segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Inclusão Digital para fins escatológicos.

Incrível; trocentos PCs num mesmo andar.
Oportunidades de estágio, informação e material de encher quantidades invisíveis de papel físico.
MSN iletrado, analfabetismo virtual, xadrez, letrocas, zumbis negros morrendo e pesquisas bem-sucedidas sobre personagens de desenhos animados.
Fim!

sábado, 13 de setembro de 2008

Comentário sobre o problema das doenças endêmicas e epidêmicas e das guerras civis na África

O professor esqueceu de recolher o trabalho. Contudo, achei demasiado interessante esta redação para condená-la ao esquecimento no meu caderno. Por isso condeno-a ao esquecimento no meu blogue.
Alguns trechos revisitados.


Um dos grandes problemas do continente africano atuais (senão o grande problema), é a seqüela trazida a este pelo imperialismo (europeu ou estadunidense). Com a desculpa do progresso e com a necessidade de manutenção da economia, os países europeus no final do século XIX decidiram que seria melhor partilhar (da forma mais justa possível para o partilhador), simplesmente, a África -poucos séculos depois de decidirem que seria melhor escravizar a população, e importá-la.
Partilha feita, os colonizadores optaram por colonizar o continente visando a exploração dos meios naturais das regiões (como na América, e também em busca do progresso). Desde então o continente e sua população nativa foram explorados até abastecer e satisfazer totalmente o ego e os fetiches da comunidade européia, já na metade do século passado.
Consigo, o imperialismo trouxe tantos outros problemas, como a fome e a alta mortalidade causadas pela miséria, a dependência política e tecnológica causadas pelo atraso na educação, e sérios confrontos políticos internos, causados pela má partilha do continente, que uniu etnias inimigas e acelerou o processo de extinção de numerosas tribos.
O filme "O Jardineiro Fiel", direção de Fernando Meireles, traz a questão da falsa diplomacia existente nas relações entre os países europeus e africanos (em prol de um progresso imperialista e fascista camuflado, e que continua existindo), e a questão das doenças epidêmicas e endêmicas (DSTs, malária, tuberculose etc). O longa "Hotel Ruanda", direção de Terry George, põe em questão as guerras civis na África, exemplificadas pelo caso tratado no filme, hutus versus tutsis, e que dizimaram -e dizimam- milhões de vidas na história moderna da África -enqüanto os europeus cuidam de seu progresso.
O fotojornalista brasileiro Sebastião Salgado ilustra bem as duas questões; tanto em 1995, em Nyarubuye, Ruanda, quando tira fotos de cadáveres tutsis empilhados em uma escola abandonada; como quando examina a fome e a escassez de medicamentos no conflito do Sahel, em Bati, Etiópia, no ano (irônico) de 1984.
Contudo, pouco tem ajudado escancarar o problema das seqüelas do imperialismo na África (ou o que foi escancarado ainda não é o bastante e não tem tanta relevância). A mobilizacão da crítica tem que gerar a crítica da mobilização. Enqüanto o problema da África não for concretamente resolvido, não passarão de hipócritas aqueles que lucrarem com a miséria humana nela presente (por exemplo, Sebastião Salgado, Fernando Meireles, Terry George etc).
A África não precisa de intelectuais que mercantilizem (e vendam para outras elites intelectuais) seus problemas e conflitos; ela precisa de uma população ativa -e não passiva às decisões de seus países como tais elites dizem não desejar. Por enqüanto, qualquer imagem documentada sobre a miséria africana apenas afirmará a hipótese da seqüela imperialista.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Uma Peça.

De repente, se viu segurando uma panela.
Por um instante, parou de comer como um lobo faminto e selvagem.
Olhou para os lados.
Voltou a devorar a panela de picadinho de carne recém-furtada da geladeira.
Parou por mais um instante.
Mais uma vez, se viu segurando uma panela, refletido no espelho.
Ele estava enorme.
Sentou.
Bateu a panela na mesa e começou a chorar.
Uma senhora aparece na cozinha acendendo a luz.
- Meu filho, de novo isto?
- Desculpa mãe -diz o rapaz soluçando-, eu não resisti.
- Se você continuar fazendo isso, nunca mais vai arranjar um emprego decente.
- Eu até tento mãe -esperneia-, mas a pressão é muito forte.
- Desculpa, mas eu não posso mais me intrometer na sua vida.
- Mas, mãe!
É tarde demais, a senhora já cortou a própria cabeça com uma machado e está caída no chão.
O rapaz volta a chorar e, sem levantar da mesa, continua a comer o picadinho de carne.
As cortinas se fecham.
Alguém na platéia grita:
- Eu não paguei trinta e cinco reais para assistir isto! Quero meu dinheiro de volta!
Em pouco tempo, a platéia está totalmente alvoroçada e clamando por seus direitos.
- Vocês não sabem o que é teatro -gritavam alguns escandalizados.
- Eu vou entrar na justiça para receber meu dinheiro de volta -gritavam outros.
Os treze atores da peça, o diretor, o figurinista, o engenheiro de som e a dona Nice (se fala Nice), mãe de um dos atores -e que por sinal faz um cafézinho ótimo-, se trancam em um camarote apertado.
Do lado de fora, ouvem-se batidas furiosas na porta, gritos raivosos, palavras ferinas.
Eles só saem daquele cubículo apertado no dia seguinte, quando a polícia já tomara o controle da situação.
Só aí então, Narciso, filho da dona Nice (se fala Nice), notou que faltava alguém.
- O Zé! O Zé!
José Pedro Santana, vulgo Zé Peçanca, era o autor da peça.
Ninguém sabia, mas naquele momento ele estava em um trem fugindo de uns fanáticos conservadores.
Por alguma coincidência, o trem se dirigia à cidade onde a mãe dele morava.