quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Mich'Eu

devir-michê em conta-gotas


passo

xxxxxx, nick do skype, e Renan Diego, o meu, um cruzamento de olhares abrigado pela efeverscência de gentes esperando atualizadxs conterrânexs artificialmente bronzeadxs em Times Square e coisas assim, Aeroporto Internacional de Guarulhos, e a conversa dura três minutos - menos que os cinco previstos -, mostro conforme combinado meu pé, tirando-o discretamente do crocs.
- estou com seu dinheiro aqui.
- suave.
livre de seu olhar clinicamente treinado para identificar dominadores, perco a compostura.
algo como desejar rir de regozijo, berrar de nervosismo e chorar de desespero, obviamente acompanhado por um terrível enjoo para o qual a larga quantidade de cafeína ingerida pouco antes agregava.
cinquenta reais, lucro de quarenta e poucos, logo convertidos em uma cueca amarela com a palavra dinheiro no elástico e uma corrente de latão.
chamo de investimento.


acidente de trabalho

ele pechincha, mas não dá: é muito feio! ainda assim contrata: meu primeiro programa de rua.
depois de poucos minutos me chupando, sinto uma fisgada tremenda no pau, vermelha é a cor que visualizo no instante da dor fodida! vermelha é a cor que tinge minha cueca à medida que meu pau latejando esguicha sangue a partir do meio centímetro de fissura recém-aberta! vermelha é a cor da poça que se formaria ao seu redor caso o que desejei naqueles instantes se convertesse em realidade!
receoso, o FDP esboça preocupação, mas receia represálias imprevistas, corretamente, como qualquer um faria ao se defrontar com minha feição desoladora e maníaca calculando o prejuízo sobre o instrumento de trabalho.
cara, seus trinta podres reais não vão pagar nunca os vários dias que deixei de trabalhar por causa desse acidente de trabalho.


janta

- gosto de dar pra moleques desde criança, ele confessa pra mim já dentro da pizzaria.
seria surreal se não fosse ardentemente possível. do que você teria mais nojo? da barata que vi passeando matreira por entre as mesas, ou da esporrada que ele alvejou sobre o piso no qual mamãe, vovó, titia, bebê deslizariam na noite seguinte antes de sentar e pedir uma margherita?


xenicalizar

orlistate é um fármaco que tem interagido com meu corpo. um de seus efeitos secundários, por mim almejado, é a perda de peso.
outro efeito é a excreção de gordura humana líquida pelo rabo - e por isso alcunhei a pílula de cheque-anal. termos presentes na bula, como incontinência fecal e perdas oleosas servem para agregar à ambientação de filme de terror e suspense.
a partir de um certo momento, xenicalizar-me tornou-se convergência entre aspiração estética e investimento em um plano de carreira.
xenicalizar e prostituir; tenho encarado estes verbos como formas de testar e atualizar meus afetos e desejos.
e de repente ganhar uma grana com isso.


xxxxxx (em três atos)

às vésperas vespertinas, irremediáveis e neuróticas de 2014, desço no metrô República, saio na rua do Arouche, viro à direita na Aurora, à esquerda na Vieira, e passo por ele. a cena de sempre sobre flertar.

última tarde do primeiro dia de 2014, saio da casa daquele viado enormemente asqueroso depois de meia hora de suplício, oitenta e cinco dinheiros no bolso. o nick $ 2 Ativos rendera aquele montante. tenho que de alguma forma retribuir ao xxxxxx.

trabalhar com prostituição implica em lidar com formas contingentes e imprevistas de ética, responsabilidade, atribuição de valor de uso e de troca, e contrato. o coleguismo não escapa dessa lógica. xxxxxx se apaixonou por mim, e isso não apenas marcou nossa parceria, como assinou seu óbito.


xxxxxx

xxxxxx queria me esganar até entrarmos no apartamento na Herculano de Freitas. xxxxxx é um doce - o doce veneno de xxxxxx. queijos importados, cerveja à vontade para mim, para eles uísque.
de posse do resto de uma garrafa de Red Label, xxxxxx foi assaltado. levaram, além do meu boné e seus documentos, os oitenta reais do programa. eu, de posse dessa edição laranja da CIA das Letras da obra poética completa do Leminski, flertei com um moço muito bonito chamado xxxxx, que infelizmente viaja muito.


