sábado, 24 de dezembro de 2011

não-respostas para guardar um recado gostoso de algo que ninguém-ninguém

Andar de bicicleta na areia fez Between the cheats fazer algum sentido. Hoje, tomando alguns sorvetes - compilados, espremidos - ouvindo Valerie, pensei na bênção de ser classe média. Então subi na bike ouvindo The girl from Ipanema. Esse álbum póstumo da Amy me deixou muito... Amy feelings.
E agora, ouvindo Mr. Magic, música que conheci com a Amy, na versão de Grover Washington Jr., cervejado - uma (apenas) sub-zero - me sinto apto a inaptamente ex-crê-ver. Tive um ano (in)(im)produtivo em textos blogados. Não sei, acho que nem uma retro'spec'tiva faria muito sentido, não sei se eu escrevi o bruto assim - comum - para uma. O quanti., querido, não é tão - assim, como vou dizer - (im)(por)tant'e, talvez faça a retrospectiva, o bruto deve estar em São Paulo (santo/a HD externa/o).
Meus amigos são uma coisa tanta.
Minhas músicas - ouvido/as - outra.
Estar a seiscentos quilômetros - imaginados - de distância me faz pens'ativo. Penso, penso, sinto. Me faz, sobretudo, pensitivo. Tenho pensado no sul-cesso. Muito. Aqui em Pontal - especial.
Ca(d)(rr)eiras a(cadê)micas e (ar)tís(t)icas.
Pessoas sobre-tudo. Estou um carente social. Voltei ao normal! É, como conhecer pessoas fosse aquilo que me mantém energizado. Imaginar que eu conheço, conhecer de fato, 'seudo-conhecer. Preciso que as pessoas (não!) (sim!) me amem, ouçam, apreciem, leiam... Elas (não) fazem! Ser eu é gostoso, o (re)conhecimento lindo!
Tá bem assim, como se tivesse dado certo (...); pois é! Como como.

noite de na(da)tal, Pon-tal do Paraná, 24122011d.C.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Momentos de crise são por excelência o lócus -tradicionalmente endossado- da minha produção criativa catalisada. Por momentos de crise leia-se uma espécie de explosão que acontece no meu cérebro que balança ou transforma minhas estruturas concretas e "racionalizadas" de atuar (bricoleurmente).
Ficar muitas horas sem dormir é um "agravante"; eu fico pensando, pensando, pensando, pensando e é uma coisa -como se diz- do capeta -que, por excelência é o artesão de pensamento ruim.
O fato é que as horas se passaram e os fatos recentes se repetem, como se o meu dia -que está durando vinte horas- estrategicamente situasse cada cena como uma pauta a ser discutida. Então, desde o dinheiro, a música, a carreira, a maconha, a corpolatria, o sexo, o amor, os estudos, a política, a polícia militar, a faculdade, minha vida social, aparecem todos estes tópicos em cenas que isoladas parecem ser metáforas que criaram vida e agora ajudam este administrador de vícios a dar um help no traçado cujo fim é a morte -ou parece ser.
O golpe mais baixo veio a vinte minutos atrás -antes de eu subir para o laboratório multimídia da minha faculdade, chamado Pró-Aluno, apelidade Pobre Aluno-; estava lendo o tristíssimo Precarious Life, da Judith Butler, entendendo 10% porque meu Inglês é fraco; triste porque eu concilio o pouco que entendo com o tom da língua da autora, que é emotivíssimo, e o meu ex-namorado, que é sobretudo um amigo, mais do que ex-namorado, apareceu com um homem belíssimo ao seu lado, e parece que aquele era o momento mais feliz da vida dos dois... E foi instantâneo e aleatório, como eu sempre sonho -ou costumava sonhar com mais frequência-, isto é, foi como eu vi a cena, algo que impediu algumas noites e que as transformou em textos quase amargos, ali, na minha frente, e não era eu; não tinha nada a ver com o Rafael, era algo como um flerte que você fica olhando pro cara e seu coração bate muito, então você vai lá e conversa, e você tá super nervoso mas dissimula, daí você percebe que ele está suando muito, e você pensa NÃO PODE SER POSSÍVEL, você acaba de constatar que é a pessoa mais feliz do mundo... Agora, quando isso acontece na sua frente, você está na minha situação, e não é você um dos dois -supondo-se que são dois- protagonistas, você sente o peso, larga sua leitura tristíssima -que até onde eu li tratava da dor da perda (loss) de alguém com quem você tem um laço (tie)- e vem chorar ao teclado, olhando desolado para a tela... E o pior, você ainda não tem sono.

domingo, 14 de agosto de 2011

Peito de Peru: Análise Clínica na Madrugada

Acordei de madrugada com uma mensagem de texto do homem. Acho que, se merece algum epíteto, o ideal é este: o homem. Estou algo dentro de mim que não se parece muito com fome. Não sei se devo ir à cozinha e fazer o meu diário pão com queijo e peito de peru. Nunca é só isso, tem que ter cream cheese ou manteiga também. Não sei se deveria confessá-lo, mas às vezes me dá de misturar os dois. Sei lá. Não sei se é fome, pode ser vontade, como a vontade que eu tenho de me misturar ao homem, levantar às duas da manhã -como agora- e fazer uma boquinha (se me faço entender). Sentir o sabor do peito, do peru, me lambuzar em cream cheese. Como agora. Deve ser sobretudo vontade. Assim como uma fome do homem. Como eu viveria sem a psicologia?

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

st (Meu amor é um tigre de papel)

Ele estava lá, dançando, contido. E eu, eu era uma verdadeira mulher, balançando descoordenadamente os meus ombros (dos quais quadris, nessa complexa rede que são as minhas articulações, não dissociam) na tentativa relativamente ingênua -como qualquer tentativa sobrelitosa- de provar a algo-alguém que sofro-não-sofro. Ou melhor, não de forma descoordenada, mas formalmente coordenada tal como tigre de papel (meu) dançante -dança um funk estadunidense.
Mas não tão-contido, como um heterossexual que expõe todo o seu brilho secreto após algumas pingas, cervejas. Rajadas, são seus olhos verdes que me faíscam. Esqueço. Fico funkeando livre, leve, solta, bebida, até o homem me abraçar. Com apenas um braço me envolve em todo o seu universo. Eu te amo.


Escrevi durante a primeira aula de Sociologia do semestre. Tigre de papel é uma referência lambida primeiro de Jards Macalé.
"Meu Amor É Um Tigre De Papel/Range, Ruge, Morde

Mas Não Passa De Um Tigre De Papel/Numa Sala Ausente Meu Amor Presente/Me Esconde Entre Os Dentes/Depois Me Abandona E Vai Definitivamente/Definitivamente Volta Ilude Desilude/Range Ruge Rosna/Velho Tigre De Virtudes/Nas Selvas De Seu Quarto Entre Florestas Cartas/Frases Desesperadas Lençóis/Onde Me Ama/Furiosas Garras/Meu Amor Me Agarra & Geme & Treme & Chora & Mata/Um Tigre De Papel Perdido Nos Lençóis Da Casa"

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Volta às antigas: Arnaldo Baptista e afins.

