domingo, 27 de dezembro de 2009

os quatro segundos que me provaram
que é fato: o mundo é um troço insano.
que eu não sei lidar com isso que me deram
-eu quero livrar-me de entrar pelo cano.

eu quero sair já desta paranoia,
e se eu não fugir depressa e correndo
eu vou é morrer, me matar joia, joia,
ou enriquecer, viver joia morrendo

e isso não passa de um vaticínio.
estou é à cata de um grã-futuro;
se sobre as pessoas exerço fascínio,
juro, isso me soa como um apuro.

o meu capacete na manhã urgente
é o meu lembrete de que sou humano.
minha bicicleta e toda essa gente
me provam asceta: mundo troço insano.

26 12 2009



vai encontrar esta noite um amor sem pagar

I-denúncia

carros.
estacionam.
garotos.
olhos felinos.
amor premioso.
amor premiado.
estrelas binoculares.
punição cósmica.
nuvens cor-de-carne.
carne desejada & carne sem desejo.
eis. o. beijo.
paixão estacionada.
carros.


II

havia um quê de serenatas. nada se ouvia, contudo. até o enrustido ronco dos motores parecia não ter som. nada, nada se ouvia. as famílias dormiam em paz. em volta da praça os carros dançavam obscuros e silenciosos feito urubus. no afresco da noite, um véu nublado, uma estrela esquecida, árvores resmungonas e olhares ocultos. alguns carros, mais caros que casas às vezes, traçavam rotas avulsas para o mesmo fim: a felicidade comprada -ou o sangue encantado-, tentando provar para seus donos que a impotência se cura com gasolina, muitas cilindradas e sexo sem palavras. a angústia muitas vezes atravessava os sussurros mercenários. muitos ainda não entendem como funciona o capitalismo do amor, mas, por falta de intuição, nós temos o instinto. a Lua envergonhada se cobre para ninguém vê-la vermelha. e aqui o amor funciona como deve funcionar, sem serenatas, sem som, sem nada.

27 12 2009

sábado, 26 de dezembro de 2009

Amor irreversível.

Saí do carro irritado, não por ter sido um mal natal, mas sim porque eu teria que andar até em casa. Mas depois caí em mim mesmo novamente. Eros, caro Eros, desde quando andar é um problema? Você sabe que não é. Andei até o metrô Carrão, porque eu estava com sono e queria ir logo pra casa. Subi as escadas rolantes, ou melhor, as escadas rolantes me subiram até a plataforma vazia -e como ficam românticas essas plataformas de metrô durante a madrugada, nunca havia percebido. Encatraquei-me e as escadas rolantes me desceram da plataforma da minha vida, e eu arrastei os meus chinelos barulhentos pelo chão imundo dos meus sentimentos empoeirados. Debrucei-me em um muro e espiei as pedras, aquelas pedras que já devem ter o dobro ou triplo da minha idade, e prestei atenção nas luzes que vinham do leste, sempre na esperança de que alguma delas fosse o meu trem.
Senhores passageiros do metrô, informamos que nossas atividades terminarão em doze minutos. Lembrem-se de que o serviço é garantido apenas até meia noite.
Eco na estação quase-fantasma. Que maravilha, pensei. A noite é muito, muito poética. Passou pela minha cabeça a hipótese de eu ter perdido a oportunidade de economizar os últimos créditos do meu bilhete único -que na verdade já deixou de ser único há um bom tempo. Súbito senti uma angústia que me lembrou você, naquela época onde tudo era líquido e impermeável. Olhei pra trás, além de mim havia uns quatro outros, sozinhos, perdidos na noite, atrasados, angustiados, talvez, como eu.
Senhores passageiros do metrô, informamos que nossas atividades terminarão em seis minutos. Lembrem-se de que o serviço é garantido apenas até meia noite.
Eco na noite quase-fantasma. Que bosta, disse em um volume que só eu mesmo podia ouvir. E voltei a cantarolar, porque quem canta os males afasta, e eu inquieto parecia dançar, porque meus braços se cruzavam, e de repente já estavam no meu bolso, mas não havia porquê de me preocupar, já que não tinha a quem dissimular alguma calma naquela estação, tão vazia como eu. E muitas luzes passavam pelo horizonte, mas nenhuma delas era a do meu trem. Assim como naqueles dias os e-mails que eu recebia nunca eram os teus, as ligações não eram tuas e os torpedos idem. Eu pensava que nós nos esbarraríamos providencialmente, mas não passava de um sonho tosco de um moleque de dezessete anos sem maturidade, sem consciência.
Senhores passageiros do metrô, informamos que nossas atividades terminarão em dois minutos. Lembrem-se de que o serviço é garantido apenas até meia noite.
Eco na minha cabeça quase-fantasma. Não sei se parei de cantar. O relógio indicava meia noite e meia. Achei que estivesse tudo perdido. Quis falar com os meus colegas de angústia, mas não sei se eles queriam ser incomodados. Olhei para o céu, este céu que não tem estrelas, para a Lua, quase coberta por uma nuvem censora cor de carne. Será que as estrelas ficam angustiadas? Será que...
Informamos o término das atividades comerciais do metrô. Lembrem-se de que o serviço é garantido apenas até meia noite.
Minha cara incrédula devia soar no mínimo engraçada, o que é uma pena, já que ninguém a viu. Pisei alguns passos em busca de uma orientação magnética. Nada me puxou. Meus colegas continuaram. Pus as mãos nos bolsos traseiros. Olhei para o horizonte iluminado artificialmente. Pensei angustiado nesse meu amor irreversível. Mas, diferente de você, o trem veio, e eu fui pra casa confortavelmente.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O texto das dezesseis horas.

