quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A Moça Sem Nome.

Ela não tinha nome.
Parece estranho, mas não tinha nome.
- Boa tarde, querida. Como você se chama?
- Ah! Eu não tenho nome.
E ficava um clima bem chato.
- Como assim "não tenho nome"?
Às vezes tenso. Ela sempre trazia seu RG consigo, já que ninguém acreditava.
A secretária analisa o RG e lamenta.
- Desculpa! Aqui nós só trabalhamos com pessoas de nome. Tenha um bom dia.
Saía das agências de emprego com aquele ar inevitável de arrependimento, mas era persistente.
- Como assim "não tenho nome"?
- Esquece.
E dava as costas.
Também não conseguia manter nenhum relacionamento. Era sempre a mesma coisa. "Meu bem", "meu docinho", "minha querida". Eles dizem isso pra todas, pensava.
Houve uma época em que ela havia engatado um relacionamento mais sério com um rapaz. Mas tudo se desfez no dia em que ele a apresentou a seus pais.
- Pai. Mãe. Esta aqui é a...
Ele não tinha pensado nisso.
- É a... é a...
- É quem, meu filho?
- A Ninha!
- Aninha?
- Ninha!
- Não minta, Luís! - cortou a moça. - Conte a eles!
Ah! O nome dele era Luís. Os pais do rapaz fizeram certa expressão de dúvida.
Vendo que o Luís não contaria, a moça lançou:
- Eu não tenho nome!
- Desculpem. A Ninha prefere simplesmente ser chamada de Ana, está bem?
A moça deu as costas, saiu da casa e nunca mais conversou com o Luís.
Nem com os pais dele.
Mas ela não aguentava mais.
Um dia decidiu: suicidaria-se.
Pôs as contas em dia, decidiu qual seria a maneira mais rápida e mais eficaz de morrer e estava prontíssima para ir para o outro lado.
Ela se jogaria da janela.
Já que morava em um dos andares mais altos de seu prédio, se jogar da janela seria tão simples quanto eficaz. Então ela se trancou no quarto, abriu a janela e começou a escrever seu testamento.
Mas, só quando estava no final do documento se deu conta de um problema: a assinatura.
Como ela assinaria?
A moça suspira, debruça na mesa e chora.

Trinta vezes Pseudo.

Pseudo. Pseudo. Pseudo. Pseudo. Pseudo. Pseudo. Pseudo. Pseudo. Pseudo. Pseudo. Pseudo. Pseudo. Pseudo. Pseudo. Pseudo. Pseudo. Pseudo. Pseudo. Pseudo. Pseudo. Pseudo. Pseudo. Pseudo. Pseudo. Pseudo. Pseudo. Pseudo. Pseudo. Pseudo. Pseudo.

Eu avisei.