo foi asfixiada e defenestrada de forma horrorosa pelo pai e pela madastra. Desde o dia seguinte à tragédia até o dia em que os pais prestaram seus principais depoimentos, várias crianças nasceram no Brasil. 2,2% delas morrerá antes de completarem um ano. A porcentagem de crianças mortas por asfixia e defenestração, constituem uma parcela ínfima das estatísticas sobre mortalidade infantil no Brasil, se comparada a outros tipos de violência e casualidades, como sufocamentos, afogamentos, atropelamentos e quedas não-premeditadas.
Contudo, foi um prazer enorme para a mídia acompanhar passo a passo (e opinar sobre) todo o caso Isabella (in memoriam). Depois que o que aconteceu foi exposto pelos meios de comunicação em massa, não houve uma pessoa que não julgou os pais de Isabella, ou que não se sensibilizou com o seu rostinho carismático, que, pelo andar da carruagem, logo logo começará a ser vendido junto dos mais variados souvenirs, tamanhas foram a audiência e a rentabilidade alcançadas.
Está para ser criada, pois, a Isabellamania (uma peculiar equivalência à Beatlemania, da década de 60s), um típico movimento brasileiro -nada que não possa ser esquecido na liquidez da nossa memória. Trata-se de uma estratégia de marketing responsável pela venda de uma infinidade de produtos, utilizando a imagem de Isabella, cedida (ou defenestrada) pelos seus pais, com um certo apelo emocional e piedoso implícitos, claro.
Com um certo tempo, um novo estilo-de-vida estará à venda, transformando Isabella na única superstar póstuma da história; para as crianças, cadernos e lancheiras com a clássica imagem de Isabella sorridente; para as donas de casa, porta-retratos que já venham com uma foto da menina; e, finalmente, para os idosos, fraldas geriátricas Isabella, óbvio -e com o máximo de absorção.
E quem se importa de 4,1% das crianças no Nordeste morrem antes de completar cinco anos? E como se fazer importar, quando, no mesmo noticiário, estatísticas sobre mortalidade infantil recebem menos importância que o caso Isabella? Isso tudo só ajuda a formar uma população conformada com os problemas sociais (e um tanto inconformada com a perversidade humana). O que falta é relacionar a perversidade humana aos problemas sociais que assolam o país, como a fome e a miséria. Em um país onde a tecnologia ascende cada vez mais, é inconcebível que uma criança possa morrer de fome. À medida que há uma omissão dos deveres e responsabilidades do Estado em determinada região ou sobre determinado grupo da população, um crime foi cometido: a violação aos direitos humanos comuns a qualquer cidadão do mundo.
Assim como houve uma violação em relação aos direitos da cidadã Isabella, milhares de outros cidadãos-mirins têm seus direitos violados a casa dia. E, certamente, não será aumentando a importância de uma violação, e menosprezando todas as outras, que construiremos um mundo melhor, onde nossos filhos tenham garantia de uma vida digna, estável e segura, e sem nenhum idiota para jogá-los da janela.
A mídia, como meio vital de difusão de informações na nossa sociedade, tem como obrigação respeitar as individualidades de cada um, mostrar tudo aquilo que tem relevância para a nossa sociedade com importância verdadeiramente proporcional, e manter-se imparcial. Em todos os sentidos, a mídia falhou, a cobrir com um certo exagero o caso Isabella.
E quem vai mostrar aquilo que realmente importa para os brasileiros? E a guerra contra o Iraque, que ainda não acabou? E as CPIs, e os escândalos políticos e financeiros que movimentaram para contas pessoais mais dinheiro público que a corrupção no governo Collor? E a Amazônia, cada vez mais vítima da ganância dos pecuaristas, madeireiros e produtores de soja? É mais cômodo fazer o povo chorar por Isabella do que pô-lo a par de nossa situação política e econômica atual.
Caberá a quem inverter essa situação de alienação da população? Certamente não será Isabella quem o fará.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Texto ou Hipótese sobre o fim do mundo (Capítulo Oito) -FIM!!!!

