segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

CONCRETO QUEIMADO #2

seria mágico... se eu não tivesse alguma ideia do que significaria um retorno seu. seria trágico... se no entanto as luzes cegassem-pirotecnia meu redor todo. seria letal... se o sopro da vida me beijasse as frontes com o seu frescor-sabor. seria muita coisa, na verdade. mas eu ainda não me decidi.
pode ser que eu simplesmente ignore toda essa coisa nojenta, esse tom meio autoajuda, eu sempre detestei essa coisa escorrida, espero que morram todos, inclusive eu. a brisa na praça Dom José Gaspar alivia o calor escroto, e eu em breve carimbarei a boca daquele jovem rapaz, mas prefiro dar vazão ao eterno retorno, que aconteceu, e que não aconteceu e talvez nunca aconteça, entre eu e você.
divido o banco com três africanos - o mais presumidamente preciso que eu posso inferir - que conversam em inglês. um deles come seriguela, o outro pegou emprestado a caneta com a qual iniciei este manuscrito e não devolveu até agora, e não vai devolver. há duas horas um haitiano me abordou nas cabines do Cine Paris. dei cinco reais para cheirar os pentelhos densos e mal-lavados de um garoto. me arrependi depois, pensando que eu poderia ser o azarado a ser diagnosticado com a primeira DST de transmissão nasal. minha relação com garotos de rua anda melhorando. semana passada dei um dois com um.
meu colega de banco, contra minhas expectativas, devolveu a caneta. eu lhe ofereci a mesma, ele negou, mas ainda assim reivindiquei uma seriguela como contrapartida.
seriguelas e lichias habitando a mesma carroça. quantas podem habitar de uma só vez um mesmo coração? lichias... deve ser época. antes fosse! o iogurte de lichia que em duas ou três vezes provei há quatro meses está disponível novamente na fonte.
o barulho é infernal aqui na Dom José de Barros, rap, reformas, pessoas. queria que um maremoto arrasasse tudo, que só sobrassem os africanos das seriguelas, eu e você, encerrados numa cápsula intra-ventilada de felicidade eterna.
mas ao invés disso, concreto queimado, ou nem isso, o cenário sujismundo da cidade que eu amo mas que só me fode, como se eu fosse algum dos meus clientes que não entendem como minha performance na cama é tão boa se eu jamais faria sexo de graça com um gordo destroçado patético e complexado e sem autopiedade.
não mais Dom, mas Barão! de Itapetininga, uma cartografia do vazio nos lugares que ganham sentido no fluxo alucinado diário.
o moleque que eu vou beijar diz que é uma esponjinha. ele não é você. você falou que eu sou seu guru. e eu lhe digo NÃO!, me interessa a troca. naturalmente eu destilo toda a minha falsa erudição pra te impressionar. mas se você sorri já estou enlouquecido. o guru, te disse, detém o monopólio do saber. eu, em oposição, estou interessado em troca. que eu possa falar de arquitetura modernista e design vernacular, que você ejacule iogurte de lichia na minha goela.
não me parece muito que resida sequer em parte nos fluidos o seu interesse de escambo. se você soltar um perdigoto enquanto grita ao correr das bombas de gás lacrimogênio, se uma gotícula alvejar a carne dos meus lábios, isso já tá bom pra mim, uma coisa como a relação entre o careca e Marinês em Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios.
ele vai descer em instantes, e você está aqui, tão aqui que... talvez eu esteja daqui a segundo de mãos dadas com ele pela República, mas o cheiro desejado a circular pelos dutos da cabeça-coração é aquele que nunca deixei de sentir desde a primeira vez que te vi.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

CONCRETO QUEIMADO

irônico que um parque bem desenhado e conservado seja antes índice de civilidade que emblema da natureza. cerquei suas mãos mais de dez vezes até ter algum sucesso.


agora nem tanto mais abstrato
assento o meu metrô
sobre o teu concreto queimado


a sensação impagável
de não só ter quem queira
mas também ter quem pague


afinal, esta é uma rima fácil

no canto escuro
uma fagulha incide
sobre a meia soquete
o cliente, o puto
num meio boquete


..olho então
pra tua orelha.
.passa lápis,
.passa o ar,
passam os dedos
....a futucar...
sei que passa tudo
...........pelo teu furo.
passa todo o meu
....................... ......amor,
.................no entanto,
..........pelo teu alargador?

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

já não mais sabia que sentiria ao vê-lo. se indiferença, se não-saber-o-que-ver-fazer, se não qualquer coisa ou coisa sim, senão, que pegava não coisar.
quando o vi - ele estava na minha frente PQP - soube por que tudo aquilo aconteceu, entendi as noites de choros intermináveis, a ternura toda - que transferi obsessiva para um outro atual -, a dedicação toda, o desejo, a consternação, a admiração sem saber ser admirada.
rick
u make me sick
van gogh
head is a fog