quarta-feira, 25 de novembro de 2015

pres'tenSão

eu deveria prestar atenção em tanta coisa, gente.
no cabelo da garota, na mala do garoto. no perfume da professora. no pomo de Adão da Luana. na frescura do saco voador, cheio de pentelhinhos, e prestar atenção nos nós dos pentelhinhos do saco também, e na doçura pipocante das auréolas de Angélica, e as auréolas são angelicais mesmo.
deveria prestar atenção durante a lactação, não me entorpecer, e nem deixar que a maconha faça eu dormir e o bebê bater o côco, e nem deixar que o pó me faça chorar. eu, pelo contrário, deveria prestar atenção nos meus sentidos, autocontrole autoconsciente, deveria fazer ioga, teatro e compostagem caseira. e, claro, prestar atenção, como cidadão, ou como cidadã, no meio ambiente, deixar o modem em standby, jogar o conteúdo do meu moon cup no quintal.
deveria prestar atenção no que diz a minha mãe, porque eu sinto que ela vai revelar um grande mistério. e deveria prestar atenção também no grande mistério da política, pois não sabemos quando virá o golpe, se virá, ou se será revolução, de quem, e contra quem, e quais cabeças serão erguidas, quais encerradas, quais rolarão.
deveria prestar atenção no zodíaco do twitter, porque sinto que uma faceta importante da minha subjetividade está sendo jogada fora por eu não ter acesso aos significados astrológicos. deveria prestar atenção no que fala a minha analista, pois ela estudou pra me entender e, se ela me entende, por mais que isso possa doer, eu devo ouvi-la.
devo prestar atenção na tabela do Brasileirão, pois, se meu time me decepcionar pela sexta vez seguida, pode ser conveniente estudar uma mudança de filiação. também devo prestar atenção na vizinha, porque deve ser um sinal que, toda vez que ela passe por mim, ela ajeite o cós, de forma que sempre eu tenha chance de vislumbrar o contorno rendado da sua calcinha invariavelmente lilás.
devo prestar atenção no trampo, porque a meta está chegando, e se eu não fizer quinze rounds no período de quatro dias, periga da minha chefe sofrer decréscimo de cinco pontos, atrasando meu bônus e forçando um remanejamento da equipe. daí, meu filho, seriam uns sete shoot downs consecutivos.
devo prestar atenção nos textos da disciplina de Cultura Brasileira. não quero repetir nesta altura do campeonato, procrastinar só vai fazer minha mãe ficar puta e eu gastar dinheiro que poderia ser aplicado no presente de aniversário da Luana ou em Smirnoff Ice.
devo prestar atenção nas dálias, que estão baratas, mas também nas espadas-de-são-jorge, que, crescendo portentosas, certamente têm algo a me dizer no plano espiritual.
deveria prestar atenção na opressão cometida contra a minha subjetividade, e também olhar para o sofrimento do outro. deveria dar meu ombro para o repouso da cabeça cansada, e ainda com o braço oposto erguer a mão em riste contra o sistema e lutar pela transformação. e, no meio disso tudo, deveria prestar atenção até em ser feliz.

mas por enquanto eu só olho atônito a vitrine de chocolates enquanto minha cabeça esmagada exala o cheiro sanguíneo da convalescência e o chão tinge de enrubrescido horror pela fatalidade do acidente na madrugada de quinta.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

o teatro épico
a vida é pica


te quEROS


HAPPENIS


a vida dele em slow motion

eu via seu movimento em slow motion, a costura inferior da sua cueca denunciava uma série de propriedades com precisão: a maciez da pele, a elasticidade do músculo. seu rosto sincopava entre angústia retorcida e alívio exagerado. abafado, seu couro cabeludo sublimava em gotas, na testa caindo, do boné preto, como o resto da roupa.
seu pênis, escultura difícil de aventar, passeava de um lado para o outro. para a bunda magra, escorregava uma gota feliz pelo tobogã esforçado da lombar. o cócix dilatado pontuava a vértice da letra S na extremidade oposta.
lágrimas involuntárias orvalhavam cada milímetro rumo ao chão. em slow motion é possível observar o momento em que irrompiam, depois o tráfego gravitacional e o salto dos suvacos. seu suor era orvalho, mas também vapor.
em slow motion ele era perfeito. muito tempo se passou. vão-se os fôlegos, os músculos, os vigores. fica marcado, no rastro de suor, a memória, mais viva do que em algum dia pudéramos ser.


