para o cigano podólatra de Mairiporã
cada teu SMS
é rebelde ereção
se a pica adormece
logo ponteiro aquece
me enchendo o moletom
transcendência
tenho pena de repente
da trans sem dente
pinto à vista
navegando na internet
Pedro Álvares Cabral
desvelou certo pacote
descobriu sob ele um pau
baticlinógrafo
no contrachoque
da nossa carne trêmula
ligo o cronômetro
e espero teu bafômetro
se aproximar do meu termômetro
estagiário sonho
ele quis me provocar, chamando de delícia quando entrei, mas o máximo que tirou de mim foi uma ereção.
conforme apagava a lousa, a professora incompetente de sociologia apagava sonhos. e eu, enquanto observava meu corpo soterrado por snowflakes - poeira do giz - amaldiçoava o calor, a poeira, aquela escrota...
sem perigo de errar
rio de janeiro. não aquele paradisíaco, dos macaquinhos, pastoral, mas o secular, dos macacões, lumpemproletarioso. peço um café com leite. retorna em pouco, não há.
-tem café só.
-pode ser.
coça os bagos como se visasse agregar valor ao produto. um e cinquenta. é o mínimo que poderiam pagar a mim por tomar aquele líquido cor de barata. fixo minha atenção sobre a aparência da substância. pondero, seria óbvio e almofadinha demais que, depois de tanta coxinha paulistana verde podre, qualquer chá de esgoto vendido como café me envenenasse.
um miserável - como eu - pede um café. o "coceirinha", como eu apelidaria o ser humano incubido das transações primárias, responde mais amargamente que o próprio café.
-se tiver um e cinquenta aí eu dou.
o pobre miserável acafetado expõe seus míseros trocados. algo como um e trinta. "coceirinha" respira fundo, se coça mais uma vez e, com o ar virtuoso e enfastiado de um santo popular atendendo a milagres de baixa estirpe, traz seu copo de pseudo-café. se tivesse me apetecido oferecer ao coitado minha pequena dose de má sorte requentada, teria lhe poupado suas parcas moedas e em mim o receio do sofrimento.
da próxima vez vai ser cerveja logo.