Mas eu te espero na porta das manhãs, porque o grito dos teus olhos é mais e mais e mais, e depois que você partiu, o mel da vida apodreceu na minha boca.Alinhar à direita
Tom Zé


Hoje boicotei mais uma manhã, porque desisti delas -todas muito vulgares, essas manhãs indecentes-, de todas elas -até a obrigação me impedir de boicotá-las novamente. Comi um peixe -hoje eu defendo e piscicultura, única e exclusivamente a piscicultura, pelo fato de eu temer um dia ser comido por um peixe-, e o macarrão tinha muito óleo de oliva. Não tinha bebida, mas em contrapartida pus o Pucho & His Latin Soul Brothers pra tocar, pra parecer um pouco mais chique (embora uma pessoa com geografia zê-életista, "anômala" sexualmente e com um gramado na cabeça esteja bem longe de se encaixar em uma esteriotipação "chique" -yes! livre de mais um estigma!), e comi pensando em várias coisas que logicamente eu não lembro mais. Li uma resenha sobre o Graciliano Ramos, um resumo feito pela minha mãe sobre planos anti-inflacionários no Brasil, e já me dei por vencido. Peguei um livro de História do Brasil, outro de História Geral, um chamado Mercado Financeiro, e percebi que nas minhas atuais circunstâncias eu não conseguiria lê-los sem ser acometido por um feroz sono. Lembrei de uma música do Tom Zé, que me lembrou mais uma vez o Daniel. Aqui faz um calor absurdo e o meu nariz irritado 'tá me irritando com sucesso. Quero tomar um banho que não vai me limpar, porque eu já estou limpo. O Jackson me ligou, espero que ele não se importe com o meu new diesel green hair. Foda-se se ele se importar, eu não vou casar com ele mesmo. Acho que o Francisco desaprovaria o meu cabelo novo, porque ele é muito sério. Mas foda-se também; desculpe baby, eu vou viver mais pra mim, eu vou correndo buscar a glória. Viciei em um estilo de música, um eletro-jazz, eletro-samba, eletro-bossa, eletro-soul, achei extra-easygoing pra estudar, melhor do que o Ravel, o Gershwin e o Debussy que eu 'tava ouvindo antes. Talvez eu esteja me boicotando, mas se o tio Freud 'tivesse aqui eu virava pra ele e rispidamente diria logo que "ó, tio! eu quero tomar banho sim e acabou!", ao que ele estupefato viraria as costas e sairia pra dar uma cheiradinha, já que nunca soube falar português -blefe. E pra quem é partidário dele, estou aqui desafiando: quero que vocês me impeçam agora de ir tomar um banho!
Vocês acham mesmo que conseguem? Bando de impotentes!

O texto das quatro horas.

