sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Réplica a um discurso reacionário sobre a adaptação "popular" de uma peça de Antonín Dvorák.

Reacionarismo e retrogradação musical.

Meus amigos, tenho uma triste notícia para vós: a música evolui.
Todos esses discursos reacionários e retrógrados, às vezes até apoiados na ciência (88), não me convencem porque estou convicto de que a música evolui.
A música é um reflexo da cultura de determinado povo. O povo é uma instituição mutável, que evolui, e que depende das ações de cada indivíduo. O ser-humano, assim como os demais seres-vivos, evolui, em busca da sobrevivência. Sim, pois nenhuma espécie de animal luta pelo suicídio, pelo menos que eu saiba. O ser humano planta, o ser humano contrói cidades, o ser humano cria o Xou da Xuxa etc. E também o ser-humano, como um mecanismo de manutenção da sobrevivência, mata o outro ser-humano, para continuar existindo. Isso explica as guerras, a luta de classes, a dominação cultural etc. (Aqui, qualquer tipo de dominação, privação, mutilação, tortura e assassinato, diretos ou indiretos, estão associados à morte.)
Considerem isso. Considerem também que a história é linear e jamais retrocede. Conclui-se que, de fato, as coisas evoluem. O alto IDH finlandês, as olimpíadas de Pequim, assim como as fábricas da Nike no Vietnã e o subdesenvolvimento indiano são recortes retirados da história da humanidade, que evolui ininterruptamente.
O grupo de humanos detentor do poder de dominação (no nosso caso, uma minoria) tende a superar os aspectos negativos de sua sociedade em ciclos históricos (segundo alguns pensadores, há um ponto onde esses ciclos terminam, mas isso não está em discussão agora). Isso é uma verdade histórica. Vamos trazê-la então para a discussão inicial do tópico.
A música, em sua história, evoluiu até certo ponto, quando os homens conheceram os efeitos da dominação cultural. Houveram litofones, liras e, um dia, cantos sacros. Cânones.
Segundo o dicionário eletrônico Houaiss de Língua Portuguesa, o termo cânone, além de tipo de composição polifônica em que uma melodia é contrapontada a si mesma, pode ser também: a) norma, princípio geral do qual se inferem regras particulares; b) maneira de agir; modelo, padrão; c) decreto, conceito, regra concernente à fé, à disciplina religiosa. Opa! Topamos com aquela verdade histórica afinal.
A música evolui, e não há tanque ou ultra-conservadorismo que o impeça. Assim como a própria música erudita evolui. Historicamente, a música erudita geralmente é associada à cultura de uma classe dominante. A música erudita nunca foi amplamente apreciada, salvo exceções como a ópera-bufa italiana, os próprios cantos sacros e aquelas coletâneas do tipo "Clássicos mais populares". Existem, contudo, pontos de ruptura na histórica da música erudita, já que ela está em constante evolução. Tal evolução decorre da aprimoração técnica e das influências que a tal música sofre. Tal influência pode vir tanto de uma fusão de elementos já eruditos (Mozart, Beethoven), de uma fusão de elementos eruditos com populares (Gershwin, Piazzola), ou de uma fusão de elementos eruditos com elementos folclóricos (Stravinsky, Villa-Lobos), e é sempre um reflexo dos avanços sociais de cada época.
É compreensível então que, se o jazz é incorporado pela cultura erudita, ele passa a ganhar maior importância (na sua forma erudita), mas não deixa de ter sua importância no meio popular e folclórico, de onde veio. A evolução da música, como já exposto, SÓ acontece por causa do aprimoramento da técnica e da mistura de influências.
A cultura apreciada por uma classe dominante, contudo, não é necessariamente a cultura que esta imporá sobre a classe dominada. O jazz ganha mais importância, mas quem delimita essa importância é o mesmo grupo que, na sociedade contemporânea, bombardeia o povo com convenções estabelecidas (Jovem Guarda), ou mercantiliza a tradição popular (samba, funk carioca). O funk não conhece o funk, mas o funk nasceu do funk.
Contudo, como já exposto, tais mecanismos de dominação nascem da constante evolução humana. Dizer então que tal estilo musical tem que ser menosprezado é negar a evolução da cultura. Negar a fusão musical é afirmar um conceito fascista de não-miscigenação cultural. A música comercial tem justificativa em seu contexto social. Vende-se Xuxa, como na renascença os pintores comercializavam seu próprio talento. O que difere os artistas mecenados antigos dos atuais? O talento? O talento é relativo. A elite compra Damien Hirst, a subelite compra marcas famosas e a classe C compra Sandy & Junior. Sandy & Junior, que como Michelângelo, nada mais são do que mecenados.
A bandeira que vós levantais é a bandeira da retrogradação. Vocês equivalem àqueles que chiaram quando Beethoven introduziu um enorme coral em uma sinfonia, aqueles que amaldiçoavam Tchaikovsky pela sua opção sexual, aqueles que torceram o nariz para Dvorák e Gershwin, aqueles que xingaram de vacas as bailarinas que dançavam a coreografia de Nijínski, na estréia da Sagração da Primavera de Stravinsky, aqueles que jogavam tomates nos músicos nos recitais da Semana de 22, aqueles que riram da música dadaísta, aqueles que prenderam Messiaen em um campo de concentração, aqueles que chamam John Cage de louco.
Mantenho-me imparcial quanto à música que gerou esta discussão; mas a minha intenção aqui é rebater vossos discursos. Vossa luta é a luta pela imposição. O erro está em pensar na música isoladamente, em definir conceitos dominantes de arte. A luta pelo deseruditismo, pela desacademização é, sobretudo, uma luta social.
Aliás, o rock faz muito bem. Pelo menos pra mim.