Fazia tempo que eu não ouvia o Arnaldo Baptista.
Fazia tempo também que eu não postava no Hello Niti.
Esse texto soará então como uma volta aos velhos tempos. Ou não.
O Arnaldo Baptista é um desses, que eu nunca vou ver o show mesmo. Eu nunca cantarei com mais mil pessoas Desculpe, em um grande e interminável abraço. Também jamais cantarei Stranded In Time porque a legião de fãs de United States Of America deve ser, no Brasil, equivalente ao número de membros da banda (ou inferior, o que impossibilitaria mesmo uma tentativa de cover).
Tem algo nessa nova legião de emepebes que me desanima. Tudo me soa muito simplório. Não que eu resista necessariamente a isso, apenas vejo algo de sintomático. Comparando duas chansongs, Navegar de Novo do Arnaldo Baptista e Chá Verde de Tiê; percebo na primeira uma espécie de tentativa de englobar um sentimento específico em uma verborragia sufocante pelo fato da situação política pela qual passava o Brasil -e mesmo a camada artística underground- na época; percebo na segunda exatamente o movimento inverso, uma tentativa de simplificar no limite máximo da linguagem um sentimento específico e canalizado na narrativa por detalhes da experiência individual. Melhor dizendo, "já faz muito tempo agora que a humanidade chora de vontade de sair" versus "o saldo final de tudo foi mais positivo que mil divãs".
Certamente o projeto de Arnaldo Baptista em 1974, melhor apreendido tendo em vista o momento conturbado pelo qual passava -será que eu vou virar bolor?, cê tá pensando que eu sou lóki, bicho?-, antes pretendia virar o intimismo do avesso (herança tropicalista?); vejo em Tiê -e em toda essa cena paulistana de cantores afrancesados, músicos interessados em explorar uma infinitude de linhas melódicas em apenas dois acordes, brancos e vestidos por grifes famosas entre os alternativos, algo que na Eroslândia não pode jamais ser confundido com underground- exatamente uma retomada espiritual do projeto bossanovista, uma negação da gritaiada. A gritaiada aparece depois de Elis Regina esparsamente, às vezes travestida de influências estrangeiras (Cássia Eller, Cazuza) e às vezes simplesmente tendo como natureza total essa imitação (como em grande parte dos cantores pop brasileiros).
O incrível é a generalidade desse movimento dentro do repertório dos próprios artistas (o caso da Gal Costa é exemplar). Poder-se-ia dizer o mesmo a respeito do nosso caro Arnaldo Baptista, mas sabemos que a sua queda no astral não tem a ver com disposições da vida artística underground (cena Pompeia etc.) no eixo sul-sudeste, e sim com as consequências de seu uso abusivo de drogas.
E talvez esse seja um segundo ponto nitidamente distinguível entre as duas cenas: a coisa do politicamente correto, rejeitada entre a turma underground na década de 70s é, por oposição, endossada por essa turma paulistana (hippies versus yuppies?). No caso da Tiê, há um grande apelo a valores... moralistas. O amor, que aparece livre de qualquer barreira na fase progressiva dos Mutantes é, na sua forma mais conhecida e tradicional, resgatado. "Eu sou, você é também, uma pessoa só, e todos juntos somos nós, numa pessoa só, estou aqui reunido numa pessoa só" versus "mas o que eu quero mesmo é encontrar alguém que me dê carinho e beijos, e me trate como um neném, me trate muito bem, eu só quero amor, seja como for o amor". Curiosamente, Uma pessoa só foi gravada pela primeira vez em 1973 (posteriormente pelo próprio Arnaldo Baptista em 1974), e Chá Verde lançada em 2009.

Enfim não quero soar como aqueles nostálgicos fake, tampouco como apologético do estilo-de-vida brasilidade paulistana (sobre o qual falo em algum lugar deste blogue); ainda assim não quero prescrever modos ideais do produzir artístico. Quero antes suscitar o debate entre a produção. As variável técnica-criatividade foi pouco discutida aqui (exemplos como Itiberê Orquestra e Família e Projeto B poderiam ser polemizados se formatados como uma provocação à maneira hegemônica de se pensar música no Brasil ou em São Paulo -primeiro e segundo casos respectivamente).
Como pensar no potencial político desses artistas paulistanos: Arnaldo Baptista, Projeto B e Tiê? O primeiro caracterizado em Lóki? por um intimismo explosivo relegado a um grupo específico de junkies fascinados por música underground setentista, o segundo intentando certo projeto universalista hiper-complexo relegado a uma elite intelectual e artística, e o terceiro irradiando um novo intimismo em formas consagradas de concepção de música cantada e destinada a uma camada considerável de alternativos.

Aqui me referi a
Os Mutantes - O A e O Z (1973)
Arnaldo Baptista - Lóki? (1974)
Projeto B - Andarilho (2004)
Projeto B - A Noite (2006)
Tiê - Sweet Jardim (2009)

1h59
2352011dc

domingo, 20 de março de 2011

Quando da terra uma nenhuma ninguém né?
Então-netão, cris, que na na na na na na na.
Porque ju.
Na dúvida, ne ne ne ne.
Que tá.
Né?

sexta-feira, 11 de março de 2011

1032011

A despeito de um tal esforço-ano-passado hoje admito que o grosso das minhas seleções não passou de ser uma tentativa esperançosa (por que não desesperada?) de alimentar uma -supostamente- faminta carência-felicidade. O digo porque sinto demais agora que o peso dos meus relacionamentos (ao menos o grosso deles) é praticamente nulo -quando não negativo. Ao menos o grosso deles sim, já que o meu parâmetro se baseia na pífia quantidade de experiências de fato plenas e dotadas de algum conteúdo, surpreendentes e irreversíveis -e aqui o pressuposto não é apenas o reconhecimento de um diálogo frutífero, mas o de que é nesse tal diálogo que eu realizo o mais potente dos meus prazeres.
Digo isso porque a maior parte dos caras é babaca; são todos muito banais e previsíveis (preocupados em imitar uma mediocridade centrípeta); qualquer coisa minimamente interessante era, na forma de mentira-ilusão, adotada por mim feito evidência, uma desculpa para sentir-fingir. Depois de determinadíssimos acontecimentos pareço-me incapaz de permitir que uma assimetria tal me acompanhe futuramente, e estou decidido a impedir que qualquer resquício daquela (como se apresentou em toda a minha experiência e seja passível de ser considerada como tal: assimétrica) perdure.
Também ando me sentindo renovado em relação a minha própria conduta. Andei discutindo com meus parentes; eles não reconhecem uma tal legitimidade nas minhas atitudes -estas justamente têm-se transformado de fato em projetos explicitamente políticos, em contraposição à latência que tais representavam quando aquelas eram puramente estéticas e diziam respeito a efeitos da minhas realização pessoal.
Mas felizmente -e entendo o papel cristalizado pós-crise dos meus amigos em atenuar verdadeiramente as pressões que vim sofrendo e evidenciar o caráter ameno da minha nova carência- estou relativamente satisfeito em saber que as (tão famigeradas e muitas vezes supostas) recusas externas estão, pelo menos da minha perspectiva, representativamente sujeitas ao crivo de meu véu-de-realização-pessoal, que comportam tanto o conjunto de ações que delimitam se eu sairei de cueca na rua ou usarei calça, se pintarei as unhas do pé ou vestirei uma coisa mais sóbria, como se há ou não motivos para ter um relacionamento com determinada pessoa.
Enfim, além de enfim falar com relativa cristalizada propriedade sobre a minha nova filosofia de relacionamentos e de também me apoiar em novas estratégias comportamentais e nos conflitos que a minha experiência pessoal me proporcionou quando da adoção daquelas, há mais um legado daquele esforço-ano-passado: é o peso da heteronormatividade.
Creio que, em grande parte, os homens aos quais tenho acesso sejam tão iguais especialmente porque se preocupam todos em manter uma independência e controle tais -previsíveis na matriz normativa sexual- que os impedem de experimentar qualquer movimento que transcenda o relacionamento esperado naquela matriz: composto de uma assimetria inerente de poder (ainda que teoricamente seja cambiável e se dê por revezamento). Senão arraigada à prática sexual, latente e pressuposta na conduta intersubjetiva. Esses homens esperam que eu os satisfaça como ativo ou passivo, que eu me apresente como feminilizado ou mascunilizado, às vezes esperam que eu sequer me apresente como parceiro, esperam inclusive que eu cumpra uma série de funções relacionadas a uma estrutura de relacionamento e esperam que eu saiba controlar minhas expectativas conforme tais estruturas.
Termino o texto com uma promessa de que esta minha nova forma de encarar todos os relacionamentos, amizades ou não, inscritas nesse projeto de superação de uma morfina-carência, está aliada também a uma nova maneira de entender a minha auto-realização pessoal. Também ficam relativamente hipotetizados os motivos que me influenciaram a esquematizar projetos de hiperautovalorização, e como esse desejo tem se associado aos problemas corriqueiros do meu cotidiano.

5h39
1032011

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Fim. ou Fim? ou Não.