tekar

tekar, na gíria virtual sexual, é dar um tiro, cheirar padê, cocaína. fazer sexo tekado é uma modalidade de encenação: criar um ambiente propício para excessos - tais como sexo com pederastas.
naquele motel da Vergueiro, próximo à estação Ana Rosa, ele me disse: só faço isso tekado. cheirou pelo menos três vezes na minha frente, e aí, quando o beijava, parecia estar lambendo a tampa de um vidro de verniz.
meu caro, se tekado você é capaz de me dar oitenta reais só pra chupar o meu pau, espero que morra de overdose!


licença

quando a porta do elevador se abre, o pórtico de seu apartamento, o xxx do xxxxxxxx, uma obra-prima do xxxxxxx a poucxs destinada, na Avenida Higienópolis, estou descalço e apenas de cueca, com a camisa e a bermuda de ótimo bom gosto e a bota finlandesa com as quais ele me vestira para ir aquele dia n'Alôca.
jogo as peças em um canto qualquer assim que entro, a passos largos trepido em direção à sala da televisão - onde minhas roupas plebeias estavam guardadas -, visto-me rapidamente, passo pela cozinha, pego uma Budweiser e, sem dizer palavra, saio do apartamento.
até que se prove o contrário, pela última vez.


super'stição

em 2009 com a xxxxxxxxxxxxxx em Praia Grande adquiri um vidro de colônia Pega Homem. até hoje se dispenso sobre esta torpe epiderme tal solução, imediatamente minha cabeça delira deslizando sobre o cheiro daqueles dias.
não acho que a magia da loção seja infalível. acho que atrai homens que me deixam nervosa na rua, aumentando a propensão de gastar meu precioso $êmen com vícios.


fazer um vício

difícil esquecer'tos gostos. a primeira vez que comi lichia, as várias primeiras vezes que comi lichia. hoje bem sei que comer lichia é quase sempre submergir em delichioso deleite.
a cabeça da sua pica era rosinha, lembrava a carne da fruta que tanto gosto de desfiar, e cujo sugo desejosa e prazerosamente sorvo. restava aí cotejar o leite da sua lichia com o suco daquelas que estou habituado a comer.
entro no carro cinza, placa xxx.
e o doce gosto da sua porra era idêntico.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

ontem Mazinho na noite Perila

---- dei
me conta
__de que você é a/s lágrima/s vertida/s a obcecada-preocupadamente tingir promíscua meus bolsões de água espumando com a aquarela do lápis de olho cuidadosamente rabiscado sobre a feroz carne querendo ser miserável, menor, desprezível
__e é também a sedosa superfície de um cobertor dupla-face, friccionando sobre as crateras e quimeras da minha cabeça, brindando condições aos destemidos ácaros dos meus cravos de imiscuírem-se aos primos abrigados na manta tua; transculturalismo, multiculturalismo, reflexividade
__é por fim o conjunto de fluxos e correntes e flutuações e suspensões (suspeitinhas e suspeitonas) que nos levam e trazem de volta para o mundo das pirocas que sul que são como ouvir killing me softly

você é Mazinho tudo isso
e mais algo
a aventar



mago dos pombos

ao concordar com a assertiva Eduardo
rima com perturbado
(censura Dorival com sua postura altiva
como se expiasse enfim... o
psico-pato
fechando o bico
e a sócio-pata
outros bicando)

gatos decrépitos
-------------------velhos
-------------------------neuróticos
---------------------------------cancerosos
------------------------------------------neurogatos
------------------------------------------esquizogatas
------------------------------------------e você
um você um você um você um você limpou o cocô limpou o cocô limpou o cocô e desabou e desabou e desabou até por completo desabafar, até desabafar por completo enxofre o ovo às pressas engolido.
se ao menos os bichos que te consomem te consolam,
quem sabe eu não possa me juntar ao pombal-gatil que te orbita, deixa eu ser
teu gat'ombo, me dê o alpiste
com que te alimentas,
e se o único jeito de ter sua atenção e amor seja cagando fora do vaso,
me deixa ser teu gato neurótico prostrado pela casa.