Não tinha mais Rua Turva, mas dessa vez o Rio Entreparedes era o encarregado de transferir informações apagáveis até o país de Marvildo. Percebendo a estratégia maléfica, os governantes de Hermética mandaram asfaltar o Rio Entreparedes, que ganhou o nome de Cidade Rio Parado, embora não houvesse mais rio.
Os governantes de Marvildo ficaram tão bravos que lançaram todas as suas bombas atômicas em Hermética, mas acabaram destruindo o mundo.
Felizmente, sobrou o autor do texto.

Texto ou Hipótese sobre o fim do mundo (Capítulo Sete)

O autor não sente mais prazer em contar a história de Malmequer de Sul.
Agora, ele contará a história de Malmequer do Soul, que era a cidade que ficava ao Norte, e que jamais foi alagada por mais de quinze copos de cerveja azul, porque ela não existe.
Então um dia se ouviu um barulho estrondoso vindo do Sul.
Os cidadãos de Malmequer do Soul não sabiam, mas justo naquele momento, um vendedor de lâmpadas, um prefeito e uma Beatriz morriam afogados. Agora, Malmequer do Soul e Hormissia estavam separados por um grande rio, que mais tarde seria chamado de Rio Entreparedes. Isso fez com que as relações entre Malmequer do Soul e Hormissia fossem cortadas, já que Hermética era um país muito pobre e não dispunha de fundos para solucionar o problema da comunicação, só para comprar toneladas de cimento.
Mibo estava preparando um pudim para Mibinha, durante o momento da explosão. Infelizmente, o pudim e a Mibinha desandaram, e Mibo morreu de tédio. Melhor pra ele.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Texto ou Hipótese sobre o fim do mundo (Capítulo Seis)

Maria sabe de uma coisa que os demais não sabem, nem Beatriz.
Mas eu também não sei, então não posso contar.

Texto ou Hipótese sobre o fim do mundo (Capítulo Cinco)

Ah! As abelhas.
Animais estúpidos, mas todos as amam.
Aliás, isso é mentira, posto que se todos as amassem, não as explorariam da maneira que o fazem, roubando todo o seu mel -e falo sério!
Pois chegou o dia aos moradores de Malmequer do Sul; a maldição das abelhas malignas em ação! Infelizmente, a tsunami foi mais ágil.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Texto ou Hipótese sobre o fim do mundo (Capítulo Quatro) -100ª Postagem!!!!

Beatriz era uma garota estranha.
Desde cedo tinha o dom de matar pessoas acidentalmente, mas a história dela é um tanto sem-graça, se comparada à história de Marisa.
Maria nasceu no mesmo momento em que seu país, Hermética, saía de uma Ditadura Militar, e entrava em outra, cujo nome se ignora. Tendo nascido da colisão de um cometa com quinze quilos de algodão (que equivalem a quinze quilos de muçarela de búfala), Maria não teve pai até os três anos de idade, quando foi entregue por um carteiro muito safado, que tinha pés mais hipnóticos que os pés do nosso amigo prefeito, a um padeiro. Este cuidou muito bem de Marisa até o dia no qual se matou, entupindo seu reto com restos de pão.
Pois o dom de Maria era mais simples que o de Beatriz. Marisa podia beijar as estrelas. Aliás, ela o descobriu no mesmo dia em que o pai padeiro entupiu o rabo de pão, mas isso já é outra história.
Essa outra história é a seguinte. Acidentalmente, Beatriz disse as palavras mais tristes àquela noite, e o padeiro, pai de Marisa na época, resolveu que seria melhor se matar, antes que fosse pego de surpresa por uma abelha.

domingo, 22 de junho de 2008

Texto ou Hipótese sobre o fim do mundo (Capítulo Três)