É na madrugada indiferente, e por isso inexoravelmente tolerante, que eu pretamente saio, com meu cabelo verde e meu capacete dourado, após uma maratona de leitura sobre geopolítica (um "estudar" entre aspas, devido ao grande número de digressões mentais de fundo virtual, armadilhas que o hipertexto e a obrigação do status nos prega), acompanhado do meu alazão, grã-Heloísa, amiga minha há um ano e meio.
Como são amigas minhas essas ruas, apesar dos demais aventureiros motorizados -ai! eu odeio dividir espaço!- que também por elas vagam, feito eu, um retardo mental voluntário, pelas quatro horas da manhã, sob este céu que não tem estrelas. Divisa da Água Rasa, Anália Franco, até a boquinha da Vila Formosa, essas artérias cujos nomes eu sempre esqueço, e que pra mim só têm utilidade quando eu as "domino" -sim! entre aspas, porque jamais passará de apenas sensação-, preenchendo o impreenchível com a minha voz rouca de quatro semanas (e portanto um mês) com as melodias do Ivan Lins que eu tanto gosto -mas é porque o meu mp4 player fatalmente mudou de dono.
E que prazer esse meu agora, escrevendo este texto sem valor estético algum, com a companhia invisível do Ennio Morricone, nesta escrivaninha desarrumada como a minha cabeça, e eu até penso que sou mais feliz do que pensava -mas isso é um pensamento de aluguel, já sei da perenidade & perpetuação da minha felicidade! Ontem, enquanto meu cabelo deixava de ser castanho para se tornar diesel green, fixei meus olhos nos olhos da minha amiga Daniela e disse-lhe com uma firmeza de fundamentalista, que certamente o nosso futuro ia ser muito legal, e isso era absolutamente certo -o oposto seria insólito.
Quero concluir isto agora. Amanhã tem mais Economia, e História, e Literatura, e talvez à noite eu vá ao cinema com o Jackson, assistir a um filme muito ruim do Cinemark, mas é só porque ele vai pagar -pelo menos eu espero. Acho que vou salvar este texto, agora às quatro e quarenta e oito -segundo o horário psicopata deste meu PêCê psicopata-, e ir me olhar no espelho, e talvez eu até sorria.
Talvez nada, eu vou sorrir e acabou!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Nem sei se eu publicava isto aqui. Mas depois eu pensei que, como o meu blogue tem apenas três leitores (isso surpreendendo todas as expectativas), que apesar de três são suficientemente qualitativos, não havia porquê de não publicar.
Esta poesia eu a escrevi faz um certo tempo, alguns meses, e como eu não sei onde está o caderno onde escrevi mas a sei de cor, não me preocupei com a data. Foi conversando agora há pouco com a Heloísa (andando com ela no bairro vizinho chamado Anália Franco, que estatisticamente é um dos que mais concentra capital aqui na zona leste -igual ao meu!), e contrariado em "ter que ler" o Vinícius de Moraes, que decidi colocar isto aqui, elegendo como mote deste impulso o meu descontentamento com o poetinha.
Eu vou dedicar isto aqui à Luciana, porque eu 'tô com saudade dela! Perdão antecipado pelas generalizações e pelos anacolutos.



Carta a uma rola.

Minha amiga, não quero que me condenes
Pelas minhas opções, e nem quero que você
Me siga, afinal, se eu tenho um pênis,
Não quero ouvir sermões, eu só quero é foder.

Sou um cara bem didático, só um cara bem didático.

Está na Bíblia, que se eu sou um pederasta
Eu vou pro Inferno, já que eu não vou para o Céu.
Oh! Minha filha, eu não sou iconoclasta:
Chega perto, tira logo esse chapéu!

Eu vou beijar a tua cabeça!
Eu vou beijar a tua cabeça!

(Nenhuma poesia fecha, é tudo aberto, o sangue, as unhas flecham... Onde estão os anjos, onde está você?)

domingo, 20 de dezembro de 2009

Domingo em mim.

E estou acordado, caindo neste abismo porque perdi teus braços, e agora sem eles não tenho mais em que segurar. Não posso mais ouvir Radiohead sem pensar em você. Não posso mais ouvir o Yann Tiersen sem lembrar das noites nas quais tentamos ver o Amelie Poulain. Não vou mais ir ao Habibs sem lembrar daquelas madrugadas famintas. Hoje à noite, cansado de tanto ler -e esse vestibular só não é mais chato do que o Vinícius de Moraes- fui ao parque Sampaio, porque a minha bicicleta chamada Heloísa e eu queríamos espairecer, e os meus vizinhos estavam felizes e sonoros demais para a minha vaidade. Senti falta do meu mp4 player, que eu perdi há duas semanas, porque ele era parte da minha terapia (e eu sou viciado apenas em chá gelado, em pessoas e em música -roer as unhas, confesso, vocês sabem, é outro vício), e não tenho muito com o que relaxar ultimamente. E no parque, que estava especialmente vazio hoje (as pessoas do meu bairro estão acampando nos shoppings -e domingo é o dia onde o êxodo tem sido mais violento) tive medo, vi algumas estrelas perdidas entre as copas negras das árvores cansadas de tando tédio dominical -como eu-, que só deviam estar ali de passagem, migrando pra algum lugar importante, como Porto Alegre ou Punta Del Leste. A escuridão sufocou o meu coração vazio, já que ele estava mais oco e solitário do que todas aquelas sombras teimosas, mais insistentes que a impotente iluminação do parque. Em um instante pensei que a minha disposição havia caído da bicicleta e escorregado para o bordo daquelas vias precárias. Mas era mentira, deixei minha disposição em seu apartamento naquele domingo insólito, e fui sem rosto (tal como uma pintura metafísica do De Chirico) para o parque do Ibirapuera encontrar com os meus amigos. O parque Sampaio continuava vago, como a minha vida, e eu lembrei de tudo, do domingo, do Habibs, do Yann Tiersen, do Radiohead e, minha nossa, eu não tenho motivos para gostar assim dessa banda, mas eu às vezes a ouço, e às vezes ouvindo lembro de você, e lembrando de você não sei se quero sorrir, chorar, lembrar ou esquecer -talvez o meu problema seja querer fazer os quatro simultaneamente. Então eu fechei os meus olhos porque a brisa da noite ia limpar a minha alma, mas concomitante a isso Heloísa (acompanhada da minha estupidez maníaca) me levou para a direção errada e eu caí no bordo, que estava lama pura. De fato, minha disposição não estava lá, só havia lama, mas eu a confundia com a minha própria matéria, porque eu estou derretendo, eu estou acordado e caindo neste abismo, e é por isso que eu flutuo de medo e angústia nesse domingo. É porque eu ainda não atingi o solo.

