sábado, 19 de julho de 2008

A mídia, o caso Isabella e a realidade no Brasil.

Neste exato momento, uma criança com menos de um ano acaba de morrer no Nordeste do Brasil. Até que essa criança de, suponhamos, quinze meses (contando com a gestação), viveu um tempo razoável, se sua expectativa de vida for comparada à expectativa de vida da formiga, ou de um espermatozóide não fecundado. De mil crianças nascidas ontem, pelo menos dezessete morrerão em menos de uma semana. 3% das crianças nascidas no Nordeste, entre mil, morrerá antes de completar um ano, a maior parte de fome ou de doenças que já têm cura, ou que já estão em controle nas grandes cidades do Sudeste do Brasil, por exemplo.
Há mais de duas semanas, uma menina da classe média de São Paulo foi asfixiada e defenestrada de forma horrorosa pelo pai e pela madastra. Desde o dia seguinte à tragédia até o dia em que os pais prestaram seus principais depoimentos, várias crianças nasceram no Brasil. 2,2% delas morrerá antes de completarem um ano. A porcentagem de crianças mortas por asfixia e defenestração, constituem uma parcela ínfima das estatísticas sobre mortalidade infantil no Brasil, se comparada a outros tipos de violência e casualidades, como sufocamentos, afogamentos, atropelamentos e quedas não-premeditadas.
Contudo, foi um prazer enorme para a mídia acompanhar passo a passo (e opinar sobre) todo o caso Isabella (in memoriam). Depois que o que aconteceu foi exposto pelos meios de comunicação em massa, não houve uma pessoa que não julgou os pais de Isabella, ou que não se sensibilizou com o seu rostinho carismático, que, pelo andar da carruagem, logo logo começará a ser vendido junto dos mais variados souvenirs, tamanhas foram a audiência e a rentabilidade alcançadas.
Está para ser criada, pois, a Isabellamania (uma peculiar equivalência à Beatlemania, da década de 60s), um típico movimento brasileiro -nada que não possa ser esquecido na liquidez da nossa memória. Trata-se de uma estratégia de marketing responsável pela venda de uma infinidade de produtos, utilizando a imagem de Isabella, cedida (ou defenestrada) pelos seus pais, com um certo apelo emocional e piedoso implícitos, claro.
Com um certo tempo, um novo estilo-de-vida estará à venda, transformando Isabella na única superstar póstuma da história; para as crianças, cadernos e lancheiras com a clássica imagem de Isabella sorridente; para as donas de casa, porta-retratos que já venham com uma foto da menina; e, finalmente, para os idosos, fraldas geriátricas Isabella, óbvio -e com o máximo de absorção.
E quem se importa de 4,1% das crianças no Nordeste morrem antes de completar cinco anos? E como se fazer importar, quando, no mesmo noticiário, estatísticas sobre mortalidade infantil recebem menos importância que o caso Isabella? Isso tudo só ajuda a formar uma população conformada com os problemas sociais (e um tanto inconformada com a perversidade humana). O que falta é relacionar a perversidade humana aos problemas sociais que assolam o país, como a fome e a miséria. Em um país onde a tecnologia ascende cada vez mais, é inconcebível que uma criança possa morrer de fome. À medida que há uma omissão dos deveres e responsabilidades do Estado em determinada região ou sobre determinado grupo da população, um crime foi cometido: a violação aos direitos humanos comuns a qualquer cidadão do mundo.
Assim como houve uma violação em relação aos direitos da cidadã Isabella, milhares de outros cidadãos-mirins têm seus direitos violados a casa dia. E, certamente, não será aumentando a importância de uma violação, e menosprezando todas as outras, que construiremos um mundo melhor, onde nossos filhos tenham garantia de uma vida digna, estável e segura, e sem nenhum idiota para jogá-los da janela.
A mídia, como meio vital de difusão de informações na nossa sociedade, tem como obrigação respeitar as individualidades de cada um, mostrar tudo aquilo que tem relevância para a nossa sociedade com importância verdadeiramente proporcional, e manter-se imparcial. Em todos os sentidos, a mídia falhou, a cobrir com um certo exagero o caso Isabella.
E quem vai mostrar aquilo que realmente importa para os brasileiros? E a guerra contra o Iraque, que ainda não acabou? E as CPIs, e os escândalos políticos e financeiros que movimentaram para contas pessoais mais dinheiro público que a corrupção no governo Collor? E a Amazônia, cada vez mais vítima da ganância dos pecuaristas, madeireiros e produtores de soja? É mais cômodo fazer o povo chorar por Isabella do que pô-lo a par de nossa situação política e econômica atual.
Caberá a quem inverter essa situação de alienação da população? Certamente não será Isabella quem o fará.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Texto ou Hipótese sobre o fim do mundo (Capítulo Oito) -FIM!!!!

Não tinha mais Rua Turva, mas dessa vez o Rio Entreparedes era o encarregado de transferir informações apagáveis até o país de Marvildo. Percebendo a estratégia maléfica, os governantes de Hermética mandaram asfaltar o Rio Entreparedes, que ganhou o nome de Cidade Rio Parado, embora não houvesse mais rio.
Os governantes de Marvildo ficaram tão bravos que lançaram todas as suas bombas atômicas em Hermética, mas acabaram destruindo o mundo.
Felizmente, sobrou o autor do texto.

Texto ou Hipótese sobre o fim do mundo (Capítulo Sete)

O autor não sente mais prazer em contar a história de Malmequer de Sul.
Agora, ele contará a história de Malmequer do Soul, que era a cidade que ficava ao Norte, e que jamais foi alagada por mais de quinze copos de cerveja azul, porque ela não existe.
Então um dia se ouviu um barulho estrondoso vindo do Sul.
Os cidadãos de Malmequer do Soul não sabiam, mas justo naquele momento, um vendedor de lâmpadas, um prefeito e uma Beatriz morriam afogados. Agora, Malmequer do Soul e Hormissia estavam separados por um grande rio, que mais tarde seria chamado de Rio Entreparedes. Isso fez com que as relações entre Malmequer do Soul e Hormissia fossem cortadas, já que Hermética era um país muito pobre e não dispunha de fundos para solucionar o problema da comunicação, só para comprar toneladas de cimento.
Mibo estava preparando um pudim para Mibinha, durante o momento da explosão. Infelizmente, o pudim e a Mibinha desandaram, e Mibo morreu de tédio. Melhor pra ele.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Texto ou Hipótese sobre o fim do mundo (Capítulo Seis)

Maria sabe de uma coisa que os demais não sabem, nem Beatriz.
Mas eu também não sei, então não posso contar.

Texto ou Hipótese sobre o fim do mundo (Capítulo Cinco)

Ah! As abelhas.
Animais estúpidos, mas todos as amam.
Aliás, isso é mentira, posto que se todos as amassem, não as explorariam da maneira que o fazem, roubando todo o seu mel -e falo sério!
Pois chegou o dia aos moradores de Malmequer do Sul; a maldição das abelhas malignas em ação! Infelizmente, a tsunami foi mais ágil.