Achei que dando este título, as coisas fariam mais sentido.


confissão 3112011

lembro de cabeça algo anotado há bastantes meses atrás sobre a escrivaninha.

"2008 me ensinou a pensar
2009 me ensinou a ser frio
2010 vai me ensinar a congelar"

não posso deixar de revisitá-lo.
o que significa jogá-lo fora.
desde 2006 comecei a intentar vida. assumidamente em 2008.
2009 foi um ano de aproximação com certa auto-responsabilidade.
2010 foi, a contragosto de mim mesmo em sua aurora, o melhor ano da minha vida; este janeiro e o dezembro precedente, os dois melhores meses.
2010 foi um ano de esquentar e congelar, de projetar e o meu futuro será o efeito total de tomar essas rédeas todas (e não tomá-las todas, o que é igualmente fundamental).
assim como em 2010 foi possível pensar superar 2009, tão cedo supor que este ano superará o precedente seria exagerada presunção.
acontece que eu não estou supondo nada.

3112011


Nota sobre 922011

Tão rapidamente nos despedimos e eu já estava fazendo quilômetros de lágrimas (secas como o desespero, úmidas como o quente e dourado dia -você estava lá o tempo inteiro) pela cidade estrelada. Pensei na Lua em grande medida. Ela seria a grã-triunfal-entrada. Apenas uma flor. Mas a gente sabe. Não devemos interpretar apenas como uma flor de despedida. Só sei que sobre as duas grandes mulheres da minha vida, Heloísa e Maria Eugênia, redondas, estagnei hipnotizado, assim como você, que sumia conforme a patética chancela cor-de-chumbo lhe eclipsava.
A porta fechou, e nada mais me restou.
Não sei você, mas na forma de algo entre arrependimento e hesitação desesperada, talvez um cristal pós-esperança, rolei em direção ao centro da cidade. Talvez. Talvez porque simplesmente eu na realidade quisesse muito pedalar diretamente para você e dizer tudo aquilo que em cinco minutos eu não tive tempo.
Dizer que eu tinha uma música para lhe mostrar, perguntar se ele havia terminado aquela poesia sobre a Lua, e levar às últimas consequências suas possíveis respostas. Queria muito. Queria muito fazer com que ficasse mais tempo comigo. Queria pegar em sua mão. Enfim, apenas consegui situar nosso próximo encontro.
Você jogou em minha direção aquela flor.
E eu estou muito arrependida de não tê-la agora comigo.
Me sinto sozinho.
Demais.
Aqui.
Né?

1h43
1022011


História dos Deuses

O suicídio me intriga.
Gostaria de entender que tipo de sofrimento é esse que impede as pessoas que estarem vivas. E queria saber quem são essas pessoas que se privam da experiência mais maravilhosa da vida, que é sofrer.

Tinha que ser novo, afinal as coisas boas são sempre novas, à excessão do próprio estatuto de que são. Tinha que ser belo, ainda que as outras pessoas não observassem nele os belos traços da mediocridade. Porque algumas pessoas são como deuses gregos. Na multidão, onde são produzidas e guardadas (ou melhor, enriquecidas e escondidas) não lhes parece corriqueiro necessariamente causar sensação. Digo isso porque não lhes interessa necessariamente aparecer ou sumir. Não lhes interessa, como deuses convencionais, ter o controle do tempo nem estabelecer a sistemática de seus jogos sociais. Isso tudo é muito secundário. Interessa-lhes viver.
Tinha que ter outro. E quando esses mutantes se encontram, não há também um protocolo fixo de comunicação. Eles são antes de tudo meros administradores de vícios (ainda que a sofisticação com que realizam suas vidas seja um pouco diferente da da média). Mas aí, na história, eles se trocam.
Eles se tocam.
Mas, como convencionalmente acontece, um ganha e outro perde. Se bem que, em se tratando dessas coisas (que possuem um dispositivo central funciona como um liquidificador, que transforma as coisas bonitas e abjetas, as sujas e as corriqueiras, em um maravilhoso e sistemático milk shake). Um ganha e outro perde, em infinitas combinações, incontáveis dimensões.
Diz-se que são felizes. Seria pretensão demais dizer que fulano ou ciclano são felizes, e a mediocridade tem fórmulas muito lógicas e cruéis para mensurá-lo. Se não isso, então, apenas chuto que, ao menos, são muito mais interessantes do que a média.
Como nas tragédias, um morre e o outro não. É isso que acontece no fim da narrativa: um morre, não sei o outro, não sei não, mas um morre, e do pó, e das ossadas, surge algo intrigante, como o que havia antes, excêntrico no melhor estilo continuar-vivendo. Basta não ser frouxo. Basta não se tornar essa coisa brega e triste que é a neutra sobrevivência.
Tinham que ser novos. Tinham que ser plenos. Tinham que ser deuses. E tinha que ter uma tragédia.
Decididamente, viver, aqui, é simplesmente protagonizar a mais bela das tragédias.

13h48
1522011

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Paixão.

Sublime.
Flutuando, nossa!, fazia muito tempo que isso não acontecia, no metrô cantante, eu cantando. Fazia muito tempo que homem nenhum me inspirava (e expirava) tanto. Acho mesmo que era eu, entrando nas intermitentes narinas do humor pós-noturno.
Nunca imaginei que um resto de certeza, uma tão precária segurança pudesse ser capaz de me içar desse jeito. Não adianta, né, a gente sempre acha que prevê tudo, mas se uma coisa não mudou nos últimos dois anos, pelo visto, foi a ingenuidade do grande amor platônico. E grandes amores platônicos não me apareciam há uns dois anos. Esse é um pouco mais do que platônico, ao mesmo tempo acessível e inacessível, e tudo que julgo ser da ordem da comunicação acontece no subterrâneo de olhares que não posso dizer se de fato são significativos de nada (talvez eu esteja em uma grande paranoia). Mas eu tenho essa intuição.

Hoje me soou como um encontro.
Na mulher da nossa vida acho que há uma marginal inter-comunicação, não sei se de fato. Por exemplo, um gesto que dura mais tempo do que deveria quando sua intenção é simplesmente funcional. Uma bola de bilhar que desliza de minha mão e patina em sua, enquanto nossos tentáculos se esforçam para continuar presos no segundo. Um abraço de despedida que só termina quando a ponta do maior dedo de nossa mão cessa de deslizar em nossas costas. Ao mesmo tempo, não tenho a impressão que o moço se esforça para estar fisicamente mais próximo de mim. Quando dessa situação, parece que se aproxima visualmente.
Enquanto a outra dá uma tacada na alva esfera que contrasta com a verde relva, nossos olhos se atacam, na forma de semicerrados sorrisos, durante um segundo, o que pode não significar nada, mas que, minha nossa!, podem significar absolutamente tudo!
E quando a moça cessa e eu lhe acompanho, o moço, até sua casa, as gracinhas cessam, andamos sem nos olhar, porque agora não fisicamente, nem ocularmente, mas mentalmente nos contorcemos para entrar no consenso do ritmo dos passos. Então desistimos de sua casa, o papo vai muito bem, e então arranjamos uma nova meta, e então quando eu me vejo, tempo estendido, estou sentado em sua frente na área externa do McDonalds dividindo contigo um milk shake de chocolate (o melhor que já tomei), enquanto falo sobre a vanguarda e você sobre Heráclito. E o mais interessante foram seus olhos. Fiz um esforço absurdo para não perdê-los, mas às vezes fica horrível se não acontece.
Do portão de sua casa saltitei até a minha. Flutuando.

Estou apaixonado por um heterossexual.

3h01
1412011dc

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

pequenas prosas do começo de 3012011

esta 200ª postagem.


te vejo no sonho
insistência (muda-trocada) fria.
depois e doce, acoberta-me (feliz algodão), seus dedos recheiam os meus, através da tecida película.
morro ao acordar.

3012011


minha falta-de-vida-quinta-feira, lembra?, liquidificou as dores todas elas: aquela). derramou-as na forma de torturantes gotas salgadas -lágrimas de viado-, ai minha pose de blasé posição.