Ação metabólica.

Uma pirataria cega o guiava, porque tinha olhos de roubar, mas eram líquidos e traziam uma impotência desesperada à visão.
Emergencial, como o azul do céu.
Uma vontade sorvetante e carente, porque era fria e seca, chupava tudo à sua volta, as paredes de concreto, as placas de acrílico, as superfícies de alumínio, cortadas pelas estacas dos homens, feitos de corações rasgados e exaustos -essa é a magia da cidade.
Um amor perigoso disputava locação com aquele ar abafado, que não conhece a liberdade nem nunca pagou a conta do analista.
Senhoras sentadas em estrelas ministravam as lições do rebanho, era hora de se ficar quieto, no sofá, quie-ti-nho! Mas eu não me preocupava com a lei, quem faz meu carnaval sou eu (percebo agora o real significado desse lema, que é: não dou a mais ninguém o direito de cavar meu próprio túmulo).
O motorista governava a grande minhoca metálica, nessas pulsações elétricas que dão origem àquela sensação que só quem mora neste lugar que não tem estrelas sabe o que significa. Esse magnetismo da morte, que a gente adora, porque aprendeu a apreciar esse perfume de dióxido de carbono, descobriu o prazer de se banhar nessa bacia de chuva ácida (com direito a indisposições estomacais autoimunes), e se doutrinou com a filosofia de pensar da cidade, andando sempre naquela velocidade das informações, achando que é feliz por navegar nesta nave imunda, esse cometa chamado estresse.
E, nessa noite, as senhoras sentadas em estrelas comunicavam aos brasileiros o que fazer amanhã, e eu viajava, e seus olhos de roubar, apesar de líquidos e de trazerem uma impotência desesperada à visão (emergente como o azul do céu), chupava tudo à nossa volta, todas as coisas concretas -aquelas feitas por homens de corações rasgados e exaustos- e todos as minhas vontades sangrentas e cósmicas, minhas cores e as minhas covinhas e todos os seus dezessete anos de sorrisos e afetos.
Descobri-me dentro de um túnel, que eu não sei se era de aço e concreto ou se simplesmente eu fora hipnotizado, e eu não sabia no fim do caminho que tipo de abismo eu encontraria (a minha convicção apenas me fazia acreditar de que sim! tratava-se de um abismo).
O ar abafado ainda disputava aquele amor perigoso, emanado por ele. Devia ser alguma ação metabólica, ele substituía tudo por aquele cheiro de paixão conveniente, devia ser como respirava.
Enfim, sorri. Olhei para ele e então abri a minha boca, ainda seca de solidão, notei que o túnel expirara e agora uma luz de coisa fechada enchia o ambiente. Visualizei em letras comerciais a palavra "Sé", então conformei-me com a logística dos homens, desci do trem e esqueci dele para pensar em outra coisa qualquer, que certamente preencheu o meu intelecto com mais competência.

Delírio existencial.

É a coisa que os homens fazem, transformar tudo em poesia o tempo inteiro, embora todos eles neguem. Quando olho pr'este céu que não tem estrelas, ou espremo a minha vista tentando conquistar as tantas paredes precárias deste meu bairro de mentira, é que não tem nada mais nessas coisas que eu procure que não seja poesia, pra abastecer meu coração de energia. Quando dissimulo afeto (ou simplesmente me envolvo) por uma aranha que mora na janela do banheiro, busco poesia, e quando me deixo levar pela pseudo-rebeldia implícita nas moléculas etílicas de um bombeirinho (pr'arranjar pretexto para dizer às pessoas aquilo que eu não tenho motivos para falar quando eu estou sóbrio) busco poesia, e quando eu me sinto sozinho, abstêmio de amor, é nela que me refugio, a ponto d'eu não conseguir mais saber diferenciar o que é real do que é poético, o que é sonho do que é palpável, o que é sensato do que é invisível.
Acho que estou entrando em outra dimensão.

[Samanta está viva! Cuidando da prole. Confesso, estou com um receio (bobo, talvez) de ter minha casa infestada por suas descendentes...]

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Di-Agressões Avulsas.