o neném que Esther nunca teve

– a Esther não pode ter neném.
silêncio. a sentença sugeriu algum sentido no meio daquele absurdo todo.
– é?
– ela teve acidente.
ele, o garoto, desejou muito que o assunto não lograsse. odiava esse lado pateta dos seus clientes. os fixos, sobretudo. há segundos o infeliz berrava METE METE LEKÃO!, agora incipiava no velho choramingo do fracasso. viajara quarenta quilômetros numa Mercedes, pagara quinhentos reais pelo serviço, cento e quarenta e cinco pelas horas bem passadas no motel, aproximadamente trinta em Galicia, sete em cigarros, e agora o véu irresistível do fracasso nublava-lhe a fronte.
Newton, o jovem rapaz de ângulos imodestos, esse sim tinha um nome público. sua vida dupla nunca fora dupla, senão infinita, intermitente. temeu antever mais um chororô barroco. temeu, aliás, o pior. o pior não aconteceria, mas era lícito temer. uma vez um velho auto-defenestrou-se do segundo andar. o filho da puta foi burro, burro em cascata, otário em cadeia, agora maneta, preferiu relegar-se voluntariamente ao ostracismo. Newton aguarda dele alguma quantia – cuja quantidade de dígitos ignora – da indenização moral, pelas noites mal dormidas entre os aidéticos – quase um acidente de trabalho irreversível, que o Estado jamais assistiria.
Newton sobrevivera aos grilhões tetânicos, e agora mais uma vez se via agrilhoado aos lençóis cansados de um motel de bons ares em Cotia. não, ele não queria ouvir mais uma história de um fracassado rico e bem casado – FRACASADO é como batizara o nicho.
Newton tinha que agir.
– sabe como escreve meu nome?
– ué!
e riu. as pessoas medíocres reagem à criatividade rindo involuntariamente.
– sei.
– como é? soletra!
ele foi soletrando buscando confirmação com o franzir interessado do cenho.
N, I, L, T, O, M.
– Errou.
– É com N!
– Errou!
– É?
– É como... Se escreve como o, o, o, o físico. Sabe?
– Físico?
– É, o, o, o, esqueci o primeiro nome. TÃNÃNÃ Newton...
ele aprofunda a cara dolorida de dúvida.
– o da maçã e da gravidade.
– Aaaaaa! É assim?
– É.
– Olha...
Newton olha pra dento de si mesmo, tem um espelho no teto. sorri, não pela eventual surpresa que causara em seu cliente, mas pela eficácia da fuga da lorota patética. de que poderia tornar-se uma vez mais vítima.


ontem o levei para matar o zumbi e resgatar nosso precioso fone_de_ouvido.
Tadinho nos esperava no inferno.
nunca uma quantidade tão grande de EU TE AMO foi traduzida em proporção e de tão precisa maneira.
estou ficando bom nisso.
ou ele que está ficando bom em ser amado.

quero um dia dar a Lua pra ele.
vi isso num curta-metragem em 2014.
acho que dá.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

você é a fumaça quente da maconha recém-carburada, você entra, eu salto e sinto o frescor da loucura se apossando da minha cabeça e eu me apresso para re-inspirar a neblina que some, propaga, é desesperador ver você se esvaindo NÃO VÁ!