3012011


nada menos sexual do que o nosso tocar de calos. passam sombras atormentadas na tão bem -puxa! quem diria!- iluminada -avenida- rua, passa aquele -encharcado- maravilhoso colchão de molas.
(anda! catapulta-me para o infinito!)
molas, catalisar: cata-alisar. meus dedos escorrendo no doce trigal -dourado- da sua inerte coxa.
nada mais sexual do que isto.
felicidade.

3012011


feri-lhe -docemente como só a gente entende: legal como críquete- o peito com o destro indicador em riste: intimo!
(ai que vontade de agudar: íntimo!)
enfim, ces't la vie: ínfimo.

no último visual contato um sincero, misericordioso e fraternal -algo como um eterno e potente amor projetado no infinito- beijo ocular.
ser feliz.

3012011


os olhos de você me bastam.
os olhos de você me vivem, né?
são mais do que auto-mantenedores da -cativada- escultura castanha; conhecem um talento -a gente sabe-, na real o talento -aquele.
não basta qualquer um te olhar pra entender, né?
pra TE entender tem que bastar competente intercâmbio.
leia-se -esta maravilhosa coisa!- eu e você.

3012011


o -ripado- disco rasgado nos hiper-superpostos tecidos do recém-desempoeirado (pseudo) lar acompanham a graforragia.
nítidos e legíveis como nossas duas vidas, dois -nossos- corações se balançam no úmido e quente espaço -só nosso- sideral.
são as duas únicas estrelas ali.

hoje, 3012011


não há amor irreversível, lógica ou contra-lógica do amor, príncipe ou anti-príncipe, suruba, outubro ou pós-outubro, amor de reveillon, utópico Guilherme, platonismo de telefone, namoro de armário, ou casamentira explícita, ou paixãozinha pública, ou blackout, ou paredes permeáveis, casamento de balada ou de banheiro, flerte em ônibus, rua, shopping ou parque.
só resta o suficiente e eterno potente -unilateral amor- que -eu invento!- você me deu.
carinho.

3012011

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Grande bobagem

Casal imbatível, eu e o Eduardo?
Que grande besteira!


APOCALIPSE
perto da uma hora - não sei se o suficiente*
(paraíso) as estrelas trigo-luziram, delas despencaram -água fresca & palmeira tropical- suas graças-senhoras.
a lua tosca era fosca -transmutação para umbigo verde no terrorismo que andava. que andava de mãos dadas com(o presente)igo.
(caos) chuva de cinismo. carregado cores insanas peguei-lhe a vida, calejada de precárias armaduras.
os dedos mais bonitos do mundo.
duas tentativas, acuadas, são o mundo, têm o mundo, hoje de madrugada, e sabem disso.

*a gente nunca sabe

(na) madrugada mais linda do mundo, 1912011


Crônica de um janeiro

Leio duas páginas do Foucault. Me desafia a empreitada-biografia-da-Elis-Regina (de uma quase homônima Regina Echeverria); o desfrute é maravilhoso, exceto a coceira nasal pós-leitura. Tentando considerar outros estados de espírito ponho a moça Waleska, no septagésimo quarto A Fossa, uma primorosa tentativa de resumir num bolachão a história da depressão boêmia da elite descolada intelectual quarentas-setentas. Primorosa tentativa.
Ah! Esse cara tem me consumido. A mim e a tudo que eu quis. Com seus olhinhos infantis. Como os olhos de um bandido. Ele está na minha vida porque quer. Eu estou pro que der e vier. Ele chega ao anoitecer. Quando vem a madrugada ele some. Ele é quem quer. Ele é homem. E eu sou apenas uma mulher.
Sobre os livros chocolates alemães inibidos sob plástico, sufocante e alvo véu. Recém-ganhados. Palmeira tropical, charminho lilás, sereia, água fresca, pistache e base vitaminada estão à esquerda desse coletivo de teclas. À direita NIVEA for men SENSITIVE PROTECT, extrato de camomila. Um malbec d'O Boticário. E Waleska cantando.
Pareço mais vivo hoje. Mais do que o dia retrasado, para mim mesmo. Redundante não. Fiquei contente. Com ele de novo. Na despedida, né? Tivemos todos um dia mais ou menos peculiar. Me senti na obrigação de trazer coesão ao rolê. Não foi um fracasso total. Só sei que, se despedindo, nos olhamos. E a incisiva iniciativa foi sua. A acompanhei, naquele misto de vontade e bichinho acuado. Nos despedimos da tarde fracassada na esguelha da esperança. A mais esperançosa. A mais sedenta e seca.
No canto dos seus olhos estou vivendo bem como nunca.
E quem diria... Se soubesse dos teus olhos, não tinha namorado com ninguém não. Basta cinco segundos de recíproca ocular, e me sinto o homem mais completo do mundo. Carência? Não sei mais como definir.
Essa é a coisa mais linda do mundo. Sabe mais? Não me importa mais nada.
Ah! Você está vendo só do jeito que eu fiquei e que tudo ficou? Uma tristeza tão grande nas coisas mais simples que você tocou. A nossa casa, querido, já estava acostumada guardando você. As flores na janela sorriam, cantavam por causa de você. Olhe meu bem, nunca mais nos deixe por favor. Somos a vida e o sonho, nós somos o amor. Entre meu bem, por favor, não deixe o mundo mau lhe levar outra vez. Me abrace simplesmente, não fale, não lembre, não chore meu bem.

1h22
2712011


st #grande sonho

Há uma cena no início do Enigma de Kaspar Hauser, Herzog, 1974, que retrata algo parecido com um trigal sofrendo intensamente a ação do vento e formando enormes e violentas ondas douradas.
Fico pensando se, ao invés de trigo, se tratasse de pêlos. Estar ali seria o meu maior sonho.

1h39
2912011


Sintoma

Hoje pensei bastante em você.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O Amor Irreversível #algo_como_o_sétimo_ou_o_primeiro

I
Pela primeira vez, desde que li Raoul Vaneigem e conheci meu primeiro relacionamento de prezado afeto, no fim de 2008, estou revendo -com tons de irreversível futuro- minha filosofia de relacionamento.
Na última semana tive uma experiência que me fez rever, revisitar e reavaliar todos os meus relacionamentos (enfim, toda a história dessa dimensão da minha vida). Em uma quarta-feira, dia 12 deste janeiro irreversível, no meio dos meus dezoito anos, decidi terminar um namoro que já transbordava dos sete meses, culpado, mas determinado. Muitos motivos. Falta de romantismo recíproca, déficit na prática sexual, vontade incontrolável de ter relacionamentos extra-contratuais, estresse desnecessário, descumprimento bilateral de expectativas, discussões desnecessárias, brigas etc. Interpreto de forma mais resumida dois pontos como centrais para essa minha decisão: o problema das expectativas dentro de um contrato frágil e o meu vício em um relacionamento espetacular, esquecendo algo essencial, a atração pelo meu namorado; problemas estruturais e cansaço, em suma.
Cruelmente, no dia seguinte eu passei uma tarde maravilhosa, completamente livre, satisfeito, aliviado, apenas um pouco culpado (culpa que não resistiu mais do que o passar daquela quinta-feira). Havia entretanto algo que, acho eu, contribuía para esse incrível e eficaz esquecimento ser catapultado. É estranho lidar com palavras, mas nós humanos fazemos isso. Não sei até que ponto posso errar ou acertar. Mas se eu fosse chutar, chutaria que estava apaixonado.
Eu me apaixonei pela pessoa mais linda do mundo. À primeira vista isso pareceria óbvio, mas a gente sabe na prática que não é assim. Qual é a nossa chance em relação à pessoa mais bonita do mundo? Aliás que utilidade essa pessoa tem se eu a possuo? Enfim, é um dado. Passei o fim de semana inteiro aflito pensando na hipótese de desfrutar de uma relação com essa pessoa. Segunda-feira saí com ela e uma amiga (espécie de prerrogativa para o bom senso). Terça mais uma vez, e quando nossa amiga se foi continuamos -por conta própria- a conversar, enquanto as horas do dia findavam.
O moço só havia conhecido relacionamentos com mulheres (embora estes mesmos tenham sido poucos). Referíamo-nos a ele, então, como heterossexual -ainda que ele mesmo não gostasse de se definir. Algo que inclusive aumentava a minha aflição, já que, por definição, heterossexuais masculinos não têm relações afetivo-sexuais com homens.
Havia outra coisa que me afligia em muito: o moço era belo. Em excesso, como sugeri em uma oração-preâmbulo; era fisicamente belo, com a voz mais bela, e bela mente sensível e inteligente. Isso é agora uma certeza absoluta para mim, foi naquele momento a minha maior intuição.
Mas, também em termos de intuição, me deixei guiar -e ele também, creio- por olhares e toques mais ou menos demorados, por gentilezas mútuas, favores exclusivos, charme.
Como eu o quis.
Como me quis. Bom, não o sei. O sonho. O crio e recrio mentalmente. O dia inteiro.
Através das horas.