Nem sei por onde começar.
Os textos longos ninguém os lê mais! Li uma crítica esses dias no blogue do Jean Wyllys sobre esse fenômeno da twitterização, de como hoje as informações têm que se prostituir adaptar a espaços cada vez mais curtos de difusão. O twitter seria o símbolo da cristalização desse processo, responsável por tornar o texto curto, com déficit de qualidade, como o padrão ideal de jornalismo. Daqui a algum tempo, pelo visto, os jornais virarão zines, a TV Minuto será transmitida na TV aberta, as músicas terão vinte segundos de duração (como as músicas no grindcore já têm), as semanas virarão dias e as noites serão perenes, já que o dia será abolido para se economizar luz.

Não sei se estou com remorso. Sei que eu não posso me sentir confortável depois de tantas richas que eu e a minha amiga Samanta, que mora na janela do banheiro, tivemos. Hoje, durante o banho, soprei-lhe para ter certeza de que estava viva, como sempre o faço, e notei que desta vez não se mexeu, mas em contrapartida, de uma bolsa cinza trocentas samantazinhas saíram correndo assustadas (mais ou menos parecido com o horário de rush do metrô). Concluí que, oh!, sim, o milagre da vida, que na verdade não é um milagre mas sim um evento logicamente previsto, desta vez teve como cenário a janela do meu banheiro. E agora eu não sei se a Samanta foi pro céu, não conheço a vida das aranhas.
Mas eu sempre pensei que elas botassem ovinhos.

Fiquei em dúvida se punha a minha bermuda quadriculada, que é quadriculada mesmo eu não sendo um bom jogador de damas ou xadrez. Mas felizmente eu saí da dúvida e pus uma bermuda lisa, que tinha mais a ver com a camisa que eu ia usar.
Ponto.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Declaração de amor ao Acaso ou Saudades de quando a gente ia no Habibs às três da manhã, que ficava do lado da sua casa.

Dissecando os textos de um não-robô, com o qual eu casualmente trombei aqui neste mundo virtual, que também não tem estrelas, encontrei uma pérola (acredite, dentre várias outras) cujo mágico brilho me lembrou, que o acaso pode ser o instrumento mais eficiente a ser usado por esta minha deusa chamada Felicidade, se manejado com técnica e sabedoria. Oras, juro que me esforço para extrair do acaso tudo o que ele pode me oferecer de melhor (desde refrigerantes distribuídos gratuitamente em uma praça qualquer até madrugadas maravilhosas incluindo licor de jabuticaba e batatas da perna carnudas), isto é, como bem me lembrou esse mesmo camarada, pra que serve um medo, senão para ser enfrentado? Se as coisas acontecessem na minha vida um pouco mais solidamente, do jeito sólido como eu vejo que esses robôs que me rodeiam -como me sinto sozinho!- vivem, eu surtava de desgosto mesmo! Viver o insólito -quando se tem oportunidade e capacidade para fazê-lo- é a coisa mais magnífica que um homem pode esperar, e é pensando que em um dia tudo em minha vida será inovador e surpreendente eu afirmo: não perdi todas as esperanças!, estou aqui colhendo as evidências que estão espalhadas neste chão sem fundo para provar -pelo menos para mim mesmo- de que vale à pena continuar vivendo como hoje vivo.
Estou louco, louco, ansioso mesmo, para que o meu acaso me pregue a próxima peça -e se isso não acontecer logo vai ser duro & chato de aguentar, e na verdade já está demorando e já está sendo duro & chato, PRONTOFALEI!!-, e quero encerrar este texto citando aquele meu amigo não-robô do primeiro período (e eu aposto que ele nem se lembra da passagem que eu citarei);
[Preste atenção ao seu dia. O inesperado nos aguarda em cada esquina. Não o procure, ele o encontrará.]

Deixa eu dizer.

Eu olhei pra este céu -que era estrelado-, e ele nublou de nojo de mim. Perguntei-lhe o porquê de tanta repulsa, e ele apenas me respondeu com uma garoa antipática que era simplesmente pelo fato de eu existir que ele agia daquela maneira. Bradei-lhe raivoso que não me fizesse mais penar, ao que o estúpido respondeu com trovoadas arrogantes e prepotentes, cujo estrondo provocou em mim um efeito nauseante.



As coisas me abandonaram. Pensei nesta noite que as coisas simplesmente deixaram de se apaixonar por mim, e passaram a simplesmente não se apaixonar mais, decididas a se filiar a uma ideologia maldita, de que o não-envolver-se é a receita ideal para quem não quer sofrimento. Mas quem nunca se envolveu em vão jamais saberá o significado de "sofrimento".
A aranha chamada Samanta, que mora na janela do banheiro, falou pra mim que não se importa não, que nunca vai se casar nem nada. Oras, me casar eu também não quero! Mas eu também não quero -e olha, cara Samanta, você vai me perdoar!- ficar a minha vida inteira tendo só aquelas relações super-líquidas que ela tem, porque os meus sentimentos podem não ser estáticos, mas também não são descartáveis!

