sábado, 23 de novembro de 2013

CA(M)P/D(ERN/M)O - campineiros leminskinhos

encharcado

chove na UNICAMP
pobre unicão
sozinho em Barão


etnografia tradicional

o etnógrafo preocupado
pensa
avunculado
ou pro outro?


heregia

sancta et ágil
a hagiografia
do agiota


glue-glue

para o per'ustadunidense
o dia é de ação desgraças


minhas cabeças cheias de perguntas
e respostas suas, sujismundas
ou um corpo só que se inunda
pela doce lembrança da sua bunda


na minha frente
ele olha pra trás
de min
---------ha gente


mas veja só
que irônico
eu moscando
atazanam tosca
a mosca e seu vôo
macarrônico


kópros-ducção

coprófilo par
na vala se engaja
na co-produção


LGBT amo


pequena prosa descompromissada sobre um pequeno estruturalista descompromissado

ele se veste como nos anos 1950s. sorri e me olha de esguelha como nos anos 1960s. pensa como nos 1970s. fala como nos 1980s. e me ama como um clássico.


até parece que você não quer
----menino do pantanal
que eu queira te ter
---------------------------eré


você - me - fita
e ---------- evita
você umedece
e ----- esquece
você -- m'olha


caro acadêmico guatemalteco

me mostra logo, não fala!
o que há por debaixo
da tua Guate
------------------mala


pequena prosa descompromissada sobre pequenas rugas pretenciosas

cada pé-de-galinha dela denota uma década de acúmulo intelectual, vivacidade burguesa, sedimentação cortês e ocultos furúnculos na bunda.


enquanto isso o etnógrafo (ainda) tradicional

ficará preocupado
"quem está vinculado
ao meu avunculado?"


discreto terremoto

após o abalo, cismo
me jogo no buraco
abismado


Joel: case report

cheio de vontade d'um vazio
o menino então vermelho
tira a água do Joel
--------------------------ho


pequena prosa descompromissada sobre a paixão-Monet

quando nos vimos pela primeira vez, imaginei que nos conhecêssemos não menos do que duas vidas inteiras. mas, ao retornar ao maquínico e distraído compromisso do teu olhar, tive certeza de que me enganara.


eis que grita o empreendedor

SOLTEM-NO!
eu estou farto
pelo silêncio
e pelo olfato!
quem soltou pum
na dark room?


despretenciosa nota sobre
sereno terno flerte

quero te abraçar
te darei uma blusa minha
--para te abrasar
quero te dar uma balinha
para tua língua tão sozinha
--acolher e chacoalhar
você vem pra minha fileira
a cada vez que torto entorto
carne, ossos, pele e alma
meu pescoço
--------------------(na) esteira
-------------------------------------(da) calma


Gui: case report

e não esconde
sob a epiderme
esta quimera
tão pós-Guilherme
Antunes-kuera


EROS NOV/2013 BARÃO

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

o homem do pau mole II

a segunda parte - da história - é menor.
me ligou. seria no sábado, me ligou hoje, sua voz parecia fanha, prematura, a cobrar, de um orelhão. logo, polidamente, naquele mono-tom, pediu desculpas que soaram muito sinceras e necessárias por atribuir ao custo da ligação a minha boa vontade - e que vontade boa eu estava.
não me retornaria. não vou retornar mais nenhuma ligação, foi mesmo o que disse. fui legal em lhe dar o papel com meu telefone, me retornara em virtude da promessa feita segunda, mas, foi enfático em me dizer, não vislumbrava possibilidade de me procurar mais uma vez. lastimava o fato de - levando-se por alguma pretensão - ter me desapontado.
lhe disse, bom, tens meu telefone, se precisar conversar comigo pode me ligar. Eros, repetiu cristalinamente as já gastas palavras, te liguei para te dizer que não vou te retornar, e lamento ter te decepcionado, não posso te dar feedback esse que esperas. podemos nos falar em outro momento das nossas vidas.
como ele lamento. lamento por não ter podido me entra(nha)r e desestranhar através da sua mórbida esquisitisse, pois, foda-se!, estava mesmo era disposto a morrer de amor.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

o homem do pau mole

"...para mim 'ser humano' e 'respeito à pessoa' não me diz nada, é conversa fiada. Não tenho a menor vontade - concordo, minha situação é diferente - de ser um 'ser humano'; não quero que me respeitem, pelo contrário. Se alguém passa a mão na minha bunda, fico muito feliz. Se alguém assovia para mim na rua, isto me enche de alegria"

"...a morte de Pasolini não me parece nem abominável, nem lastimável. Até acho que foi muito boa. Tão menos banal, por exemplo, do que um desastre de automóvel. Se é para morrer, eu, de certa maneira, a desejo para mim e para todos os meus amigos"

Guy Hocquenghem

o homem do pau mole

suave, lhe disse. suave na nave, me respondeu. suave na nave repeti, como quem encena com desgastada vontade de não parecer enfadonho, mas acompanhando um suspiro de pura ânsia. passeando pelo shopping, me perguntou, aqui é grande, respondi perguntando, gostava das vitrines, e assim seguiram as dialógicas interações. logo as revisitamos, coisa de uma hora, parece que foram duas, mas foi umazinha só, ele me perguntou, depois da terna casquinha - que lhe deixou encasquetado com misteriosa minha generosidade -, me disse, se eu não tivesse chegado em você, você teria chegado em mim. achei que tivesse sido só eu o primeiro a nos desbravar, mas admiti um possível engano, só que não durou muito, que minha cabeça estalou como se o eco profundo de uma escadaria de emergência de um shopping derrubasse suas estalagmites e estalactites. foi pioneiro suave meu que inaugurou nosso tiroteio de interpelações. ele concordou. foi fácil, já que estava encantado pela sua esquisitisse, teria sido difícil pelo fato de seus olhos me enganarem na sanitária incursão, olhando apenas quando os meus desistiam.
em uma segunda, obviamente.
o que gosto de fazer, ainda lambíamos o sorvete de marrom e branco, gosto de andar de bike, eroticamente, está curioso, e eu lhe respondo sim, e então elocubramos todas as modalidades possíveis de relações sexuais envolvendo bicicleta.
parece futebolista você, corintiano, com alvinegra essa camiseta manchada e esse boné de mano. fico feliz de parecer descolado, me desafiou, não, não, corintiano. então, fico feliz de parecer acéfalo, e também ser intelectual, nu e um tanto.
zapeando assuntos, explotation, após um convite cujo sucesso foi polida procrastinação, me disse, e se eu estiver apontando uma arma para você por debaixo da mesa, como em Inglourious Basterds, ao que só pude assim reagir, eu teria uma ereção.
(na escada irreversíveis amores. imiscuíam quase pré-puberes pêlos, nossos vinte e uns. mais tarde me pediu um telefone em pedaço de papel. te ligo no sábado. podemos ir ao MASP, você gosta de museu, coisas culturais. pareceu aflito e consciente. estranho que dói. sexy de tão estranho que dói.)
ele jamais sorriu. te ensinaram a sorrir, lhe perguntei. enquanto nos labiávamos e linguávamos, mais de uma vez tocou meu pescoço como se desejasse apreender com exatidão seus tecidos, fluxos, músculos, com fins de, com precisão, censurar-me a respiração e tirar-me a vida. toquei mais de duas vezes o volume da sua calça, que enigmaticamente abrigava pedaço de carne frouxo, flácido e inerte. tenho mais de três motivos para achar que ele é um serial killer homofóbico. como em Cruising. como em L'inconnu du lac. mas* não me importo, pois quero morrer de amor.


*como venenosos pratos de Gula, do Veríssimo filho.