Recusando as ajudas ditas terapêuticas pelo prefeito (abuso de eqüinos e garrafas de vinho), Príncipe foi se consultar com o vendedor de lâmpadas, que também era mestre em cartomancia, e que não merece descrição pela sua atividade vulgar, de vender objetos que brilham.
- Pois eu sei dessa história.
- É mesmo, senhor vendedor de lâmpadas?
- Sim, sério. Não viu a mãe-de-santo? Ficarás louco em certo tempo, e depois serás engolido pela sua barriga.
Quinze anos depois, Príncipe é seguido por uma abelha até a loja de lâmpadas, e é engolido pelo seu próprio estômago, morrendo aos 471 anos, e seu bigode aos 427.
Cinco anos depois disso, Malmequer do Sul foi inundada por uma bebida etílica de cor um tanto azulada, e que não existe, e o prefeito, o vendedor de lâmpadas e a Beatriz morreram.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Texto ou Hipótese sobre o fim do mundo (Capítulo Dois)

Príncipe era o penteeiro mais famoso da Rua Turva, e assim que soube do sumiço de nossa querida mãe-de-santo, tomou duas garrafas de ayahuasca e foi se encontrar com o prefeito. Ao chegar na casa deste, que era vizinho de nossa quase-finada e finda mãe-de-santo, tomou um susto, que lhe fez pular até amarrar o gato. Uma abelha lhe disse ao pé do ouvido que durante quinze anos quadrados lhe faria perder o juízo.
Mas onde estava o maldito prefeito? No banheiro.
- Senhor prefeito, como faz o senhor para não trancar as portas em dias de ser morto e vivo na Hormissia?
- Não me fale em Hormissia, penteeiro. - disse o prefeito, que saía do banheiro com dois quilos de arroz sob os braços, em sacolas de algodão. - Não estou mais lá. Que vieste fazer aqui, biltre?
- Não me trate assim, prefeito. Aquela moça cujo nome o autor não se recorda, está morta.
- Não me diga.
O prefeito tinha dezessete anos de idade. Desejado sexualmente por toda a elite de Hormissia, cidade vizinha a Malmequer do Sul, o prefeito foi eleito porque sabia estar em quarenta e sete lugares ao mesmo tempo. Era magro, alto e tinha o defeito de ser muito burro, com cabelos quase lisos e cortados na moda mais tosca apresentada no último noticiário da TV, pés estranhos e hipnóticos, sempre à vista, pois vestia apenas uma sunga azul (podia ser verde) e túnicas roxas-claras ou invisíveis.
Quanto ao penteeiro, pense em um engenheiro de trânsito vestido de hippie, mas quase sem cores, meio pastel ou cáqui, um tanto baixo, quase pardo e a barba eternamente a fazer, mas não era grande. As mulheres de Malmequer do Sul o achavam um tanto charmoso pela barriga rígida, vermelha e nem tão grande que ganhara em seus 456 anos de idade. Seu bigode tinha 412 anos de idade, mas Príncipe era homossexual.
- Qual foi o relato do vendedor de lâmpadas? - perguntou o prefeito, cheio de curiosidade e vontade extrema e obscena de abusar sexualmente do último eqüino que chegara.
- Deu-se que a moça foi vista ao lado de uma abelha, e depois foi sugada pela própria barriga.
- Isso é estranho, penteeiro. Uma vez, eu estava navegando ali fora, e uma sereia me disse que seria capaz das abelhas deixarem os estômagos cheios de fome até o final desta década, que está para terminar. Pois isto tudo que me relatara faz o sentido completo. Ei, eu encomendei uns vinhos novos, posso ir tomar banho agora? Isto é, você não gostaria que eu resolvesse esse impasse sem umas belas taças de vinho e de pelo menos três horas no ofurô, certo?
Não há resposta.
- Penteeiro maldito! - berra o prefeito.
- Oh! Perdão, mas seus pés são um tanto hipnóticos.
- Saia de minha casa, preciso cuidar do caso.
- Caso?
- Oh! Biltre, maníaco - berrava o prefeito a empurrar Príncipe.
- Prefeito.
- Sim?
- Uma abelha veio me falar hoje.
Susto. O prefeito então vai até o criado-mudo, pega uma caderneta de anotações e uma caneta sem tinta, e volta rapidamente para onde estava, e então com uma certa vontade de ter pressa, e um tanto ingenuamente preocupado, pergunta ao penteeiro:
- Que horas são?