seremos duas conchas contingentemente postas lado a lado por alguma onda, pelo vendo, caranguejo ou guri. nosso jeito de ser concha, é termos olhinhos, imóveis sobre os sedimentos. olhávamos um para o outro:
a onda vai chegar! eu não quero me separar de você!
– não me deixe!
– eu te amo!
– estou com medo!
– não tenha, meu amor!
– Não!
NÃO ME DEIXE DE LADO!
NÃO ME DEIXE DE LADO!
o desejo tanto era que a onda vacilou, a luz do Sol - refratada na encosta d'água congelada - tingia de sete cores uma seção impalpável no ar, arqueadas as faixas vivamente coloridas.
o tempo parou!
os dois perplexos.
os olhinhos de concha brindaram marejados. a onda nunca se dobrou, e o amor venceu. mas se ela insistisse e se precipitasse pelo duo, nós, conchinhas, seríamos juntas puxadas pela correnteza e pousar sobre a textura incerta e oportuna de uma ostra em formação. petrificadas juntas em uma casca de cálcio, seríamos coletadas numa fazenda de ostras. a casca que seríamos seria triturada e transportada para Paranaguá. o velho que nos comprou misturou com arroz, feijão e bife.


é você na minha vida
ou fora dela - bem não sei
como a aurora acontecesse : anyway
'cause it happ(e)n(s) everyday
todo dia : tem alguém que se esquece
: se sabota
outro alguém que rodopia
pra cada pobre infeliz
que se mortifica
uma lua abandonada
morre de alegria
como se a partir do nada
ou quase nada
o universo sorriria
e então é quando
num Domingo(s) me percebo
não é mais cedo : e quando vejo
estou transando textura : da tangerina
escutando B(en) F(olds) 5(ive)
ou o gosto suculento : (que eu queria)
da sua boca, que não sai!
ou um ataque de vertigem
poderia ser a brisa
(do) salonpas com a maconha
uma síncope reprisa,
envergonha a cada largo
o impacto do pulo,
o impacto do salto...
e se durmo é na esperança : de acordar
neste sonho esquisito : você está
ternamente eu te fito : [eu te sinto]
e em duo vamos sonhar


se soubesse o quanto te extraño
disperso
que contigo me sinto tacanho
e imenso
que na sua saliva me banho
submerso
e que na sua falta me lanho
intenso
de adorar é o lugar que me ponho
e apelo
a cuidar de você me disponho
sem zelo
que viver a paixão me proponho
- e o elo - 
é, por fim, tirar as aspas do sonho
[e] vivê-lo.


meu mais querido homem
que bem você me faz
pousar no teu abdômen
me deixa pleno e em paz
sacio a minha fome
salivando de emoção
qualquer angústia some
quando pega na minha mão
seguindo o meu rastro
além do bem e do mal
gongando Zoroastro
te dou o Taj Mahal
te levo pro meu quarto
que é todo o universo
te rapto quieto e parto
pra dentro deste verso
te inscrevo, risco, traço
superficial profundo
te desenho no abraço
mais gostoso desse mundo

domingo, 4 de outubro de 2015

pista_os_irreversíveis

Chegamos ao ponto mais alto do Monumento às bandeiras que podíamos chegar. Foi quando lhe disse, olhando profundamente para dentro de seus olhinhos pretos:
– Essa é uma paisagem possível! Quero viver muitas contigo.
Depois, escrevi pelo WhatsApp;
– Eu quero soterrar essa cidade inteira contigo, e construir outra no lugar.