II
Depois do Fran's Café andamos mais pela escura e paulistana noite sem estrelas. Me acompanhou até o metrô, mas não conseguimos nos deixar. No ponto de ônibus sugeri-lhe a conversa-aquela. Conversamos ininterruptamente durante meia hora apenas sobre a hipótese de eu lhe dizer aquilo que ele supunha saber.
Enfim.
Aconteceu.
-Lucas, eu estou afim de você. E gostaria que você, se possível, quando se sentir confortável, me respondesse duas perguntas. Se você ficaria comigo, e se você quer ficar comigo.
Um texto que eu havia calculado com uma semana de antecedência. Deu certo, porque ele aceitou.

No fim de tarde do dia seguinte à quarta-feira (ironicamente uma quarta-feira!) estivemos no Fran's Café conversando sobre sua, minha e nossa vida -natimorta.
Mas foi uma experiência de quase-morte. Na real, uma experiência de morte! E de renascimento.
Enfim, a experiência havia sido maravilhosa. Mas, longe de uma barreira de gênero, sequer uma discrepância da ordem da beleza, simplesmente havia um terceiro elemento; uma possível incapacidade para expressar determinados sentimentos dentro de uma relação a dois, o que impossibilitaria a recíproca e, então, o relacionamento. Algo para o que havia me alertado minutos antes de me beijar. E me beijou. Disse-lhe de forma a encorajá-lo -não sei se funcionou- que eu pagava pra ver, que estava assumindo um risco que é o risco que assumo em todos os relacionamentos. Disse-lhe:
-Eu só sei que eu quero ficar muito com você.
E ele disse:
-Tendo em vista esse argumento, não me resta opção senão...

Enfim, estávamos no Fran's Café, eu na maior ressaca de amor que tive a oportunidade de viver. Senão a única (digna), naquele fim-de-tarde-quinta-feira. Apesar de tudo, ele não conseguiria responder na mesma moeda que eu nossa troca de afetos. Essa disposição era inclusive uma intuição pela qual se guiava antes de termos ficado. Parece que eu fui a prova que ele precisava para ter certeza de que, não o gênero, mas simplesmente o relacionamento em si que fosse o problema.

Nos dias seguintes acabei percebendo que eu seria muito idiota se eu o ignorasse no futuro. Me sinto um igual perto dele.
Mas os dias ainda não passaram.


III
Todos os meus relacionamentos, nocivos e não nocivos, abertos e fechados, fixos e voláteis, de armário e de rua, duradouros e natimortos, todos esses tipos, que tive a oportunidade de conhecer, sinceramente representaram na minha história tanto quanto representam nas narrativas de ficção romântica dos livros em voga para o senso comum na última estação.
Depois de terça, quarta e quinta, posso dizer que uma intuição minha foi confirmada; de que a estrutura de um relacionamento é secundária. Não é importante de fato se é uma ficada, uma trepada, um relacionamento aberto, namoro, casamento. O mais crucial é estar amando. E a questão é: como vou amar plenamente alguém que não conheço?
Tudo o que tive, e esta epifania aconteceu no meio de uma enxurrada de lágrimas na noite da quinta-feira, até o precedente ralacionamento, havia sido pautado primeiramente pela estrutura da relação, jamais simplesmente pela paixão mútua, pelo estar de fato afim, pelo simples conhecimento da pessoa a qual se admira, pelo fato de não haver uma contemplação plena de determinada pessoa -algo que, fatalmente, mesmo eu conhecendo melhor meus parceiros mais duradouros, jamais aconteceu.
Esse reconhecimento mútuo foi importante para mim, porque me deu mais consciência do que eu mesmo represento. Ficar com uma pessoa que eu admiro há semanas, representa também de alguma forma um certo tipo de recíproca: os dias vão passando, a gente vai se conhecendo, e se mesmo os meus posicionamentos (para a maior parte das pessoas ingênuos ou imaturos) são reconhecidos e lidos de forma coerente com as minhas atitudes, e isso não é um impecílio para a relação, significa que a pessoa do outro lado justamente está lá porque quer e vai fundo porque tem real vontade. Isso não é uma regra geral, mas creio que com o moço foi assim.
Simplesmente, já disse, porque me senti um igual perto dele. Porque notei nele algo que persigo e que em poucas vezes sondei nas pessoas com que convivo (e é como se pela primeira vez em São Paulo eu tivesse certeza disso, o que me dá mais força para continuar vivendo como sei viver): a existência de um projeto coeso e lógico pautado pela busca de conhecimento das próprias expectativas e pela interpretação das próprias expectativas (interpretação e lógica: instrumentos individuais). Ou seja, admiro o Lucas porque o considero uma unidade nítida e precisamente delimitada, que não sabe viver sem sê-lo. Me sinto menos só, persigo algo que pareça este projeto, algo que não vejo na maior parte das pessoas.

Não sei se me atreverei -salvo crises de carência ou de libido, não sei vaticinar o futuro- (tão logo) me dar o luxo de me relacionar com pessoas que realmente não me acrescentem. De superficial já conheço tudo. Estou apaixonado pela ideia do nada-rígido, estou apaixonado pela ideia de encontrar pessoas-deuses, esses fenômenos da cidade que, por quedarem na cidade, são dificílimos de serem captados. A multidão gera essas aberrações, mas também as guarda. E viverei assim, em busca de iguais.

Não mais a determinação "quero apenas ficar com você e ver o que acontece", mas simplesmente a lateral -e óbvia- "por que eu deveria ficar com alguém hoje, e por que esse alguém seria você?"; simplesmente o projeto de saber exatamente o que eu quero, quando e por quê; essas expectativas. E fica muito mais bonito com segurança.
Algo que, depois de descobrir que eu não sou mais o único único em São Paulo, se tornou sensivelmente mais fácil.
E eu devo isso tudo ao grande amor irreversível da minha vida.
Viver é um barato.

2312011

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Uma espécie (peculiar) de crônica. #Amor [3]

Minhas mãos cheiram ao pós-dia suado. Teimosamente. Elas acordam o corpo inteiro. Ciclicamente, trazem para cima, para baixo, para um lado, para o outro todo o seu corpo ligth-acafetado, vestido no branco aceso da luz negra, para cima, para baixo, para um lado, para o outro toda a sua carga, logo de manhã, logo de tarde...
Explosões temporais de cândido amor.
Um. Se-gun-do.
E de repente estou livre.
Pingos de suor verde-limão piscando na pista da vida.
E viver é o maior barato.

23h21
812011dc


Sonho: Choro, choro...

Era bem nítido no sonho. Você me amava.
Eu estava ali deitado, de costas para a mulher da minha vida, quando você, o homem, seu dono, me cobriu, com seu couro dourado, o trigal, aquele que o insistente vórtice do tempo só extinguiria no fim de um de nós dois, o que representaria automaticamente o fim de ambos.
Não havia roçar de bocas, umidade, fluido salivar, nada, só havia troca de respiração, um roçar de dermes, um mútuo pentear, uma aproximação, um carinho não explícito, mas um amor vergonhosamente exibicionista exalando direto do invisível para os olhos lacrimejantes dos demais admnistradores de vícios na rua. Aquilo era o bastante, e aquilo era o amor.
E o maior pesadelo da minha vida foi simplesmente acordar e descobrir que amor irreversível da minha estava na sala contígua, sozinho, e eu nada poderia fazer por nós.