domingo, 25 de maio de 2008

Texto ou Hipótese sobre o fim do mundo (Capítulo Um)

Um dia Marisa notou que faltava uma lâmpada em sua casa. Ela então pôs-se a rezar pensando que dessa maneira não precisaria se deslocar até a loja de lâmpadas mais próxima. "Nunca dá certo", pensa Maria. Gostaria de alertar os meus leitores de que às vezes eu cofundo o nome de nossa mãe-de-santo mais esperta. Pondo fim à dúvida de dez segundos atrás, Marisa sai de sua casa na Rua Turva e dirige-se à loja de lâmpadas mais próxima. Maria se vê seguida por uma abelha.
A abelha apareceu há quinze anos, mas nunca seguiu Marisa até o fim do caminho. "Como vou entrar aqui com esta abelha do lado?", pensou Maria, que, dois segundos depois foi sugada por um buraco que se abriu em seu próprio estômago.
Marisa morre.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Uma história de maus costumes!

O garoto arrota em público.
Um senhor que estava passando, indignado berra:
-Não eructe!
A mãe não entende.
O garoto também não.
O velho chega em casa e reza mais uma Ave Maria.

Texto chato.

Alguns meses.
A mesma coisa.
Continuo o chato de sempre, com algumas oportunidades a mais, outras a menos, pouco livre, bem obrigado, paramímico, um tanto mandrião talvez (a Química não sorri mais pra mim).
Entrei num lance na COMGÁS, liguei pr'um número retirado dum cartaz ("E AÍ, HUMANIDADE!?", tem um monte aqui no meu bairro).
Comprarei uma bicicleta.
Escrevo no meu caderno todos os dias; o MOLESKINE Reporter que meu pai me deu, e ele voltará mês que vem d'um navio aí.
Continuo não-rico, o Brasil tem mais milionários, o Bill Gates já não é há meses o mais filho da puta atual da história.
Aliás, nem sei mais quem o é, depois que Walt Disney, Henry Ford e Roberto Marinho morreram.
Oh!, o BBB acabou, e eu estou tão triste por isso...
Ainda quero pendurar revistas CARAS, os meus amigos humanistas são mais pacíficos e querem fazer o que ninguém jamais conseguiu -ou conseguiu por um momento.
O Kassab ainda é um eqüino para mim.
Estive pensando em Biblioteconomia, ao invés de Jornalismo; menos candidatos/vaga e mais oportunidades de trabalho; tema que demais me apraz.
Ari Almeida está vivo: procurem por ele!
Nenhum companheiro, nenhuma companheira, paraninfo, ninfa.
Vou pr'outro lugar, ou talvez eu vá.
Sei lá.
Que morram de proctite todos, exceto Natalino e eu.
Estou em êxtase!
Acabo de saber o nome de quem acabou de ganhar o BBB.
E eu continuo o chato de sempre, com algumas oportunidades a mais, outras a menos, pouco livre, bem obrigado, paramímico, um tanto mandrião talvez (a Química não sorri mais pra mim).
Mas que texto chato.
Podem ignorá-lo.

Blogue em crise?

Nem sei mais que escrever aqui.
O meu diário (vocês precisam ver o meu MOLESKINE Reporter), como terapia, tem substituído isto aqui.
Tipo, qualquer crítica à sociedade de controle/consumo, qualquer crítica referente à situação musical atual ou sobre algum tabu que envolva ética e moral, qualquer crítica à dominação extra-cultural estadunidense, qualquer texto sobre passeios idiotas com amigos imbecis, qualquer redação ou poesia nonsense, qualquer declaração de amor a um livro ou conceito anarquista-ontológico, soará de alguma forma um tanto quanto repetitivo/cansativo ou não-original.
Ué, não sei mais sobre o que discorrer.
Há tempos eu havia criado este blogue com o intuito de... ter um blogue.
Okay, eu desisto.
Talvez não exista motivo pr'esse blogue existir.