sábado, 3 de outubro de 2015

You're now chatting with a random stranger. Say hi!
You both speak the same language. (Select "English" from the menu in the corner to disable.)
You: blza?
Stranger: simmmmmmm
Stranger: e ai?
You: pdc
You: suave
You: como tá a sua noite?
Stranger: é de onde?
Stranger: um tédio
Stranger: e a sua?
You: maravilhosa
You: SP capitla e vc
Stranger: opaaaaa
Stranger: qual motivo
You: de onde vc?
You: ah, cara
Stranger: sou do RS
You: to apaixonado
You: RS.. qual o nome da sua cidade?
Stranger: Itaqui
Stranger: paixão
Stranger: isso é bommmm
You: to flutuando
You: Itaqui
You: e o seu nome?
Stranger: tem que idade?
Stranger: me chamo matheus
Stranger: e tu?
You: meu nome é Eros
You: idade não é um dado relevante pra nada na vida
Stranger: bonito seu nome
Stranger: ok
Stranger: se dizzzz
You: valeu
You: vc já se apaixonou
You: ao ponto de ficar febril
You: e obcecado?
Stranger: não
Stranger: mas já me apaixonei de trair
You: pode ser q um dia aconteça
Stranger: para ficar com a pessoa
You: pode ser q não
You: o importante não é traçar um objetivo
You: q talvez vc nunca consiga
You: mas se ocorrer de vc se apaixonar
You: aproveita
You: =D
Stranger: espero que
Stranger: a pessoa também se apaixone por mim
Stranger: cansei de sofrer
Stranger: nessa vida
Stranger: af
You: já aconteceu de eu me apaixonar e não ser recíproco
You: mas vale a pena
You: sabe por quê?
You: pq a gente se sente vivo
You: mesmo quando não é recíproco
You: de um jeito q a gente poucas vezes sente na vida
Stranger: sou fraco para isso
Stranger: não gosto de ver
Stranger: a pessoa feliz sem mim
Stranger: tem que ficar feliz comigo
Stranger: do meu lado
You: qual o nome da pessoa q vc se apaixonou
You: ao ponto de trair?
Stranger: Ahhhhhhhhhhh
Stranger: segredo
Stranger: mas acabei dois
Stranger: relacionamentos por ela
You: traição pra mim não existe
You: pq sempre estou em relacionamentos abertos
Stranger: como consegue?
You: pra mim gostar não tem a ver com exclusividade
You: tem a ver com responsabilidade
You: intensidade
You: preocupação mútua
Stranger: eu sou daqueles que gosta
Stranger: a ponto de abandonar
Stranger: se não tiver exclusividade
You: isso não é sobre gostar
You: isso é sobre amar as convenções sociais
You: é um fato q as pessoas podem gostar de outras.. mesmo quando o contrato é de exclusividade
You: o precioso das relações pra mim está muito além disso
You: o nome dele é Xxxxxxxx
You: tô absolutamente maluco por ele
Stranger: mas eu gosto
Stranger: porque penso sempre
Stranger: e me abala
Stranger: só que eu não quero me relacionar
You: eu sei.. pra algumas pessoas é difícil...
Stranger: em algo que fica no chove e não molha
Stranger: não me faz bem
You: bom... se o Xxxxxxxx for um mar.. eu quero me afogar nele
Stranger: Espero que de tudo certo entre vocês
Stranger: de coração viuuuu!
Stranger: conheceu ele faz tempo?
You: não
You: HAHAHAHAHAHHA
Stranger: Já namorou?
You: não uso esse termo pra definir relações
You: mas já cheguei a morar junt
You: junto
You: evite fazer isso, tá?
Stranger: Ahhhhh
Stranger: então vai dar tudo
Stranger: poxa
Stranger: eu querendo casar
Stranger: e você me diz isso
Stranger: nasci para casar
Stranger: não gosto de pegação
Stranger: pega eu pega meia dúzia
You: eu gosto =D
Stranger: credo
You: mas eu nasci pra ser livre
You: ainda que a minha liberdade possa ser essa entrega
You: ainda que essa minha liberdade possa ser esse mergulho
You: que os mares secam
You: que a taxa de oxigênio diminui
You: é um fato
Stranger: somo o oposto
Stranger: somos*
You: mas a única coisa que eu consigo pensar agora
You: é mergulhar
Stranger: tá apaixonado mesmo
Stranger: e ele sabe de você?
You: ele me quer
You: =D
You: estou experimentando uma modalidade de paz quase inédita
Stranger: então tem tudo para dar certo
Stranger: ou já está dando?
You: não acredito nesses termos certo ou errado. acredito na potência criativa que está surgindo desse encontro
You: essa criatividade toda está rolando
You: eu sou um pincel, ele é uma tela
You: quero fazer o quadro mais bonito que eu nunca fiz
Stranger: que filosofo
Stranger: mas isso é super fofo
You: qualquer coisa menos isso
You: um amante não filosofa
You: simplesmente ama
Stranger: tá bem
Stranger: e cadê ele
Stranger: ?
You: aqui dentro
You: da minha cabeça
You: do meu coração
You: do meu corpo
Stranger: jesussssss
Stranger: muita paixão
You: não sei se existe qualquer termo capaz de definir isso que eu estou sentindo
You: nem paixão parece fazer sentindo
You: a única coisa q eu posso dizer com precisão
You: é que eu quero tê-lo
You: vivê-lo
You: sê-lo
You: tanto quanto for possível
You: enfim...
You: vou dormir agora
You: na expectativa de não acordar
You: pq estou sentindo como se estivesse num sonho
Stranger: Vai ser, desejo o melhor para vocêssss
You: boa noite Matt
You: =D
Stranger: Boa noiteeeeee
Stranger: beijosss
Stranger: tudo certo ai
Stranger: prazer viuuuuu.
Stranger has disconnected.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015