[Sei que agora existe por aí uma aranha que tá brabinha, sapateando de raiva, mas é a mais pura verdade! A Sammy não sabe o que é amor!]

Vejo cada vez mais pessoas interessadas em defender uma ideologia pró-galinhagem ou pró-casamento, como se não houvesse uma transição entre esses dois universos, como se não se pudesse sustentar relações que não pertençam a nenhum desses dois pólos. Penso em um mundo utópico no qual as pessoas amem conforme a intensidade dos relacionamentos dos quais elas fazem parte. O que eu vejo hoje é principalmente pessoas interessadas em não sustentar de forma alguma relações, ou então pessoas encantadas com o sonho -tão, por Nietzsche, ultrapassado- de encontrar um príncipe encantado, pra casar bonitinho, e o escambau.
Nada, em absoluto, declaradamente contra as relações efêmeras ou as duradouras; minha crítica aqui é contra a ideologia que vicia os indivíduos, que sonham primeiro com o tipo de relação que querem ter, pra depois selecionarem os parceiros. Mas isso na verdade é uma tentativa de desabafo. Não consigo mais encontrar pessoas civilizadas para manter qualquer tipo de relação decente, seja ela instantânea ou longa, amorosa ou amigável. Não encontro tipos com os quais me apaixonar! Estou me sentindo muito frio. Talvez eu seja um puta cara arrogante.
Talvez não.
A Samanta, que é a aranha que mora no canto da janela do banheiro, e é com quem eu converso todo dia quando vou tomar banho -até o dia em que um de nós dois morrer primeiro-, me deu uma sugestão, de ir catar coquinhos, de tanto que lhe enchi a paciência de ficar falando de amores (ultra)passados. E que ótimo! Ela não foi sequer a pioneira. Tudo aqui, o disco e os postais pendurados na parede, o Vincent Guaraldi Trio, o Mário de Andrade, o meu cachorro Natalino (que eu chamo de Natan quando estou de bom humor), minhas roupas espalhadas, as lichias emboloradas dentro do tapperware branco de tampa azul e até o meu auto-retrato pendurado na parede (que consiste em dois pregos segurando duas cartolinas coladas com fita adesiva com um desenho muito tosco feito com spray preto) estão aqui me sugerindo, que se eu não parar logo de ficar me lamentando, vão todos eles embora, me deixar aqui, sozinho, pelado com o meu desassossego, juro que disseram isto!!
Agora, se o meu desassossego gosta ou não de homem, é problema dele: eu só sei é que ele não faz nem um pouco o meu estilo, e não larga do meu pé. Se alguém quiser me devolver o sossego, estou abertíssimo, vocês sabem onde eu moro, se não conseguirem me achar pelas estrelas -já que São Pedro as tirou deste céu paulistano para presentear os nova-iorquinos- é só perguntar para o mendigo lunático que está sempre dançando sobre uma caixa de concreto (não faço idéia do que seja aquilo: a caixa e o lunático), ao lado da saída do metrô Consolação -sentido centro. Não garanto que ele lhes responderá, mas o passeio pelo menos não será perdido (o ar-primeiro-mundo da Paulista nunca é um passeio perdido).
Lunático estou eu aqui, escrevendo desesperadamente, lutando contra essa minha frieza -e eu confesso, amigos: SOCORRO, JÁ NÃO SINTO NADA!! A coisa mais intensa que eu sinto agora é uma maldita dor na língua causada, suponho, por uma afta. Segundo o Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa 1.0.12, afta é uma pequena ulceração superficial dolorosa, observada ger. na mucosa bucal e mais raramente na mucosa genital, de causa desconhecida, com recidivas atribuídas a vírus ou fungos, desequilíbrio hormonal, problemas alimentares ou estresse, podendo apresentar-se isolada ou associada a doenças sistêmicas, isto é, afta é um saco! Mas vejamos do ponto de vista positivo: pelo menos não é uma afta genital!!

[Este texto é um exemplo do que acontece ao sujeito quando ele não está nem um pouco preocupado com concepções literárias estéticas, relacionadas à coesão, problemas de digressão, e não teve um pingo de disciplina e ascetismo na infância. Uma subversão total, da qual vós, leitores, sois vítimas. É claro, vós que chegastes até aqui.]

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Este texto eu o desenterrei. Acho que ele representa uma época muito importante pra mim.
Como eu espero sair deste buraco-negro...




quando eu subo
apartamento as dores
e a porta abre
e eu vejo as tuas cores
a noite passa
e eu me deploro submisso
à tua massa
e eu te exploro e eu te dispo
as tuas mordidas no meu pescoço
me enchem de tesão até o osso
e as tuas mãos seguras
me protegem no teu ombro
da noite obscura
que é linda e um assombro
quando eu acendo e te toco feito bicho
a gente ama, e não importa o luxo ou o lixo
(as tuas mordidas no meu pescoço...
quando deita e me beija o meu moço)
e eu durmo sem pensar qualquer verdade
porque sei que estou vivendo a eternidade

21 9 2009

domingo, 13 de dezembro de 2009

Das coisas irreversíveis.

