confissão 3112011
lembro de cabeça algo anotado há bastantes meses atrás sobre a escrivaninha.
"2008 me ensinou a pensar
2009 me ensinou a ser frio
2010 vai me ensinar a congelar"
não posso deixar de revisitá-lo.
o que significa jogá-lo fora.
desde 2006 comecei a intentar vida. assumidamente em 2008.
2009 foi um ano de aproximação com certa auto-responsabilidade.
2010 foi, a contragosto de mim mesmo em sua aurora, o melhor ano da minha vida; este janeiro e o dezembro precedente, os dois melhores meses.
2010 foi um ano de esquentar e congelar, de projetar e o meu futuro será o efeito total de tomar essas rédeas todas (e não tomá-las todas, o que é igualmente fundamental).
assim como em 2010 foi possível pensar superar 2009, tão cedo supor que este ano superará o precedente seria exagerada presunção.
acontece que eu não estou supondo nada.
3112011
Nota sobre 922011
Tão rapidamente nos despedimos e eu já estava fazendo quilômetros de lágrimas (secas como o desespero, úmidas como o quente e dourado dia -você estava lá o tempo inteiro) pela cidade estrelada. Pensei na Lua em grande medida. Ela seria a grã-triunfal-entrada. Apenas uma flor. Mas a gente sabe. Não devemos interpretar apenas como uma flor de despedida. Só sei que sobre as duas grandes mulheres da minha vida, Heloísa e Maria Eugênia, redondas, estagnei hipnotizado, assim como você, que sumia conforme a patética chancela cor-de-chumbo lhe eclipsava.
A porta fechou, e nada mais me restou.
Não sei você, mas na forma de algo entre arrependimento e hesitação desesperada, talvez um cristal pós-esperança, rolei em direção ao centro da cidade. Talvez. Talvez porque simplesmente eu na realidade quisesse muito pedalar diretamente para você e dizer tudo aquilo que em cinco minutos eu não tive tempo.
Dizer que eu tinha uma música para lhe mostrar, perguntar se ele havia terminado aquela poesia sobre a Lua, e levar às últimas consequências suas possíveis respostas. Queria muito. Queria muito fazer com que ficasse mais tempo comigo. Queria pegar em sua mão. Enfim, apenas consegui situar nosso próximo encontro.
Você jogou em minha direção aquela flor.
E eu estou muito arrependida de não tê-la agora comigo.
Me sinto sozinho.
Demais.
Aqui.
Né?
1h43
1022011
História dos Deuses
O suicídio me intriga.
Gostaria de entender que tipo de sofrimento é esse que impede as pessoas que estarem vivas. E queria saber quem são essas pessoas que se privam da experiência mais maravilhosa da vida, que é sofrer.
Tinha que ser novo, afinal as coisas boas são sempre novas, à excessão do próprio estatuto de que são. Tinha que ser belo, ainda que as outras pessoas não observassem nele os belos traços da mediocridade. Porque algumas pessoas são como deuses gregos. Na multidão, onde são produzidas e guardadas (ou melhor, enriquecidas e escondidas) não lhes parece corriqueiro necessariamente causar sensação. Digo isso porque não lhes interessa necessariamente aparecer ou sumir. Não lhes interessa, como deuses convencionais, ter o controle do tempo nem estabelecer a sistemática de seus jogos sociais. Isso tudo é muito secundário. Interessa-lhes viver.
Tinha que ter outro. E quando esses mutantes se encontram, não há também um protocolo fixo de comunicação. Eles são antes de tudo meros administradores de vícios (ainda que a sofisticação com que realizam suas vidas seja um pouco diferente da da média). Mas aí, na história, eles se trocam.
Eles se tocam.
Mas, como convencionalmente acontece, um ganha e outro perde. Se bem que, em se tratando dessas coisas (que possuem um dispositivo central funciona como um liquidificador, que transforma as coisas bonitas e abjetas, as sujas e as corriqueiras, em um maravilhoso e sistemático milk shake). Um ganha e outro perde, em infinitas combinações, incontáveis dimensões.
Diz-se que são felizes. Seria pretensão demais dizer que fulano ou ciclano são felizes, e a mediocridade tem fórmulas muito lógicas e cruéis para mensurá-lo. Se não isso, então, apenas chuto que, ao menos, são muito mais interessantes do que a média.
Como nas tragédias, um morre e o outro não. É isso que acontece no fim da narrativa: um morre, não sei o outro, não sei não, mas um morre, e do pó, e das ossadas, surge algo intrigante, como o que havia antes, excêntrico no melhor estilo continuar-vivendo. Basta não ser frouxo. Basta não se tornar essa coisa brega e triste que é a neutra sobrevivência.
Tinham que ser novos. Tinham que ser plenos. Tinham que ser deuses. E tinha que ter uma tragédia.
Decididamente, viver, aqui, é simplesmente protagonizar a mais bela das tragédias.
13h48
1522011