lua lua lua eclipse lua - quando voltar,
não esqueça, venha ter comigo.
sua recompensa estará guardada
por este rapaz + atenta ao meu pedido...
mas para além de qualquer elogio
- eu não vejo propósito nisso -,
lua amiga somos confidentes +
e me traga aquilo que eu pedi:
a melhor pessoa que você avistar pela cidade,
ó lua lua lua lua...

suma suma suma fique suma volte depressa - mas sem atropelos.
leio a contrapelo um compêndio de versos prontos para vomitar.
caminha leve altissonante um elegante possível par.
olho para o céu e vejo em elipse a lua me comunicar.
pisco para o alto, ergo o salto e sigo ele até a noite acabar.
a melhor pessoa que você avistou pela cidade,
estou com ela - e tu, a lua, só vai sentir saudade.
haverá na superfície uma cratera com meu nome
- até o dia em que a pessoa amada dá um beijo e depois some,
ó lua!
preciso de alguém!
você precisa também!

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

pequeno relato bastante tardio

a primeira vez em que me surpreendi com a dimensão real daquilo para o que nebulosamente meu capital-bicha poderia me levar - e estava me levando - ...

foi quando 2D virou 3D

domingo, 2 de agosto de 2015

saca esse lance:
que décadence!
era um típico
apreciador
de um bom tríptico,
da art noveau...
virei crítico
de filme pornô
alguém poderia,
em dispondo de tela e carvão,
que manipulasse os instrumentos
de comunicação
com o paranormal,
ou então os segredos quânticos,
dentro das bétulas, pétulas, cédulas,
recônditas mitocôndrias infinitesimais,
tecidos epiteliais,
o anel dos Nibelungos
no dedo-duro da mão invisível
do mercado,
alguém que entenda o que há de galático
ou de gráfico
dentro de cada palavra,
cada conceito,
e se a mão lavra
penal direito,
pornógrafo, senão geopolítico,
cirurgião de grelo,
erudito, teógrafo, em levítico,
lexicógrafo, cantor maldito,
poeta de esquina, cadete, pê ême, puta fina,
alguém que manje, que
uma explicação qualquer pra querela que for
arranje,
um sábio sabiá que saiba assobiar,
cante, nos conte ou Kant,
Leminski, Warhol, Stein, a veia a fiar,
ALGUÉM,
Kandinski, Carol, Wittgenstein,
de Nazaré, de Belém,
nas asas da Panair,
ALGUÉM
que saiba dizer
como um tal sentimento
cabível ou cabila,
que não se arrefece
pode irromper,
entusiasmo esse
de querer muito ver
acontecer
entre alguém que quase não se conhece
e você...

quarta-feira, 15 de julho de 2015

fazer poesia
sei
ou sabia?

quarta-feira, 17 de junho de 2015

excerto. #inbox_questão_Vegana

eu: https://www.facebook.com/vegansidekickptbr/photos/a.810988588925950.1073741827.810984078926401/819598114731664/?type=1

__:
cadáveres!

eu:
essa página vegan é incrível
tô olhando há mais de uma hora
eles mandam mto bem
acho q vc vai gostar __, pq eles questionam vários pressupostos da filosofia e do senso comum

__:
estou dando uma olhada

eu:
A parte mais esquisita do argumento vegan pra mim é essa, a moral e a ética
Mas eu acho que ela fala muito sobre como nossas concepções estéticas, éticas e.morais são arbitrárias
E daquilo que é humano. E uma crítica muito massa ao plano biológico das explicações.
O leão, os ancestrais etc. E aquela coisa da hipocrisia, ser a favor dos animais mas financiar o abate. É muito louco isso né?