Não sei se lhe interessa saber disso, mas você me amou nitidamente no sonho mais bonito da minha vida.

0h27
1312011dc


Sinto que é hora, salto!

"Se me der um beijo eu gosto
Se me der um tapa eu brigo
Se me der um grito não calo
Se mandar calar mais eu falo"
Recado, Luís Gonzaga Júnior

Quarteto em Cy ilumina(ria) mais ainda a amarela (e chorosa) lâmpada do poste central -no risonho e lateral epílogo.
O poslúdio foi magnético, amarelecendo as coisas em ritmo cada vez mais agonizante. Houve um vencedor, e fui eu. Sempre nós, sempre nós, não entendo, já não entendia. Compreensibilíssimo, eu, tu, nós, vós, ele e eu, ali, onde havíamos começado, e estávamos terminando, claro, evidente, clarividentemente vaticinado, como a Razão não diagnosticara ainda?
Dias com pseudo-psicólogos da cidade-mundo-eu (uma psicogeografia delimitada pela mais distante partícula -em relação ao centro gravitacional), noites, madrugadas, também manhãs, açaí com cranberry sauce, barbas, faltas de barbas, uma semana, mais de uma semana, uns dias a mais, e nós lá, e você querendo, e eu não querendo, ou melhor, o contrário.
Éramos dois. Fomos. Somos dois-quase. Hoje. Digamos, con permiso, agora.
O Quarteto em Cy, com força e com vontade, me prometem, amarelecidamente, chorosamente, risonhamente, outros outubros irreversíveis (e portas matinais castanhas e abertas como meus olhos abertos e castanhos).
Ces't possible, ma non troppo!

"Mas se me der a mão claro aberto
Se for franco direto aberto
Tô contigo amigo e não abro
Vamos ver o diabo de perto"
Recado, Luís Gonzada Júnior

0h42
1312011dc

sábado, 8 de janeiro de 2011

Uma espécie de crônica. #Amor [2]

Na Fun House amores físicos.
Na parede amores uspianos.
The dog days are over, the dog days are done, e na melodia a certeza de tempos maiores, menores, dinâmicos, mais do que os pré-suados.
No negro tijolado dois corpos bem vestidos de branco neon se amassam, mãos que passeiam, barbas recém-quase-feitas que se roçam com violento calor. Líquidos que se misturam na batida da lotada-cotada sala: suor, cerveja e saliva.
Uma mão vestida com brilhante branco de ciclo-festim dança com sua garrafa fálica, e os dois fálicos homens ciclo-circulam, para cima, para baixo, mais pra baixo, ainda mais pra baixo, com o gingado rítmico do mundo.
E o mundo era eu e ele.
Na pré-dança ao meu estimu-lado. Melhor mesmo não ter desistido. Um belo passeio de bicicleta não serviu mais do que um catalisador do meu espírito.
Na Fun House amei um coração alcalino.
Amante efêmero-radioativo. Um homem. Um homem. Um homem.
Que falta me fazia um homem.
Decidido na chuva de secreções humanas: os dias de cão se foram, restam na belíssima ciclo-vida apenas outras manhãs plenas de Sol e de luz.
Na porta das quais meu amor me espera.

6h39
812011dc

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Carta a Samanta (in memoriam)

Chove chove chove.
Presentes de natal amontoam-se mutuamente sobre a mesa ex-branca -agora cinza, de tristeza. Um rádio de pilha verde-vovô, um malbec vinho-tia, uma bruxinha chamada Margie que ri alucinadamente quando você bate palma...
Aliás, quando você batia...
Um par de canetas cor-de-mãe, ex-presentes também. O Roberto Carlos cantou hoje de 1966 a 1972. Não me importo se ele está cansado, amanhã cansarei o Wilson Simonal ou algo assim. Hoje ouvi Sua Estupidez, do álbum de 1969, a música que eu canto pra você quando...
A música que eu cantava pra você (ao menos mentalmente, faz tanto tempo isso) para nos reconciliarmos. Incrível como essa água desde manhã me confinou em pensamentos domésticos. Olhe para o Natalino. Ele precisa de uma tosa, vergonha na cara, canina alegria, banho, e por falar em banho, já estou indo aí pra gente se encontrar e...

Nossa! Agora percebo, Samanta. Como um dia de chuva pode ser prejudicial.



St #Amor

A amarela lua da poluída cidade sem estrelas se despediu à tarde. Logo ao fim da tarde que é quando o luminoso Sol se prepara também para descansar. Ficou um breu.
O luau que eu tinha imaginado se transportou para o lugar das meteorologias, climas, suicídios, e o começo da noite luarenta e não luarenta lubrificou meus ictéricos olhos.
O lumpemproletariado pegava fogo nas ruas, os dourados e luminosos campos de trigo da minha imaginação criavam densa lubrina cor pastel, e em meio de tudo isso apanhado em brilhante lucão agonizei. Nem vi farol, farolete, lucerna, vaga-lume, lucidez minha se perdeu...
Lúcifer.
Lucilante naquele preto todo algo de resto-coração pululava. Luzi. Luzi. Luzi. Mas para o lar das longitudes e latitudes meu Sol-lua havia se transportado.
Eu sou uma menina lucípeta, atrás do meu Sol-lua lucipotente, em busca de um amarelecido lucro aclimativo, lucrativa empreitada do ouro.
Ludibrio as cores de mim, quero um prisma. Mais do que todo o prisma, quero aqui ver lufar a areia, e quero lutar para exterminar a lugubridade da Sol-idão.
Ele-lume.
Eu lunática menina lucípeta, presa ao trigo-lustre dos seus cabelos, na nossa idealizada luxúria.
Lubrificados olhos no fim da tarde-arde, Sol-lua me abandonou, e eu perdi a vida.



Dois breves comentários sobre Roberto Carlos

I
Vocês já pararam pra reparar no asfalto da ruazinha à uma da manhã com o som dos postes de luz e com os tons da lampadinha verticalóide acoplada à roda da bicicleta? Já repararam na cor do asfalto (que brilha com a purpurina de quartzo refletida insone)? É preto-claro. Não é cinza, é outra cor. É preto-claro sim!
Na ruazinha eu estive pedalando. Nas ruazinhas. Peguei a Serra de Bragança até o final, depois a Conselheiro Carrão, a Taubaté, subi até a Praça Sampaio Vidal e fui em direção à Emílio Mallet (ou Emília Marengo?), desci a Antônio de Barros, virei na Cantagalo, depois a Coelho Lisboa, Praça Sílvio Romero, Padre Adelino, Bonsucesso e estou em casa. E quem me consolou a estranha noite foi o Roberto Carlos. As coisas que ele canta fazem pouco sentido. A princípio. Quando você está na vibe elas fazem mais sentido do que muita coisa (como a falta de música, como o moralismo, como a putaria, como o excesso de racionalismo, como a falta de cérebro). "Foi pensando em me guardar e querendo não querer, me dizendo pra esquecer, foi pensando só em mim que eu pensei só em você".

Vibratos peregrinam na noite [sem estrelas].


II
Atravessei a Avenida Paulista. Pela metade. No meio do automobilístico rio, à espera das luzes arrogantes, "esqueça se ele não te ama! esqueça se ele não te quer!", e eu morri.
Sete vezes.



Propostas de Animação Museológica

Folheando um caderninho que preenchi em 2008 percebi a maravilhosa contribuição que o meu curso técnico de museu me deu. Passei a entender depois de tal curso como o museu ocupa uma função de perpetuar a desigualdade social ao registrar como legítima ou "erudita" (em outros termos, maior) uma história ou um estilo de vida com antepassados inteligíveis.
Pensando nisso, durante alguma aula do curso concebi duas ideias de atividade artística. A primeira delas [2] não tem ligação direta com o problema da segregação artística, mas a co-tematiza comicamente. A segunda [1] tem a forma de uma crítica à expografia, está então diretamente relacionada.