A irreversibilidade é inesquecível.
Contudo o homem finge que ela não existe, age segundo suas ideologias, mas ignora a irreversibilidade. E quando não a ignora, também não consegue descobrir sua dimensão.
As coisas morrem.
Os outros diriam que elas evoluem, ou se transformam, não está errado! Mas o homem sacraliza tudo. Todas as coisas têm formato, cheiro, sentimento e atributos psicológicos. E todas essas coisas morrem! deixam de sê-las simplesmente, e passam a não ser mais.
Cheirando esta luva, porque eu adoro cheirar, percebi que São Pedro está tornando cada vez mais evidente o estado de irreversibilidade (notem que eu falo em evidência, não em condições: a irreversibilidade é onipresente) nesta cidade sem estrelas chamada São Paulo.
Enquanto o deus do amor escreve isto, uma hora depois de assistir um filme chamado Reversível, que trata de coisas irreversíveis, alguém aqui nesta cidade certamente está com aflições parecidíssimas com a minha. Sei que há mais alguém aqui, no meio desses milhões de pessoas, preocupado com dores na língua, ou em perder o tempo de forma competente, falando sobre irreversibilidade, ou com a boca ressecada de solidão, e chamado Eros, ou que ouça Claude Bolling depois de uma madrugada de disco-rock alternativo, que aspire as coisas que eu respiro, que passe por dificuldades como eu as passo, para tentar provar a si mesmo que a felicidade não existe, sendo que ela existe, mora muito bem na Cerqueira César, vive muito bem, com centenas de escravos hodiernos e produtos importados mais caros que a minha nuca, e a ela eu não terei acesso.
Olho para uma semana atrás, e tenho certeza da irreversibilidade que ela representa. Isso não deve ser muito importante, para falar a verdade. Apenas me fascina. Me fascina como me fascina a fatalidade de grande parte das relações nas quais tenho ingressado com uma expontaneidade de demente, e que na verdade têm me feito duvidar de sua própria validade.
Desconheço grande parte da logística real das regras ortográficas embutidas no meu cérebro. Isso não deve lá ser muito importante neste instante. Quero comer uma pizza que me trará uma alegria instantânea, e cuja digestão será irreversível. Quero comer uma pessoa, o que também me trará uma alegria instantânea, e sei que isto também será irreversível. Nada é reversível, as coisas podem apenas ser contornadas; não significa voltar os ponteiros.
Reversível é a expressão máxima do que o cinema atualmente é capaz de fazer, elevando o realismo até as últimas consequências. Me gusta! A ciência (estou falando do cinema) também evolui. Irreversivelmente.
Quando der oito horas da noite (e então será irreversível pensar nas horas que a antecederam) vou acordar minha mãe e nós iremos comer pizza. Também será tarde demais, porque eu já terei ouvido pelo menos duas músicas do Projeto B. Ou não. O futuro não é reversível, é apenas desenhável.
Escrevo este texto porque algumas das minhas roupas estão cheirando a mofo. Estas minha luvas também estão. Trocarei por outro par. Minha fome não é reversível: é contornável. Não existem duas fomes iguais. Eu iria a uma churrascaria. Minha mãe nem deve ter dinheiro. Nem é tão interessante isso tudo, ser escravo do tempo, sei lá, é? Nem deve ser. Só sei do significado das coisas evidentes relacionadas a isso.
Quero sair da rouquidão.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Solidão.