Cito como referências Charles Darwin, Friedrich Nietzsche, Karl Marx, Jean Paul Sartre, Raoul Vaneigem e Carlos Rodrigues Brandão.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Narrativa, filosofia de bordel e poesia sobre ansiedade.

Eram quinze rapazes e moças muito bem apresentáveis, mas começar um conto, uma prosa ou qualquer outra coisa assim é perda total de tempo. Tudo agora é uma perda de tempo. Perder tempo, sobretudo. Não há maior perda de tempo do que a perda de tempo. Esqueçamos a filosofia e façamos algo mais de útil.
Eram quase quinze rapazes e moças muito bem apresentáveis. Um deles chegou até o outro lado da sala e disse a uma das moças:
-E aí? Rola?
Silêncio pseudo-quase-constrangedor. Essa minha mania de concretismos cretinos no meio de narrativas já quase me fez perder um frango assado. Felizmente eu o perdi.
A moça olha para uma de suas amigas, essa com um impecável vestido cor-de-qualquer-coisa-que-excite-os-rapazes, e faz uma cara incompreensivelmente entendível.
Sua amiga hesita. Olha para o rapaz e como quem fala com a balconista de um supermercado cujo nome não começa com Z profere a seguinte expressão:
-Pega nada.
Sorrisões por parte de todos. Esse é o casamento perfeito em dois mil e noventa e sete. Me consola saber que este texto não terá a mínima importância em dois mil e noventa e sete e, se caso isso ocorrer, peço que por favor parem de dançar sobre o meu caixão, que eu não mereço. Dúvidas com verbos. Coisas que acontecem com pessoas burras.
Quê? EU me chamando de burro? Eu sou tri-inteligente. Às vezes as pessoas vêem uma certa arrogância na minha convicção. Eu sou fodão mesmo, e o mundo seria melhor se todos se considerassem fodões assim como me considero. Ativos versus passivos, e olha que bosta está a terrível antroposfera deste lixo de planeta. A evolução do homem cheira a lixo. Mas, tudo muito natural, no seu tempo etc. Sou fruto de discursos que foram sendo lapidados e atravessaram séculos e mais séculos, sendo aprimorados etc. Cabe a mim fazer bom uso deles, independente dos meus companheiros de espécie.
Ótimo quase desfecho para um texto que começa como este começou. Preciso falar agora sobre a minha ansiedade.
Acho que linhas poéticas soam melhor agora, por isso pensem em poesia, e não mais em prosa, a partir da próxima frase.

Um momento metafísico, branco e abstrato não-espacial.
Vários momentos como esse, e todos esses dedicados a contemplar o nada. O passado, que é algo desprezível. Como foi mesmo? Por que foi? Foi assim fácil mesmo ou está sendo difícil agora porque eu estou realmente condenado a não gozar plenamente para sempre?
Momentos patafisicamente perdidos, tédio, frustração escrita em folhas amareladas, em branco, em cor-de-nada.
Passeios da minha cabeça pelo antiquário. Um nada, mas um nada tão bonito e tão perfeito para mim... Como terminar algo que não começa? Foi bom enqüanto durou, não? Não interessa.
Superações que não superam nada. Esperando um dia de ruptura desse tédio relativo, esperando esse dia que não vem, e que não virá jamais, então...
Então você me ligou.
Os meus segundos viraram minutos, meus minutos viraram horas, minhas horas viraram dias, meus dias semanas, minhas semanas viraram meses, meu meses se converteram em longos anos que não passarão jamais...
Maldito fim de semana que não chega.


Que bosta de clichê. A única coisa que realmente importa são os três últimos versos.
Prometo que escreverei textos mais coerentes a partir de ontem.
Mentira.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Minha Novela apresenta: The Association salvou a minha vida!