[2] mulher morta
Um quadro (uma pintura -a óleo, de preferência) retratando garota mais ou menos nova, entre 12 e 16, branca e com cara de peixe-morto como nos quadros do neoclássico, tamanho médio, cabelos castanhos caprichosamente arrumados (trançados ou não, de preferência decorados), olhos azuis (de preferência), aparentemente úmida, impressões de sufocamento, olhos abertos, pupilas dilatadas, cabeça mais ou menos tombada (caída), vestindo um vestido gigante, composto por muitas camadas (a menina como sufocada por roupas), moscas, fundo negro (marrom ou preto), moldura elaborada (meio rococó).

[1] Grande esfiha de carne (flamejante), gordurosa, no espaço expositivo
Trata-se de uma esfiha de carne (generosa no tamanho) fixada (pode haver um prego para causar efeito) na parede (de preferência que não seja uma dry wall) do espaço expositivo, e que permaneça neste o tempo que for necessário, sem manutenção, e com o risco de apodrecer ou impregnar o ar do ambiente.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Balanço de dois mil e dez.

Comparando meus escritos e digitados de 2010 com os de 2009 estou reparando que o número de bloquinhos reduziu drasticamente e o número de arquivos de texto-poesia também reduziram. Em contrapartida tenho papéis de anotações e esquemas de estudos digitalizados que não têm fim. Entrei na faculdade, passei a estudar pra caralho. Me senti particularmente inspirado no início do ano (tive um amor platônico no exato reveillon, vestibular, viajei etc.) e também na semana em que frequentei a Escola Livre de Cinema e Vídeo de Santo André, no início do segundo semestre, quatro dias que conseguiram me inspirar durante um mês.
Sobre as férias...

Carta de amor do ano novo

Oi Guilherme. Minha vida muda só tem ouvidos para a garoa arrogante. O resto da noite passada está aqui, entortando a minha vista e fazendo com que os paralelepípedos dancem em um ritmo marítimo. Do outro lado da rua uma pomba está andando, como andam os humanos, porque está convicta de que os imitando conseguirá entrar invicta dentro da padaria algum dia. O céu inicia o bocejo da manhã, que é quando as coisas começam a clarear, a rua, a árvore, o prédio, o portão, o cachorro, tudo cada vez mais nítido. E eu estou prometendo a mim mesmo que os dias serão cada vez mais irreversíveis. Se está ao meu alcance eu não sei, pode ser ingenuidade. Prefiro pensar que não. Prefiro pensar, Guilherme, que os meus atos têm sentido. Guilherme, as coisas não se mensuram. Eu vou viver ao teu lado nesse mundo imensurável, Guilherme, e o mundo será nosso, apenas, unicamente, exclusivamente, nosso. Nós nos...
Guiamos da maneira que quisermos, Guilherme. Guilherme, eu não espero que você leia isso algum dia, você imaginaria "que raio de sujeito é esse? esse fraco, esse fraco, esse fraco", mas eu garanto, que é inevitável, o meu amor irreversível me içou, e agora eu estou muito longe do chão, há um...
Guindaste invisível, quase metafísico. Guilherme, quando os fogos arrebentaram no céu eu estava no metrô, provando para mim mesmo que eu sou a pessoa mais forte no universo, mas você humilhou a minha filosofia quando, naquele boteco com estranhos recém-conhecidos você me olhou, e fez exatamente aquilo que o amor da minha vida faria para me conquistar. Então com as lágrimas que pululam do meu ser eu senti um aperto no coração de não poder te reter para sempre, na penumbra da luz sensual e tênue da sinuca da minha vida. Você me encaçapou e depois abandonou o bilhar, desligando a luz da minha felicidade, apertando o interruptor do meu coração. Não me admira ter chovido depois. Você levou consigo toda a estabilidade, você e o seu sorriso levaram o meu oxigênio, e agora eu me sinto morto. Acho que estou sento levado à...
Guilhotina, cumprindo essa pena horrível, que é a angústia da esperança, à qual ainda não me acostumei. Sim, Guilherme, porque eu sou pós-graduado na ressaca do amor, e agora eu estou imerso em um fluido que não existe, e quando eu menos esperar estarei em queda livre. Agora a minha vida não tem outra função senão te encontrar, amigo, e eu sequer sei por onde começar.
Guizos de natal sinalizam a morte de um ciclo e o nascimento formal de mais uma escravidão temporal. As mulheres idosas tiram das portas suas...
Guirlandas. As renas do Papai Noel abandonam a televisão e vão repousar guardadas em gavetas. E quilos de dinheiro são devorados em labaredas coloridas na Avenida Paulista -e o meu coração é devorado por você-, lâmpadas azuis, brancas, vinho barato. E a Rua Augusta, e todas as suas...
Guildas, tribos, seus botecos e suas boticas, sufoca na garoa intragável. Mas a culpa de estar garoando é sua Guilherme, porque você me abandonou, e agora a minha incubência é te achar a qualquer custo, já que não resta dúvida de que você é o meu príncipe. Porque você olhou para os meus olhos como um homem apaixonado olha, e com uma simpatia hipnotizante que me deixou estupefato, e não foi com "uma" simpatia, e sim com "a" simpatia, a simpatia que eu esperava para obter a felicidade, a tua simpatia, Guilherme! E você me ofereceu meia garrafa de cerveja, Guilherme, e você não faz ideia do que isso significa, amigo. Guilherme, você me perguntou meu nome, Guilherme! Guilherme, você foi embora, mas me deu de presente a maior esperança que eu nunca tive, com o seu sorriso moleque, sua simpatia gigante, seus olhos maravilhosos e aquela meia garrafa de cerveja. E me disse que lhe encontrasse em uma sexta-feira, na pizzaria ali perto, apenas essas coordenadas, logística simplista. E então você deu meia-volta e foi embora, e eu corri atrás de você, mas nenhum de nós dois podia anotar informações pertinentes, por falta de recursos físicos. Então eu só sei que você se chama Guilherme, e que frequenta o Vitrine às sextas-feiras.
E a minha vida está prestes a dar uma impossível...
Gui-nada.

Guilherme me guiando guitarrante, guildas, guizos, guirlandas, guilhotinas, guindastes, guichês, guisados, guilhermes mil... Alvoroço em meu coração, amanhã ou depois de amanhã, resistindo na boca da noite um gosto de Sol...

janeiro 2010


texto

título que já perdeu acena
porque a conta do analista
me foi paga com o corpo
docente
doente
de bombeirinhos

2010


caroço-angústia-suspeita onipresença,

eu disse ao Francisco no sábado passado que o custo-benefício dos meus relacionamentos estabiliza-se com a negação das relações virtuais, a favor das trocas reais, relações verdadeiras.
ele me disse que, se eu sou convicto disso, sou a pessoa mais bela.
é uma pena que os meus amores não-perus não sintam por mim um amor tão avassalador que os faça superar seus medos, e também é uma pena que esse medo os impeça de que vivam amores avassaladores.
e enquanto isso, na cidade, o amor funciona como deve funcionar, sob este céu sem estrelas.

8 2 2010


por que o chocolate que você me deu me espia e as flores estão tão diferentes se até a porta para o quintal está aberta?
por que o ventilador teimoso gritando feito uma cigarra continua balançando de um lado para o outro, em um silencioso "não"?
por que o violão está mudo mesmo com todas as possibilidades de poesia que noite quente e estrelada oferta?
e por que escrevo estas linhas se tudo acabou definitivamente entre nós?
deve ser porque... definitivamente. acabou-se. tudo.

farmácia, 8 2 2010


você (realmente) acha e tem todo o DIREITO
de mudar a minha vida (assim -sem mais nem mais nem mais)
enquanto os sentimentos-pulga pululam dos meus poros e são arremessados uns contra os outros na garrafa térmica do meu ser, teus olhos castanhos -lindos olhos castanhos- mais fundos que o braço da floresta penetram nos meus e se instalam no meu intelecto-ecto-ecto, e impossibilitam o antigo Eros de respirar com o empoeirado ar da semana passada.
ou você queria apenas mais um beijo?
como sempre foi certo que o meu futuro seria promissor... sempre foi! eu senti que nas últimas semanas que a minha vida subia uma escada ruma a níveis cada vez mais catastróficos, fabulosos e fantásticos. e eu venço no cassino do amor, eu já posso virar para o fevereiro passado e gritar que EU VENCI O CASSINO. e isso tudo under meus abstracionismos ultrapassados.
mas é porque você tem o DIREITO.