__:
Acho essa relação um pouco forçada. Não sei se já houvi alguém abertamente defender o abate. Me parece forçado sugerir que comer carde implica em defender o abate.
Ao que me parece, as pessoas que gostam de carne, simplesmente gostam de carne. E esse gostar prescinde de qualquer consideração acerca da "genealogia" - seja brutal ou inofensiva - daquela coisa gostosa que se come.
É um pirulito na boca de uma criança: Um negócio gostoso de por da boca.
Quantas crianças estão interessadas em saber se eles são feitos de rochas venusianas ou do sangue dos estrangeiros?
O ilustração de como nós nos postamos diferentemente frente a um cachorro e a um porco é um ponto bem interessante. Mas é um ponto que se volta contra a própria ideia defendida.
Por que da mesma forma que se levanta a questão "por que porcos mas não cães?", também pode se levantar a questão "por que bactérias mas não porcos?".
Assim sendo, o mesmo princípio a partir do qual elegemos "arbitrariamente" o cão por sagrado potencial de personificação, o porco também ocupa uma posição arbitrariamente discriminada diante de outras formas de vida.
Como se, em virtude da nobre defesa da vida, a única questão a se fazer fosse:
que bichinho parece mais com a minha simpática tia Máguida?
Sem mais, meritíssimo.

eu:
hahahahaha
é, mas eu fiquei pensando, aquilo que é vida depende de circunstâncias contingenciais e arbitrários pra ser definido.
mas daí evocar o argumento do relativismo não necessariamente nos eximiria da responsabilidade de pensar por que alguns mamíferos, aves e peixes são carne e outros não, se todos têm as mesmas propriedades nutricionais e potencialidades estéticas.
e dá pra usar um argumento quase marxista pra pensar numa resposta a "por que ligar pro abate se o que importa é a fruição da carne?"
acho que uma resposta possível seria "porque a nossa estrutura econômica e comensal está baseada  na divisão do trabalho de tal maneira que o afastamento do abate é duplamente estratégico: primeiro ele afasta a atividade de sacrificar os animais que comemos de forma a tornar inteligível o nosso amor por outros; segundo, transforma a produção de comida em uma cadeia corporativa gigantesca"
como se o humano fosse alienado do modo de produção da comida, e assim sendo, não precisa enfrentar o fardo de sacrificar os animais que come
por falar nesse assunto, juro que o meu peido tá com o mesmo cheiro do queijo gorgonzola que eu comprei!
ou seja, o queijo está bom, meu intestino não

__:
Acho que o afastamento do abate antecede a nossa estrutura econômica. Mesmo numa sociedade feudal, só alguns são açougueiros.
Já quanto ao "fardo de sacrificar animais", não vejo como não considerar esta posição moral - que se estende a quase todos nós, acredito - também como produção cultural. Talvez periodicamente alimentada justamente pelo afastamento.
Esfolar animais já fez e ainda faz parte do conjunto de práticas cotidianas de ancestrais e vizinhos pelados
... respectivamente

eu:
é, sabe uma coisa que me incomoda? em Antropologia a gente vê que a alteridade é algo que todos os coletivos precisam dar conta. e, antropologicamente, sociologicamente e historicamente a solução pra alteridade é... foder o outro

__:
hahahaha

eu:
eu fico pensando, o que esses caras da militância vegan fazem é ainda mais complexo... eles borram as fronteiras entre humanidade e bestialidade... mas lançam mão de vários argumentos morais, que eu acho meio brochas (você mataria seu filho?). os éticos são mais interessantes (se estabelecemos um estatuto de inteligibilidade e afeição aos cachorros e aos meus amigos, por que as vacas?).

