terça-feira, 19 de julho de 2016

você:
acidente mais picante.
pois, contente, doravante,
o sorriso mais sorriso
(brota dolorido um siso
nas arcadas deste amante)
escala monumentos
– um recorde de rendimentos –
pra bradar por sobre o pico
– brahmas, bramidos,
sonhos (re)sentidos –
“cá entrego os meus mundos”
(todos esses tão baldios),
“assassino meus jagunços”
(todos esses tão vadios),
“e chancelo a chancela
do que em mim grita, berra,
pra ouvirem mais de mil,
(que) ‘só é feliz quem erra’”!

sexta-feira, 15 de julho de 2016

se me permitissem,
toda noite seria assim.
um cálice de vinho seco, poesia...
toda noite assim seria.
muito papo e cultura,
um pouco de política...
um momento de fuga,
outro de calmaria.
a música dos teus lábios,
minha Ave Maria.
aquele anteparo
pro momento de olhar
como o olhar um do outro
é ímpar.
e do seu despreparo,
hahaha,
riso escancarado. ei!
a rua nos espera,
tem uma aventura,
nos espera a rua.

se eu me permitisse,
toda noite seria assim. sobre você,
com um cálice de vinho seco,
escrever poesia...
se eu me permitisse
só assim faria.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

ele tem problemas pra acordar,
e eu, pra dormir.
não se furta em sonhar
acordado.
a cor mel dada
arregala
à postura cordata
deste que o deseja
de maneira insensata,
que o cerca e beija,
afaga
_e dos olhos, refrata.
pôr-do-sol em cascata.
os lábios pelados
apontam e refletem
edifícios espelhados.
é difícil esperar,
e os lábios retorcem
_uma torcida discreta
que os poros escancaram.
o arrepio suave
saúda o toque.
o calafrio cala,
as dermes se colapsam,
há gargantilha de chêros...
_e o Sol já tá posto.
a Lua encara. em seu rosto,
um sorriso amarelo
ratifica imprudente,
e sem qualquer dano,
a noite mais quente
do ano.



I

é que alguns momentos não podem ser revividos.
podem ser emulados, evocados, mas só até serem percebidos como um quadro ou um filme, algo sobre o que se sabe, mas cujo sentimento nunca é replicado perfeitamente. algo consta no coração, mas nunca é idêntico ao que passou. inescapável efeito-Heráclito da música pop: quando você ouve cem vezes a mesma canção, não é como ouvi-la no derradeiro momento em que você se apaixona por ela. o que há de humano e precário nessa busca ingênua por felicidade é a obsessão por momentos únicos, que nunca poderão ser revividos. acreditamos ser felizes quando estampamos amarelos os currículos das nossas efemérides. é então quando assentimos » sinto que posso morrer agora.

momentos como esses causam insônias, inspirações, depressões, dramas existencialistas. melhor que seja assim, contudo.


II

o que faz de um beijo um bom beijo?

você já desejou uma boca como se deseja um banho de mar num dia de calor desesperado? um voo para fora do país? você já sentiu a disritmia de dois peitos urgentes? já prolongou uma conversa para gozar do afã da comunhão de lábios e mãos? a iminência de um desejo em erupção, nos olhos incandescentes...
o desejo transforma as pessoas.


III

há não muito tempo nossos corações sobreviviam longos invernos sem qualquer vestígio de confidência. hoje quedamos indomados, ansiosos, imediatistas. como trocar cartas _e esperar por elas_ em um mundo que demanda certezas? por que nossa obsessão por elas (as certezas), que são os adornos mais insossos das nossas caminhadas?

quando um amor hiberna... quando um amor hiberna, é como se um desafio se nos instasse. que espera é tão tormentosa que se nos impõe a necessidade de atirá-lo (o amor) à fogueira? _a não atirar a nós mesmos. que claustro é tão sufocante, que voluntária pena tão infernal, que nos conduz à renúncia do desconhecido? _esse continente que nunca chega, esse mar aberto que nos encerra no irrespirável perímetro do navio. há o coração convalescente que ergue o braço para deitar sobre o chão a tumba em auto-inumação. pensa esse coração na quantidade bruta e líquida de poesia que a sua incerteza e angústia podem produzir? mãos à obra coração: qualquer forma de agonia é uma oferta à poesia.



bairro grande ou cidade pequena
a mesma louca, idosos habitués
e eu, e você
irrompendo explosivos na aurora do mundo

o rádio diz que amanhece
e o céu ainda é café preto
pingado, pão na chapa
.......................................casal
e eu, e você
na manhã das ideias
..........................sorriso boreal

os voos no asfalto
as pombas da Grande São Paulo
voar é que é fácil
e eu, e você
na madrugada da vida
pé-ante-pé, salto após salto...
e o chão se agita

segunda-feira, 11 de julho de 2016

«balada do amor lunar» ou «meu peito é um canyon» ou «ele, a Lua e eu»

lá vem a Lua minguante
com seu sorrisinho amarelo...
implacável...
irritante...
singelo...

em tudo que meti-me por necessidade, nessas de passar, ultrapassar, perpassar, trespassar, sempre fui ratificado pela Lua.
lá vem ela ligeira uma vez mais, a Lua minguante com seu sorrisinho irritante, implacável, ai essa Lua... assim que saio de um ciclone, sento-me ansioso à espreita do próximo. tornando-me tornado. como se minha vida já não fosse esse vórtice desde que me entendo por adulto. como se minha cabeça-de-vento ignorasse o tormento das tormentas, dos abismos abissais, dos abalos císmicos, cataclísmicos. coração de pedra, tanto bate que furou, falha geológica, epifenômeno dos meus caminhos. meu peito é um canyon.
vem pra me azucrinar, o satélite dos satélites, e eu, satélite dos amores, acessório dos meus adorados amantes, minhas madonas de cueca, meus pódios de chegada, meu romantismo estendido no varal ao lado dos repentes, dos de repentes, dos repetentes. eu de pé, ajoelhado, escancaro os dentes, exponho obscenos os miúdos, de amor doentes.
lá vem a Lua e seu sorriso indecente, eu, o Cupido-de-mim-mesmo, a atingir-me em acidente a fatal flecha da paixão, a cegar-me imprudente, a empunhar o tridente, a saltar rumo ao poente, e a vagar contingente.
a Lua esnobe sorri amarela, pro continente.
e eu só a espivetar o garoto dos dias. passa por mim como passam as folias, como passam euforias, as minhas aporias, minhas epifanias.

passa.
sorri para mim o garoto, um sorriso amarelo...
implacável...
minguante...
sincero...

eu do alto o enxergo, enxergo tão fundo que quase o abduzo. mas, de baixo, vejo a Lua hedionda, de risinho abstruso, que lança a maldição, me instiga e me rechaça, acha feio, mas faz pirraça. ele o que vê não sei, tão garoto, só ri, sorri, e passa.
a Lua me enxerga, e eu tão sem graça, tem algo de mim que o segue...
com ele vai e não volta.
despedaça.

e o regaço do mundo
me arregaça.