"Pense naquelas pessoas que enviam filmes do tipo videocassetadas para a televisão. Ter um blog[ue] é exatamente a mesma coisa"
Ha Jee-hyun, psiquiatra coreano, comentando a onde de sites pessoais que tomou a internet. Para ele, ser humilhado no Faustão é muito parecido com manter um diário aberto para qualquer desconhecido que esteja navegando na internet.

[trecho retirado da Ocas" -n° 21]

Não, não acreditei muito nessa baboseira.
Julgo que um blogue atualmente pode assumir características além do lero-lero diário de patricinhas da classe média alta -tipo o blogue da Lia.
Eu simplesmente estou desmotivado a continuar com o blogue.
Talvez seja o fato de que a manutenção tem se mostrado de certo modo complicada.
Enfim, ninguém quer saber mais do quão tenho raiva da Igreja do Bom Parto, como eu pago de cult ou do quanto eu gosto de Stormy Six.
Se eu soubesse escrever usando de bom-humor, além da ironia, já estava de bom tamanho; mas a minha criatividade anda meio alienada.
E agora, Batman?

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Poesia nonsense para camelos ou Poesia nonsense para um camelo.

Sódio;
Irmão do ódio.

O cio não tem ócio;
Tem negócio.

Oboé não é fóssil,
Nem fácil.
É oboé, ou não é?

O pio do pinto
Piou no meu ópio.

E o camelo se despediu
Chorando.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Mais um discurso sobre hipocrisia -talvez o mais ferido.

Às vezes eu me sinto como o Gregor, personagem principal do clássico A Metamorfose, de Franz Kafka.
Sérião.
Vejam só, que agora andam me chamando de louco, dizendo que eu estou "dando uma de retardado" e até blasfemando que essas minhas idéias para "passeios de índio", como preconceituosamente chamam, são coisas do capeta!
A questão é que estou sem internet em casa há seis meses, e a internet era o meu principal meio de lazer/distração em casa -e o que geralmente acontece quando não se paga pelo serviço, é que eles o cortam.
Bom, pelo fato de não ter uma HD das mais privilegiadas, e gostando muito de música, eu me via obrigado a gravar os álbuns e demais arquivos que eu baixava, em CD-Rs, para poder baixar mais.
Dentre esses demais arquivos, estavam certos eBooks, que eu sempre desprezei, mas que me foram bem úteis ultimamente.
Bom, a questão é que havia um eBook de nome Manual Prático De Delinqüência Juvenil, o qual eu jamais havia notado.
A leitura me agradou tanto que só fui dormir somente após o término da leitura, e já quase amanhecia.
O que acontece, é que depois de ler tal eBook, e me aprofundar no universo filosófico/literário que ele propunha/descrevia, depois de comprar um exemplar de CAOS, Terrorismo Poético e outros crimes exemplares, Hakim Bey, enfim, depois de baixar um monte de eBooks do mesmo assunto na casa da Letícia, mudei várias concepções que eu considerava inalienáveis e absolutas, e re-revi muitos conceitos.
Está muito certo, que a minha mudança de comportamento/pensamento já ocorria desde o meu ingresso no Tales de Mileto, conheci uma turma super-Gente-Fina na internet, e virei vegetariano, mas o Hakim Bey, seu Terrorismo Poético e Zona Autônoma Temporária, juntamente com o conceito de Anarquismo Ontológico, Solidarity, junto com um monte de fusões musicais incluindo Stormy Six e até Minimal Compact, incensos, Ennio Morricone a minha desKKKristianização em relação a aspectos banais, tais como vandalismo, amor molecular e assassinato e Oh!, espero não parecer confuso.
Agora a questão é: eu tento convencer os meus amigos a montar uma barraca na Praça Sílvio Romero com revistas CARAS penduradas com a inscrição Papel Higiênico ao alto, tive idéias sobre erguer muros estranhos, entrar de guarda-chuvas abertos no shopping e até quebrar a vidraça de um antro sujo uma igreja católica hipócrita no meu bairro; nenhuma das ações foram consideradas sadias por eles.
(Ir ao Shopping certamente é uma ação sadia.)
Okay, ninguém é cidadão, refletir é perguntar "por que as flores murcham?" e nada pode ser feito.
(Pode sim.)
Eu só não acho justo que existam pessoas assinando revistas como a CARAS, e crianças passando fome nas ruas, se alimentando do SEU lixo e, Oh!, o fingimento de que está tudo bem...
Esqueçam a TV, esqueçam a pastoral da criança (o HSBC um dia será derrubado como o governo estadunidense derrubou o WTC)...
Esqueçam o disco do Paul Simon...
O casal que deu um golpe ínfimo vendendo a vacina da febre amarela e que foi preso, é mil vezes menos digno de asco do que o casal que engana seus fiéis e que ainda lucram na TV, lá de Miami, o apóstolo e a bispa.
Pro inferno.
E nem me importo se foder-se-ão um dia, ou se vão arder no mármore do céu após a festa morte, a morte deles.
Eu me importo é com quem não tem idéia de tudo isso, da dominação, quem é chutado dos Shoppings Centers como um inseto, eu prezo o inseto, eu sou Gregor.
Leiam Kafka.