__:
"em Antropologia a gente vê que a alteridade é algo que todos os coletivos precisam dar conta"
Essa noção em si é bem contraditória. Uma vez que se dar conta da alteridade, implica se dar conta de uma alteridade que não liga a mínima pra alteridade

eu:
é, mas mesmo que na antiguidade existisse o açougueiro, o argumento marxista ortodoxo diria: virá o mundo em que a luta entre animais e humanos será superada pelo comun(al)ismo XD
afinal, em toda a história da humanidade houve luta de classes, e só no início do século XIX havia chances de acontecer o comunismo. perdemos o timing, galera!]

__:
hahahaha tá rolando um xamanismo ameríndio nervoso nesse marxismo ai

eu:
HAHAHAHAHAHAHA aloka
pois é, os coletivos dão conta do problema da alteridade fodendo a alteridade. eles solucionam diferenciando e, historicamente, diferenciar implica no mais das vezes desigualdade, sangue etc.
se eu fosse um psicólogo social, diria que a maneira como a gente opera a diferença em relação ao outro tem um parentesco com a maneira como a gente elabora a diferença entre nós-humanos e el_s-bestas

__:
me soa como uma noção super coerente

eu:
xixi
e agora?

__:
"Alterificar" não me parece muito distante de "deshumanizar"

eu:
é, alguns outros são mais desumanizáveis que outros
por exemplo, os bandidos são mais desumanizáveis que as mulheres na nossa escala de valoração

__:
Mas talvez também faça muito sentido questionar se faz sentido "humanizar", antes mesmo de "bestializar". Talvez a noção de que somos todos humanos, ou somos todos uma mesma raça seja igualmente "arbitrária".

eu:
uai, ela "faz sentido". não diria objetivamente, mas de acordo com a maneira da sociedade "pensar"

__:
Esse nosso "humano" talvez seja só uma imagem moral. Não é incomum ouvir referir-se àqueles que se contrapõem às representações ideais de moralidade como "monstros".

eu:
uhum

__:
Se essas representações morais  traduzem-se em referências particulares - estética e comportamentalmente -, talvez desumanizar alguns mesmos, seja tão absurdo quanto "humanizar" "outros.
Existe um "nós" dentro de uma igreja, e dentro de um prostíbulo.

eu:
é... é arbitrário... acho que é uma coisa que a política, a antropologia, a sociologia, a psicologia e a história podem explicar...
e, olha que louco, se podem explicar, é porque mudanças são possíveis.... se é social e histórico, pode transformar...
aí o bicho pega
haha! o bicho!

__:
hahahahaha

[...]

__:
O Xxxxx, vulgo amigo xxxxxxx, tem uma amiga que trabalha matando porcos.

eu:
UAU

__:
Ele compartilha alegremente alguns detalhes gráficos

eu:
que loucura! uma mina que abate animais...
eu tenho uma colega do mestrado que não come carne. ela vai fazer campo no Alto-Xingu, e lá comer peixe não só tem relação direta com a economia e subsistência, como os xinguanos têm uma relação muito particular com os animais que comem. é toda uma economia da substância, não essa estrutura do abate que a gente tem.

__:
E não é nada sofisticado. Segundo consta, ela pega o bicho pelas patas e chicoteia o crânio contra uma parede

eu:
ela vai comer os peixes... mesmo porque se não comer, a inserção dela em campo estará meio prejudicada..

__:
Não sei o que entender por "economia da substância".

eu:
nossa, isso deve ser muito escroto! e o bicho deve demorar pra morrer! cara, você não pensa "como vive um abatedor?" oO pra ele é banal. no capitalismo financeiro os grandes executivos não vêem as crianças dos países de terceiro mundo morrendo de fome

__:
parece que é bem escroto msm

eu:
ai __, não sei direito, os xinguanos pensam circulação de substâncias entre corpos.. pra nós a carne do peixe é só algo com potencialidades nutritivas, pra eles têm a ver com outras coisas que eu não sei explicar.