Quando eu percebi que estava na passarela do metrô, fechei os olhos e pensei em alguém com uma dor amarela -e quando as coisas amarelam, é porque já passaram dos meus limites-, vestido igual a uma pessoa normal. Quando os abri (os meus olhos de pessoa normal) continuei pensando na passarela, mas segui deixando o meu rastro amarelo, de raiva.
E quando entrei no metrô esqueci para onde eu ia, porque me confundi, e de repente pensei que meu caminho era você, mas já não havia você. Então me lembrei de que você já tinha ido embora e segui minha viagem, para algum cinema vazio, tão mofado como o meu coração.
Quando a porta do metrô se fechou, pensei em cada vulto, que eu jamais veria novamente, quando o trem acelerasse. Azar! Meu príncipe não é nenhum deles, pensei. E quando ri discretamente, porque lembrei de você, percebi que estava te deixando na estação Paraíso, e indo diretamente pro Inferno.
E então peguei uma cartela com aqueles chicletes caros que eu não tinha com quem dividir, assim como eu não tinha como dividir com ninguém a minha nova cueca, nem a minha velha retórica. Na bilheteria o meu reflexo no vidro blindado, que era blindado para as pessoas não terem relações sociais estreitas com os atendentes, refletia a minha cara amarela, de vergonha.
Antes da sessão, parei em um boteco próximo, e pedi um cariri com mel, para aquecer o meu coração de carbono. E sentei, apoiado no balcão, esperando que alguém me desse a ignição, para eu entrar em combustão mais uma vez. Mas ninguém veio e eu voltei para o cinema.
O filme era bom. Não sei sobre o que era exatamente, mas me lembrava você, então era um bom filme. Saí da sala e comovido puxei papo com uma garota sobre a sessão. Bom filme, hein, disse-lhe. Pois é, me respondeu, mas esse diretor [cujo nome eu não lembro] já teve filmes melhores, respondeu com uma simpatia enigmática, dissimulada ou entusiasmada, e foi-se embora.
A noite ainda era azul, e eu decidi voltar ao boteco, mas ele já estava fechado. De um visionário estacionado na calçada, que apesar de estacionado continuava visionário, comprei um copo de conhaque, e bebi-o porque pensei que o meu coração estava gelado demais. Mas ele ficou amarelo, de solidão.
Perto do cinema, mais ou menos longe de onde moro, olhei pra esse céu sem estrelas de São Paulo, e pensei que talvez elas tivessem ido embora junto com você. Mas a Lua -amarela- continuava ali, atenta, eu diria que caçoando de mim. Mas a Lua é sagrada, e tem sempre razão.
Andei morfinado pela música-ambiente do meu player, mas desliguei-o, porque pensei que a melhor música pra aquele momento era o silêncio. Então sentei em um canto qualquer daquele lugar, apoiei minha cabeça em meus joelhos e chorei. Então um rapaz parecido com você veio até mim, agachou e pôs a mão sobre o meu ombro. Tá tudo bem, perguntou. Fiz que não com a cabeça. É por causa dele, perguntou simpaticamente. E então esbocei-lhe um sorriso, e só aí a noite começou a ficar interessante.

Impermeabilidade.

Imagine uma noite, duas, três, chovendo sem parar. A sua casa mofa, mesmo que você não queira. Você então se debruça na janela com aquele ar cansado que as pessoas usam dissimuladamente para dizer que têm cansaço, porque um dia aprenderam que, para parecerem cansadas, deveriam ir à janela se debruçar com aquela feição desconsoladora. Na cozinha um pão mosquitado brada por socorro, mas os homens não conhecem a língua dos pães, e você então avista da esquina uma cena nova. Algo como um rapaz de cueca segurando um guarda-chuva. O seu senso de solidariedade nas noites chuvosas geralmente vai passear, então você fecha a janela e vai procurar algo dentro de casa pra fazer, mais interessante, como espantar os mosquitos do pão, ou semelhante.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Ode à meia-noite.

suruba.
-alô!
a esquina era vazia como uma boca.
-não, já 'tô chegando.
a função da rua era ter paredes, e paredes longas, minhocantes e barulhentas. as paredes eram o barulho da rua.
-okay. fica frio. até!
meio-susto. certo suspiro involuntário. um sujeito mijando na parede.
o rapaz do celular meio que esboçou um aperto de passo. mas passado o vulto afroxou-se e seguiu como antes, como quem está preso entre paredes barulhentas, e perto da meia-noite.
a noite inteira era das paredes, o rapaz era uma faísca, pulsando eletricidade naquela tão curta eternidade chamada medo.
paralisia.
perto do fim da rua, não havia reflexo, apenas uma fumaça, cor-de-bosta, denunciando os dois amantes, os dois recém-apaixonados rompendo o barulho dos afrescos, vazando aquele silêncio que só quem amou um dia sabe o que significa.
estupefato. e não ignorou. deu meia-volta, pensou em avisar os guardas, mas sabia que na noite as pessoas dormem, e os guardas deviam estar cansados.
pateticamente, iniciou um mantra interno, sussurrava palavras tão dissimuladas como o seu cristianismo, sua consciência, seus lençóis.
-não era um estupro. não era um estupro.
de fato não era. mas no medo a gente inventa coisas.
-não era um estupro. não era. não era.
prosélito, era uma criança, durante a catequese, lutando contra seus fantasmas.
um rato rasgou o escuro. um raio de silêncio esqueceu os segundos anteriores, mas não o rapaz.
-não era.
o sujeito de antes continuava mijando. o rapaz esticou o olhos, apertou os lábios e sugou o espaço, dentadas mastigando a noite, engolindo os ponteiros.
o desejo.
desapertou o ritmo, sentiu um, vários lapsos, arrepios. inflando o peito, dilatando os músculos, bombeando o sangue pelas cada vez mais selvagens cavernas de sua alma.
voltou-se para trás. eram agora dois pares de amantes na imensidão noturna.
suruba.