Tabus.

Sinceramente, eu não entendo qual é o problema da clonagem humana.
Pelo contrário, ao que parece, os estudos com células-tronco, que teriam originado um clone em um centro de pesquisa qualquer aí (perdoem a minha ignorância voluntária), parecem totalmente benéficos e importantes para a evolução da medicina.
Qual é o grilo, lá do Vaticano?
Eu não entendo.
Esses tabus todos me parecem algo tão... Idade Média, não que eu queira desqualificá-la, afinal, ela foi importante para história como qualquer outra.
Porém, já aconteceram e foram devidamente registrados, a Revolução Francesa, o Iluminismo... somos esclarecidos, certo?
Não.
Vamos falar sobre o aborto.
Realmente, é um crime medonho.
Quereis acabar com ele?
Proibireis, pois, a masturbação.
A cada minuto (eu não sei bem ao certo o ritmo), milhões de possíveis vidas são cruelmente desperdiçadas.
E tudo isso acontece porque o pecado do prazer momentâneo, essa perversão milenar que desencaminha e leva a cabeça frágil e ingênua dos nossos jovens para as mais terríveis trevas do espírito, não é proibido.
Em países sérios e esclarecidos da Ásia, por exemplo, onde a masturbação é um procedimento ilegal, as punições são severas, como a decapitação do criminoso em questão.
Minha opnião?
Acredito já ter alcançado meu êxito neste texto.
Passem bem.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Será que o papa também acha isso? ou Vocês queriam texto, agora deliciem-se -ou sodomizem-se.

Vocês viram essa?
Querem estudar os cérebros de uns moleques da FEBEM.
O intuito da pesquisa é provar que os criminosos têm predisposição à violência desde que nascem.
Eu, sinceramente, não acredito nesta causa.
Aliás, qual seria a diferença entre estudar o cérebro de um policial, um general ou um batedor de carteiras qualquer?
Na minha opnião, e na opnião de um grupo de advogados e sociólogos que assinaram um manifesto contra a pesquisa, esse tipo de estudo contribui ainda mais para a segregação de raças/classes.
Existe um argumento, e eu ainda não me decidi sobre ele, o qual diz que é indigno fazer tais testes com seres humanos, como se fossem cobaias.
Oras, a pesquisa é indolor.
Mas... Por que não o cérebro de um maníaco, um corrupto ou um policial, hein!?
Oh!, estou vaticinando: pessoas mirando para jovens segurando sub-metralhadoras e usando drogas, tudo à vista, nos morros cariocas, e dizendo que "Oh!, pobrezinhos, eles têm predisposição ao crime organizado".
Pois é, esses pobrezinhos com predisposição ao crime organizado, de uma forma ou de outra, têm de ser punidos detidos, afinal, a polícia tem o privilégio dever de matar bani-los da sociedade, e a polícia não tem predisposição alguma ao crime organizado.
Na escola, tentam nos dizer que os nossos antepassados se alimentavam de animais que caçavam, brigavam, massacravam outros grupos, cercavam mamutes e o amor era livre.
É justo dizer que um tinha mais predisposição à necrofilia, à fidelidade ou à caça do que outro, apenas por uma questão genética/hereditária, sendo que tais atos eram hábitos comuns na Idade da Pedra?
Bom, o que mais espero é que essa minha incredulidade tenha fundamento.
Se for divulgado que realmente os criminosos tiveram seu destino traçado em suas vidas intra-ulterinas, meu queixo cairá.
Mas, tipo, lembrem-se: na Alemanha nazista, as crianças aprendiam que a sua raça era superior a todas as outras.
Ah!, sei de um exemplo mais atual: os Estados Unidos.