__:
hm... rodízio japonês
Eros chinchila
Vou morrer

eu:
adeuses!
boa morte procê
no abate

__:
Se tudo der errado...
me come

eu:
ou certo..
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
pó de chá

__:
hahahahaha vlw

eu:
Beijo!
Relendo um capítulo fotocopiado de um livro do Lévi-Strauss - tive que ler na graduação, agora o retomo para o mestrado - me surpreendi com um pequeno manuscrito ao cabo do mesmo. Acho que sei do que se trata; durante uma mostra de cinema dinamarquês, senti-me motivado para assistir a segunda sessão (ironicamente, Dançando no escuro) por conta de um jovem garoto, branco com camisa xadrez, que eu segui - iludindo-me, talvez, por uma promessa de reciprocidade pouco factível. Após encontrar duas amigas, ele adentrou a sala de cinema, e eu atrás. Abandonou a sessão no meio. Destaquei uma parte supérflua de algum texto supérfluo que estava lendo e escrevi qualquer coisa, com meu contato junto, o telefone, se pá. Lembrei, escrevi algo do tipo "que tal comentarmos o filme juntos?", algo assim, e, tomando algum fôlego social, reportei às garotas, remanescentes da sessão a tarefa de repassar o manuscrito. Jamais obtive resposta.

Era como eu tivesse marcado um encontro. Sempre fiz isso, estava fazendo mais uma vez. Lendo o meu texto, porque comprometi-me com a faculdade, mas atento a todo movimento. Em cada um dos semblantes há um desejo não manifesto, uma vontade latente de sair perguntando toda a sua vida. No entanto, sinto, como calejadamente a experiência me permitiu, o bolo. Será que tem algo de errado? Mas que coisa! Por que eu não me convenço logo que esse moleque não passará na minha frente nunca mais?

1262011,
Talvez ele não goste mesmo de cinema dinamarquês, 19h58

excerto. #skype_conversa_boa

[04:47:17] (y): ok, frutinha
[04:47:51] (y): é meio improprio oferecer banana pros outros
[04:47:55] (y): podem entender errado
[04:47:56] Renan Diego: tenho certeza q vc teve até uma ereção me vendo comer a banana
[04:47:58] Renan Diego: HAHAHAHHAHA
[04:48:13] (y): tive em outros momentos
[04:48:18] Renan Diego: hummm
[04:48:20] Renan Diego: tipo quais?
[04:48:28] (y): ah, alguns ae
[04:48:34] Renan Diego: podecrer
[04:48:34] (y): foram efemeros
[04:48:40] Renan Diego: tive alguns tb
[04:48:50] (y): bom saber
[04:49:04] Renan Diego: mas como estamos nos conhecendo pela parte de cima do umbigo
[04:49:08] Renan Diego: vc não saberia,
[04:49:12] Renan Diego: a não ser se eu falasse
[04:49:18] (y): nem tudo é perfeito
[04:49:26] Renan Diego: rs
[04:49:43] Renan Diego: não sei se a maneira mais excitante de começar a conhecer uma pessoa
[04:49:48] Renan Diego: é pela cabeça do pau na cam
[04:49:53] Renan Diego: é só uma forma específica de conhecer as pessoas
[04:49:59] Renan Diego: que depois da milésima vez começa a ficar enfadonha
[04:50:09] (y): bota enfadonha nisso
[04:50:28] Renan Diego: nossa banana estava boa
[04:50:30] Renan Diego: e docinha
[04:50:39] (y): elogiou mais a banana do que a maçã
[04:50:41] (y): anotado aqui
[04:50:58] Renan Diego: não é justo, vc conduziu a conversa pra isso!
[04:51:00] Renan Diego: u,u'
[04:51:08] (y): ó coitadinho foi sugestionado
[04:51:10] (y): tao ingenuo
[04:51:20] Renan Diego: haueheuhaaeuhae inescrupuloso!
[04:51:28] (y): to pegando leve
[04:51:37] Renan Diego: acha q aguenta o batidão?
[04:51:54] (y): nem que seja chorando
[04:52:01] Renan Diego: ótima resposta

e assim fomos até às 6h39...