18 2 2010


empecilhos em pé são cílios
de pé nos teus sexuais olhos
que dançam na minha fálica cabeça
mesmo que nem direito eu te conheça
dançam com a paixão mineral
co'a qual brilham

fevereiro ferve na rádio
dos atômicos tímpanos do dia promissar
as coisas todas não fazem ideia
de que eu sou o irresponsável cantor
na janela do frio e ignorante ônibus
no qual brilho

o dia é nosso
o dia é nosso sim
muito. muito.
o dia é muito. muito nosso

20 2 2010


o celular toca
eu tenho alface no dente
o fio dental corre
freneticamente
eu pego o aparelho
tão esperançoso
o fio dental dança
na boca raivoso
largo o telefone
alface no dente
quem é que me liga
amigo, parente
ou será o amor
que conheci quarta-feira
que imerge das horas
pra contar besteira

20 2 2010


COMUNICADO

não entendo por que, mas meus dedos, que roo incessantemente, estão cheirando ao teu beijo com dentes escovados. este frio, que se torna quente, que é o diálogo-amor das dialéticas-línguas, tem um porquê gutural. porquê da vida, combustível do meu sangue, saliva da saliva, antisséptico do meu ser.
(tua boca muito mais alva, gostosa e
re. fres. can. te.)

2 3 2010


a melhor poesia que eu escrevo
tem as letras do meu amor
eu luto pela poesia - do meu amor cogniscível
subcuecante e supracardíaco, o amor difícil
das centenas de horas, agoras, aforas
que chora, que flora, que adoro, deploro, que adorno, que chôro

a melhor poesia que eu canto
tem o cheiro do meu amor
eu luto pelo aroma - do meu amor reconhecível
lácteo-pigiante, naso-sudoríparo, o amor sensível
meu amor escovado, lavado, chupado
lambido, marido, na cama, sacana, deitado, jogado...

esperando minha boca

5 4 2010



Conheci o atual namorado Eduardo em junho, mais ou menos na mesma época em que havia conhecido o Daniel em 2009.
Participei de um assalto mais ou menos violento. No qual eu era a vítima.
Na volta das aulas, após nervoso processo seletivo, entrei na Escola Livre de Cinema e Vídeo de Santo André, onde, por falta de vergonha na cara e condições intelecto-temporal-geográficas do rolê eu não conseguiria estudar -excentuando a possibilidade de fazê-lo tendo como efeito um aumento na minha self-mortalidade.
Em outubro fui para o ENUDS e nos meses seguintes entrei em contato com algumas atividades que testaram meu projeto de vida, hipóteses, ideologias etc., corroboraram, aprimoraram, acrescentaram.
Terminei o caderno devolver a Eros Tesão este caderno de pornografia número XXXX-XXOX (não ligar a cobrar) ou esta caligraphia calipígia ou amor irreversível.
Os últimos dias de dezembro foram um saco.

[fragmento]

I
começa com um beijo, mais ou menos molhado, mais ou menos arbitrário, mais beijo do que desejo, mais vontade do que receio. incrivelmente.

II
é como se meu inconsciente dissesse
CORRA, VÁ EM DIREÇÃO A ELE
eu simplesmente podia ter dado meia-volta, mas não
CORRA, SEJA ASSALTADO
todavia aquilo me livrou de ter que arranjar explicações para o fato de o celular ter quebrado vinte minutos antes do assalto.

III
na queda quebrei um dente

IV
a teimosia, se bem estruturada, é uma virtude. por bem-estruturada entende-se que há uma lógica-argumentação suposta.
ora, negar a teimosia, que é uma condição geral da sociedade, é hipocrisia.

V
pavores de mim. os vaticínios têm durado facilmente até às duas, duas e quinze da manhã.

VI
eu posso seduzir facilmente o diretor. só preciso de um motivo. que tipo de poder ele pode oferecer?

s/d


os meus amores são natimortos
a maior parte deles não durou mais do que dez segundos

s/d


quando nossas sombras se fundiram, na rua, senti catalisarem-se nossas emoções. (desde o início achei que nossos corações trampolinharam na mesma velocidade.)
e então você me disse "oi" na rua, escura, senti que se não desmaiasse, flutuaria. escuridão. e nossos corpos se juntaram, na esquina. senti a eternidade no meu fluxo sanguíneo. esquinados, nossos lábios labiaram-se, na noite senti que nada mais importava. e, logo, o amor dos homens, personificado no negro líquido cardíaco que bombeava alucinadamente, converteu-se no alvo e cândido néctar morno da vida, que jorrou energicamente rumo ao céu.
da boca.
preta.

s/d


se tornar adulto é um crime contra a estabilidade e a esperança contínua do mundo mágico.

um par de pernas muito finas pouco presente quer estar em casa. passeia confiado e descorajoso nas paredes brancas de luz apagada. (da mente castanha.)
confinado na atmosfera gelada da estação, quer se morfinar.
e vai conseguir.

ele senta nos sofás brancos mais ou menos insípidos da cinemateca e cruza o par de pernas suspirante de satisfação em seu orgulho-dezessete. ele é feliz e sabe muito bem.
quer olhar. consegue. bate-bate, posso ouvir daqui. o céu nublado anuncia a noite sem estrelas da cidade.
vai começar a sessão. e depois dela, ele será apenas um pouquinho menos o mesmo.
(mas sabe o que quer.)

s/d


quando caiu da mesa acordou. irada. quero dizer, que seu cabelo assemelhava-se à vida em sua explosão no limiar da intensidade. e olhou pro chão, e enxergou. e de repente se viu homem na escrivaninha, mas abandonou a carteira semi-bravo e quase-mudo, pondo a preta blusa na morena derme, mochilando-se e se dirigindo à porta. mas quando saiu estava branco, e as panteras que saíram da floresta em sua frente se esforçaram para violentá-lo. correm muito, e caiu em buraco, para uma boate gay, e aí era colorido. e vida passou a fazer todo o sentido. limites estreitos. estritos. uma boca molhada, saborosa, e um drinque cítrico. até que perdeu o chão. quando caiu da mesa acordou. irada. quero dizer, que seu cabelo assemelhava-se à vida em sua explosão no limiar da intensidade.

s/d


passa por mim a nuvem do amor ultrapassado
pisa no fundo dos pés de galinha
me reconhece
sabão de marchinha
beija minha nuca - certeza
filho da cidade - é normal
eu te ver assim - no circuito
continental - vai um biscoito?
vou num café genial
depois da película - audiovisual
vem vem comigo menino
ultrapassado tá bom
não não insisto mais, cara
eu vou seguindo na marchinha
a gente se vê dia desses,
eu sigo marchinha - sabão

s/d


(estrela de topete)
você foi pornografada em mim
estrela de topete e rala barba
estrela da assimetria
pornografada em mim
eu estigmatizade
você star-beldade
hetero-liberdade
você Sol eu Plutão
marginal coração
de estelar desejo
celestial submissão
daqui do inferno vejo
a sombra do avião

estrela de topete
pornografada em mim
você funciona como um deus
tô nas tua - eu no teus

s/d


quando ele chegou viu o chão pintado de assombrosa escuridão
sentiu tanto medo, mas tanto, tanto medo que desejou também morrer por um instante
[nada mais preocupante que a dúvida]
tentou respirar uma duas três tentativas -passivas! metabolizar de qualquer jeito, a qualquer custo
QUASE MORTE
deu meia volta, e outra, e outra volta, muitas meias voltas mentais
o chão assombrosa escuridão, sem previsão de chegada
amarrada ao não dito, preso, acorrentada na insegurança sua alma se matou cinco vezes (que era o número de meses)
vê-lo o outro, ali quietinho, com terceiro, rindo sim, grudado assim, de qualquer forma, sem mim...
[e o fim de semana mal tinha começado]

s/d