O Jornal Nacional.

Camões: tão distante e tão atual.
Vocês prestam atenção nos jornais televisivos?
Aqueles dois agentes-da-verdade, com aquelas caras-de-nada, aquela voz quase monofônica, aquele cenário quase-monótono.
E como eles triunfam: oh!, o futebol, oh!, a Globo descobriu mais um escândalo.
Falácia.
A Globo é um escândalo.
Quem liga?
Quem liga pros mensaleiros absolvidos, aqueles que farão trabalho comunitário?
Isso não nos diz respeito, não é mesmo?
Tiveram sorte eles, né?
Ah!, mas aquele casal merecia ser punido mesmo!
Que casal?
Aquele que cobrou pelas vacinas de febre amarela.
São pobres, mereciam...
Argh!, aquela menina... hum... erm... de cor!
Oh!, vejam só!
Cobraram pelas vacinas de febre amarela!
Mas ninguém presta atenção nisso, né?
Não nos interessa quantas crianças morrem por dia por motivos idiotas, não nos diz respeito a vida particular dos nossos políticos burgueses.
Ah!, a novela...
Ah!, o reality show...
Mas esse estilo-de-vida é para poucos.
Sorte do mensaleiro que vai ajudar as criancinhas carentes.
Sorte dele.

1984 e a Realidade.

Há uns minutos atrás, eu terminei de ler o 1984, clássico universal do escritor inglês George Orwell.
1984 e Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley.
Sensacionais.
A crítica é da metade do século passado, mas continua, de alguma forma, atual.
Ambos discorrem, mais ou menos, sobre os mesmos assuntos, e prevêm um futuro completamente sistemático e maquiavélicamente organizado.
E, durante a leitura do Orwell, quantas vezes eu pensei que a realidade por ele prevista, e descrita, estava longe da minha, e que a crítica por ele discorrida não dizia respeito à época atual...
Como eu estava enganado.
Hoje à noite, voltando de metrô de uma sessão de cinema (nada a ver com sexo ou um jovem estadunidense que salva a pátria, a pátria dele; Across The Universe era o nome do filme), percebi que já até é capaz que estejamos vivendo numa sociedade do Grande Irmão.
O preço do transporte sobe todo o ano; cada vez mais o transporte se mostra ineficiente; as pessoas continuam indiferentes, como se isso fosse algo que não as dissesse respeito, como se aperto, esperas, greves inesperadas, fosse algo de corriqueirice nas cidades de Primeiro Mundo, e que fizesse parte da contínua manutenção dos meios de transporte público.
Pois tinha muita gente esperando o trem, que não chegava nunca.
Esperaram muito tempo, muito tempo mesmo.
Quando o trem chegou, houve até quem aplaudisse.
Na semana seguinte, ninguém mais lembrará disso.
E o Orwell também fala disso.
As pessoas ficam satisfeitas em chegar em casa e não perder o Festival de Verão do Salvador ou, em outras palavras, as pernas da Ivete Sangalo, porque isso as faz crer que está tudo bem, e é isso.
Outro aspecto presente no livro, além da perda da memória diária, é completa estagnação da classe baixa em relação aos eventos políticos: é a camada mais abundante da população que, se soubesse de seu poder, poria abaixo qualquer regimentação, se isso fosse de interesse.
Nos dois clássicos supracitados, a queda do governo não é o que realmente importa; em Admirável Mundo Novo, os trabalhadores trabalham quase que hipnóticamente (Ford é considerado uma entidade divina no livro), e ao final do dia recebem um comprimido chamado soma, uma droga alucinógena, aparentemente inofensiva.
Enfim, cheguei em casa após a sessão de cinema, terminei de ler o livro e resolvi prestar atenção um pouco à televisão.
Fiquem tranqüilos, era o jornal.
Uma reportagem falando sobre um software desenvolvido pela Microsoft, direcionado a empresas, o qual prometia manter o controle dos funcionários através da medição e análise da respiração e dos batimentos cardíacos deles, além de outras coisas, as quais eu naturalmente esqueci até chegar a este ponto do texto.
Porra, não lhes ocorre que esta é a maior falta de privacidade possível?
Está bem, ainda não chegou às nossas casas.
Ué, é questão de tempo.
Há pouco tempo, a Microsoft também lançara um sistema acoplado a certos futuros televisores, capaz de prever o que o espectador deseja assistir, a partir de dados colhidos antes e durante o uso do sistema.
Conforto?
Privacidade?
Quem não vê semelhança entre o software para chefes completamente sistemáticos e controladores, descrito há sete parágrafos, e uma teletela, não enxerga um palmo à frente do rosto.
Agora, quem não vê semelhança alguma entre o reality show Big Brother e o livro de Orwell, eu respeito.


