quinta-feira, 26 de junho de 2008

Texto ou Hipótese sobre o fim do mundo (Capítulo Quatro) -100ª Postagem!!!!

Beatriz era uma garota estranha.
Desde cedo tinha o dom de matar pessoas acidentalmente, mas a história dela é um tanto sem-graça, se comparada à história de Marisa.
Maria nasceu no mesmo momento em que seu país, Hermética, saía de uma Ditadura Militar, e entrava em outra, cujo nome se ignora. Tendo nascido da colisão de um cometa com quinze quilos de algodão (que equivalem a quinze quilos de muçarela de búfala), Maria não teve pai até os três anos de idade, quando foi entregue por um carteiro muito safado, que tinha pés mais hipnóticos que os pés do nosso amigo prefeito, a um padeiro. Este cuidou muito bem de Marisa até o dia no qual se matou, entupindo seu reto com restos de pão.
Pois o dom de Maria era mais simples que o de Beatriz. Marisa podia beijar as estrelas. Aliás, ela o descobriu no mesmo dia em que o pai padeiro entupiu o rabo de pão, mas isso já é outra história.
Essa outra história é a seguinte. Acidentalmente, Beatriz disse as palavras mais tristes àquela noite, e o padeiro, pai de Marisa na época, resolveu que seria melhor se matar, antes que fosse pego de surpresa por uma abelha.

domingo, 22 de junho de 2008

Texto ou Hipótese sobre o fim do mundo (Capítulo Três)

Recusando as ajudas ditas terapêuticas pelo prefeito (abuso de eqüinos e garrafas de vinho), Príncipe foi se consultar com o vendedor de lâmpadas, que também era mestre em cartomancia, e que não merece descrição pela sua atividade vulgar, de vender objetos que brilham.
- Pois eu sei dessa história.
- É mesmo, senhor vendedor de lâmpadas?
- Sim, sério. Não viu a mãe-de-santo? Ficarás louco em certo tempo, e depois serás engolido pela sua barriga.
Quinze anos depois, Príncipe é seguido por uma abelha até a loja de lâmpadas, e é engolido pelo seu próprio estômago, morrendo aos 471 anos, e seu bigode aos 427.
Cinco anos depois disso, Malmequer do Sul foi inundada por uma bebida etílica de cor um tanto azulada, e que não existe, e o prefeito, o vendedor de lâmpadas e a Beatriz morreram.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Texto ou Hipótese sobre o fim do mundo (Capítulo Dois)

Príncipe era o penteeiro mais famoso da Rua Turva, e assim que soube do sumiço de nossa querida mãe-de-santo, tomou duas garrafas de ayahuasca e foi se encontrar com o prefeito. Ao chegar na casa deste, que era vizinho de nossa quase-finada e finda mãe-de-santo, tomou um susto, que lhe fez pular até amarrar o gato. Uma abelha lhe disse ao pé do ouvido que durante quinze anos quadrados lhe faria perder o juízo.
Mas onde estava o maldito prefeito? No banheiro.
- Senhor prefeito, como faz o senhor para não trancar as portas em dias de ser morto e vivo na Hormissia?
- Não me fale em Hormissia, penteeiro. - disse o prefeito, que saía do banheiro com dois quilos de arroz sob os braços, em sacolas de algodão. - Não estou mais lá. Que vieste fazer aqui, biltre?
- Não me trate assim, prefeito. Aquela moça cujo nome o autor não se recorda, está morta.
- Não me diga.
O prefeito tinha dezessete anos de idade. Desejado sexualmente por toda a elite de Hormissia, cidade vizinha a Malmequer do Sul, o prefeito foi eleito porque sabia estar em quarenta e sete lugares ao mesmo tempo. Era magro, alto e tinha o defeito de ser muito burro, com cabelos quase lisos e cortados na moda mais tosca apresentada no último noticiário da TV, pés estranhos e hipnóticos, sempre à vista, pois vestia apenas uma sunga azul (podia ser verde) e túnicas roxas-claras ou invisíveis.
Quanto ao penteeiro, pense em um engenheiro de trânsito vestido de hippie, mas quase sem cores, meio pastel ou cáqui, um tanto baixo, quase pardo e a barba eternamente a fazer, mas não era grande. As mulheres de Malmequer do Sul o achavam um tanto charmoso pela barriga rígida, vermelha e nem tão grande que ganhara em seus 456 anos de idade. Seu bigode tinha 412 anos de idade, mas Príncipe era homossexual.
- Qual foi o relato do vendedor de lâmpadas? - perguntou o prefeito, cheio de curiosidade e vontade extrema e obscena de abusar sexualmente do último eqüino que chegara.
- Deu-se que a moça foi vista ao lado de uma abelha, e depois foi sugada pela própria barriga.
- Isso é estranho, penteeiro. Uma vez, eu estava navegando ali fora, e uma sereia me disse que seria capaz das abelhas deixarem os estômagos cheios de fome até o final desta década, que está para terminar. Pois isto tudo que me relatara faz o sentido completo. Ei, eu encomendei uns vinhos novos, posso ir tomar banho agora? Isto é, você não gostaria que eu resolvesse esse impasse sem umas belas taças de vinho e de pelo menos três horas no ofurô, certo?
Não há resposta.
- Penteeiro maldito! - berra o prefeito.
- Oh! Perdão, mas seus pés são um tanto hipnóticos.
- Saia de minha casa, preciso cuidar do caso.
- Caso?
- Oh! Biltre, maníaco - berrava o prefeito a empurrar Príncipe.
- Prefeito.
- Sim?
- Uma abelha veio me falar hoje.
Susto. O prefeito então vai até o criado-mudo, pega uma caderneta de anotações e uma caneta sem tinta, e volta rapidamente para onde estava, e então com uma certa vontade de ter pressa, e um tanto ingenuamente preocupado, pergunta ao penteeiro:
- Que horas são?