Acho engraçado.
De verdade.
Até que ponto chega a incopetência neste país. Nem os pequenos assaltantes -pelo menos os que moram aqui no Tatuapé, mais precisamente no subdistrito Cidade Mãe do Céu- 'tão conseguindo manter seu negócio mais.
Há poucas horas "sofri" mais uma pseudo tentativa de assalto. 'Takioparíl.
Pseudo sim, porque tenho até vergonha de chamar aquilo de tentativa. Se eu soubesse que era assim, tão engraçado, já tinha deixado de temer esse tipo de coisa.
Ano passado (caso um) foi uma tentativa quase bem sucedida. Quase bem sucedida porque os pivetes queriam um celular -que eu não tinha-, e acabaram levando um óculos piratex. Suas armas: um jornal.
É sério, levei uma jornalada. Por incrível que pareça, levei aquilo tudo numa boa, mas todas aquelas pessoas que me amam me deixaram numa paranóia tal, que dois dias depois fiz a maior merda da minha vida. Levei dois inocentes para a delegacia, os policiais lhes humilharam etc. Não acredito em arrependimento, porque acho que os eventos negativos contribuem para a superação do indivíduo; mas eu gostaria muito de ter evitado aquilo.
Ri dos pivetes.
Semestre passado (caso dois) um carinha me seguiu em volta do shopping Metrô Tatuapé, em busca do meu dinheiro. Abri minha carteira e mostrei-lhe que eu não tinha trocados, mas na verdade eu tinha uma nota de dez.
"Pô! 'Cê 'tá cheio das nota!"
O cara era um incopetente. Fazer aquilo logo no meio daquele monte de gente!?
Convenci-o de que iríamos à polícia; ele e eu, grudadinhos e andando lado a lado como estávamos. Depois de encher um monte o saco dele, ele desistiu.
"Seu Zé Povinho."
Faz uns três meses (caso três), logo quando eu comecei a ir ao curso técnico. Estava voltando pra casa à noite, umas onze horas, perto do shopping também. Dois caras, incopetentíssimos, tentaram me imobilizar enqüanto eu mexia no fone de ouvido do meu mp3 player. Perto do shopping e d'um bar aberto, na frente do guardinha que cuida dos carros. Burros. Comecei a gritar e me contorcer até me desvencilhar dos dois. Dois. E maiores que eu. Nem para me seguirem até as ruas vazias do entorno da minha casa.
Minha mãe me busca de carro até hoje.
Bom... Uma ciclovia nova que liga algumas estações da zona leste, e ajuda bastante os ciclistas (caso quatro).
Que maravilha aquilo. Segui a ciclovia um monte, e continuaria seguindo se não aparecesse um idiota. Na verdade eu continuei seguindo. Ele também estava de bike. Parou e ficou me olhando enqüanto eu seguia. Ué! Segui. Cantando "...along comes babyyyyyyyyyy", um verso da música que tem o mesmo nome, do The Association. Barulho de bike amplificado.
O sujeito apareceu do meu lado, e começamos a andar lado a lado, sobre a bike, na mesma velocidade. Eu pensei; "será que ele quer apostar corrida comigo?"
Ele começou a ziguezaguear; "será que ele quer brincar?"
Tirei o fone de ouvido de um dos ouvidos. Ele falou "'tá co'o celular?"
Uáááááááááááá!! Fi-lo comer poeira. Quero ver agora quem é que vai falar que eu gastei dinheiro demais em bicicleta.
E olha que ele era mais magro e mais alto que eu.
Enfim, segui até certa altura da ciclovia e voltei, vendo que ele não estava mais atrás de mim. Pensei que ele tivesse voltado para o local onde primeiro nos vimos, afinal, tinha um ponto cheio de pessoas ali perto, e ele não marcaria bobeira.
Incopetente; marcou.
Comecei a voltar na outra direção e o filho da puta 'tava lá, indo na minha direção.
Burro; justo na parte mais larga da ciclovia.
Zigue-zague na grama, na calçada, na ciclovia.
Despistei o idiota, inda comecei a rir de tanto gozo e Jamiroquai.
Corri que nem... que nem algo que corre bem rápido.
Parei no Parque Sampaio pra tomar uma água, quando cheguei ao Metrô Carrão.
Depois segui até o Metrô Tatuapé, de novo pela ciclovia, e quando olho pra trás, lá estava o carinha.
Subi na passarela do metrô, e de lá não vi mais ninguém.
Incopetente.
Eu devo ter as manhas pra emputecer os caras que tentam me assaltar pois eu me acabo de rir da cara deles (exceto dos do caso três, que realmente me assustaram). Mas sou mais fã deles do que dos caras que os botam nessa situação. O babaca mais rico do Brasil, que todo mundo que lê a Veja aplaude, por exemplo. Alguém vai falar "você nunca foi assaltado de verdade". Raiva eu tenho. Mas eu também tenho cérebro.
Indo pra casa passei pelo Augusto, que me disse "Sinta-se capaz".

domingo, 16 de novembro de 2008

1ª Imagem Digna de Aparição no HN


terça-feira, 11 de novembro de 2008

Ruptura.