Quinta-feira, 17 de janeiro de 2008.
Talvez seja importante ressaltar que é 01:44.
Talvez não.

Só faltava eu discursar sobre o Big Brother.

Eu podia escrever muitas linhas argumentando o porquê do meu ódio mortal pelo Big Brother, mas adiantava?
As pessoas não leriam e continuariam a dar audiência pra Globo.
E as pessoas sabem que aquilo é uma distorção tremenda, não só de 1984 do George Orwell, mas da realidade.
De doze participantes (?), apenas dois são negros; 70% da população brasileira é de pardos e negros.
Ah!, podem esquecer.
Eu já escrevi que a minha argumentação de nada vai valer.

Crise ou Sem Título Concreto.

No final do ano passado, eu estava caçando alguns livros para levar para a minha viagem de férias.
Então, dei-me de cara com um livro que eu havia comprado no final do ano retrasado, um livro quadrado e quase-grosso, brochura, uma coletânea de revistas.
"PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA NACIONAL", "DEFESA DA CULTURA NACIONAL" e "2", eram as frases que constavam na capa do livro que eu comprara apenas a dois reais, em um sebo.
O livro é dividido em sete partes (Folclore, Humor, Televisão, Teatro, Música, Artes Plásticas e Literatura) e todas as partes tem sempre a mesma formação: um ou dois textos expondo características de certo ramo artístico, correntes culturais, história e decadência de um movimento ou a biografia de uma personalidade importante para o desenvolvimento cultural do país; e depois dos textos, uma crítica.
O principal foco destas críticas, era uma crise de identidade cultural ocorrida graças à difusão em massa da cultura e estilo-de-vida estadunidenses e... o que mais me assusta nisto tudo, é que este livro é de 1983.

Feliz Ano Novo ou Da Minha Permanente Falta De Imaginação.

Durante umas duas semanas, eu sumi.
Andei perambulando por aí fazendo sei lá o quê.
Só sei que, hoje, eu já ando de bicicleta e sei imitar uma gaivota.
Ah, antes que eu esqueça, feliz ano novo aí pr'ocÊis.
E, realmente, não faço a mínima idéia de qual será o assunto do primeiro post de 2008.
Estou em dúvida se comento sobre Douglas Adams, se falo das minhas férias, se falo sobre a Bruna, se faço um mais um texto de teor político ou cultural, se escrevo uma poesia com paixão/coração/ilusão/desilusão/avião/solução ou se simplesmente esqueço isso tudo e termino o post por aqui.
Se vocês chegaram até esta linha, é porque eu batalhei.