quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O Espetáculo.

"Nosso tempo, sem dúvida prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser. O que é sagrado para ele, não passa de ilusão, pois a verdade está no profano. Ou seja, à medida que decresce a verdade a ilusão aumenta, e o sagrado cresce a seus olhos de forma que o cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sagrado."
Feuerbach

"Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção se anuncia como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente vivido se esvai na fumaça da representação."
Debord

"Tenho pouca vontade de escolher entre o prazer duvidoso de ser mistificado e o tédio de contemplar uma realidade que não me diz respeito."
Vaneigem


Escândalo. A bancada inteira do Acessa São Paulo discute sobre esse último caso da moda, depois da terrível filhadaputice cometida pelo casal (assassino_assassinado) Nardoni.
A(s) coitada(s) vai(ão) se revirar no(s) seu(s) túmulo(s) até os organizadores da grande mídia enjoarem de tratar dela(s).
Mata, mata! Tem que linchar. Aplaudir "Tropa de Elite" pode, porque é de mentira. Mas aplaudir o silêncio discreto que o BOPE deu em Sandro Barbosa do Nascimento é bem mais gostoso.
Vitória. "Não pode atirar, senão Deus castiga", diz Roberto Marinho em pânico.
Nunca acontece; nem no cinema.
Também, com aquelas malditas campanhas midiáticas pró-pseudo-paz, é de se esperar que os cemitérios lotem.
Quero ver só! A Isabella já virou nada senão meia dúzia de gramas virtuais esquecidos no arquivo global. Que mané Isabella! A moda agora é falar sobre a Eloá e a Naiara. O pai dela, bandido em Alagoas? A menina pediu dois milhões de indenização? Bem mais emocionante.

Quem foi Geisa, quem foi Suzane von Richthofen, Carandiru sempre foi nome de tribo indígena.
Adoro aquela minha piada sobre os souvenirs da Isabella.
"Está para ser criada, pois, a Isabellamania (uma peculiar equivalência à Beatlemania, da década de 60s), um típico movimento brasileiro -nada que não possa ser esquecido na liquidez da nossa memória. Trata-se de uma estratégia de marketing responsável pela venda de uma infinidade de produtos, utilizando a imagem de Isabella, cedida (ou defenestrada) pelos seus pais, com um certo apelo emocional e piedoso implícitos, claro.
Com um certo tempo, um novo estilo-de-vida estará à venda, transformando Isabella na única superstar póstuma da história;
para as crianças, cadernos e lancheiras com a clássica imagem de Isabella sorridente; para as donas de casa, portas-retrato que já venham com uma foto da menina; e, finalmente, para os idosos, fraldas geriátricas Isabella, óbvio -e com o máximo de absorção."
Passividade! Triste é pensar na atualidade de textos que já têm quarenta anos de idade. Triste é pensar que o clássico, no fundo e na prática, exerce apenas a função de ser, clássico hasta la sepultura, existindo por existir.

domingo, 19 de outubro de 2008

Estória cruel com início fofo, fim fofo, um dono sedentário, um cachorro sem nome e uma garrafa de Coca-Cola.

(Ficou ruim, mas posto mem'assim)

Era uma vez um cachorro.
Ele era dócil, obediente e quase pretensioso.
Ele só tinha um desejo, um desejo tão simples que, aos nossos olhos, pode parecer o mais tolo dos fetiches já existentes.
Desde que nasceu, o cachorro morou sempre com o mesmo dono; presenciou as principais passagens de sua vida, assim como o dono passou alguns de seus momentos mais importantes ao lado de seu cachorro, numa relação recíproca de amor e fraternidade.
Porém, existia uma terceira fonte de felicidade, praticamente inesgotável naquela casa, e desde cedo o cachorro percebeu o quão importante aquela fonte era, da qual ele jamais havia bebido, mas que seu dono julgava impossível viver sem.
Enfim, em um belo dia, aos 32 anos, o dono do cachorro faleceu silenciosamente no sofá.
Depois de um dia clamando para que seu dono acordasse, o cachorro percebeu que não haveria mais volta.
Então, aproveitando o momento terrívelmente propício, foi até a cozinha e Oh! Ali estavam elas, esperando por ele.
O cachorro se aproximou das garrafas.
Deu uma patada.
Deu duas.
Três, quatro.
Depois de um certo tempo, o cachorro já se sentia familiarizado com a morfologia daqueles objetos.
Como previsto, a sede, a vontade, a curiosidade de provar aquela bebida que tanto aprazia o seu recém-falecido dono foi aumentando, crescendo ao ponto de fazer com que o cachorro lutasse até o limite de suas forças para provar daquele néctar, agora à sua disposição.
O cachorro lutou, estapeou, cabeceou, escoiceou, esfocinhou...
Enfim, cansado, estressado e ensangüentado, o cachorro tomba.
Mas seu esforço não foi em vão: uma gota do líquido vermelho jorra da garrafa plástica e, milagrosamente, alcança as papilas gustativas presentes na língua do animal.
Agora ele já era feliz, podia morrer em paz, junto com o seu dono.
Fim.