Nada de relatividade.
Nada de anti-tédio.
Estamos na era da falta de imaginação.
Na era do gozar vazio.
O gozar vadio, o gozar no rio.
(espaço para poesia concretina)
POESIA CONCRETINA
QUÃO CRETINA ÉS?
(gostaria que os dois versos supracitados fossem de minha autoria)
Simulacro, fleumático, e palavras que ninguém entende.
Só eu, e a minha boca recém-encerada, magnificamente desvirginada ao pôr do nada.
Ao pôr do nada.
Uma bactéria congênita, hospedada no fundo das minhas entranhas, esperando a hora certa para explodir, causando um Big Bang, flores e chumbo.
Sou eu durante essas horas de angústia existencial, e que bela angústia.
Angústia do reconhecimento.
Angústia do conhecer-me como ser normal que me sou.
Vestido, maltrapilho ou maltratado, allegro ma non troppo, vivo e morto de pseudo-anti-reacionarismo-de-adolescente-passando-por-fase-de-afirmação.
VAMOS AO PSICANALISTA!!
E as pessoas da sala de jantar?
São sempre as mesmas, esperando o dia em que irão pro (fim do -- findo) céu.
Eu já estou nas nuvens e só uma bela pancada me tiraria daqui.
Não existe poder, sou igual a você e utopias à parte, o que me parte é esse raio de nada-singelo, esse raio de nada-terrível, esse raio de quase-nada-vulgar.
Pervertor, distorcedor, subvertor.
Oh! Lua linda
Não fique nua
Teu brilho finda
No fim da rua.
Sou humano, e sei de mim.

domingo, 2 de novembro de 2008

A Máquina Social

co-autoria; Érick Soubihe.

Todos os indivíduos têm potencial para administrarem a si próprios, desde que as suas faculdades mentais o permitam, ou seja, desde que não estejam clinicamente comprometidas. Hoje em dia as pessoas estão sujeitas à sobrevivência, pois existe um dispositivo de poder centralizado que as induz a isso. Tal dispositivo é responsável por coagir, alienar e iludir os indivíduos quanto à validade do poder.

As pessoas condicionadas a sobrevivência, são pessoas que "vivem por apenas viver". Por mais que tenham objetivos a serem alcançados, acabam vazias e frustradas. O conteúdo dos objetivos em questão, se analisados de um ponto de vista social, são vazios, superficiais e extremamente falsos. Há o dispositivo de poder, formado por um conjunto de regras e de agentes que executam-nas. Esse dispositivo induz os indivíduos a sobreviverem (no sentido apresentado), já que é conveniente os organizadores dele; manipular fantoches, evitando que eles se revoltem, vigiando-os e punindo-os.

O indivíduo é fruto da convivência deste com o meio em que está, e absorve dos demais os discursos que farão dele um individuo. Tais discursos englobam diversos conhecimentos adquiridos que vão desde o aprender a falar até a estrutura do caráter do indivíduo. Sendo assim o indivíduo fruto de seu meio, ele tem potencial para administrar a si mesmo, mas a sua autonomia depende da reflexão que ele faz em relação aos discursos por ele absorvidos.

Os indivíduos estão condenados a morrer de tédio. Esse é o efeito colateral e também o ponto imprescindível desta máquina social; a hierarquização social cria o tédio, mas o tédio também é o pressuposto para a hierarquização social. A mobilidade social, e também a falta desta, assim como o dispositivo de poder, não passa de uma ilusão, mas o tédio está longe de ser uma ilusão. O tédio é o inimigo e o antônimo da realização pessoal; a sobrevivência pura e vazia; é a morbidez que guia os indivíduos na máquina social, e que mantém neles o espírito vazio.

Deixa-se de viver autenticamente em prol da manutenção de um dispositivo de poder. O condicionamento coage o indivíduo a escolher a máscara que melhor lhe serve, indo à vitrine que está ao seu alcance. Supre-se um papel específico e perde-se em vida. Os papéis fazem parte da organização social. Todavia, na nossa sociedade atual, eles assumem o caráter de puros agentes da segregação. O papel é o símbolo que determina a posição de alguém numa sociedade. É como uma fantasia, que serve ou não em um contexto específico, e sua mutabilidade é definida por meio do sistema de hierarquização social proposto pelo dispositivo central de poder. Vive-se ou conquista-se a permissão de se navegar em um afluente, quando na verdade tais afluentes não passam de uma ilusão. Fisicamente, o que existe é um oceano, pleno, infinito, e sedento por desbravadores.