se o rolezinho favoreceu os estupros ou não, o fato é que o evento trouxe visibilidade para a pegação do Bananal. o que deve ser feito com cuidado, então, é pensar as relações (se existem; quais são) estabelecidas entre um evento marcado pela presença de pessoas jovens de diversas orientações sexuais e o espaço convencional de pegação entre homens.
agora, pelo que eu sei, as relações de pegação entre homens tendem a ser marcadas pelo consentimento.
outros pontos: (i) socialização generificada não é obrigatória e inequivocamente idêntica. (ii) não vejo a promiscuidade indiscriminada meramente como um dado intrinsecamente relacionado à demanda pelo cultivo do tesão como um fim em si mesmo - a adesão acrítica a este argumento, pra mim, é falso moralismo. acho que a apropriação dos espaços públicos para sexo entre homens inclusive, historicamente, viabilizou a concentração de pessoas socialmente estigmatizadas.
concluindo, acho que estupro é uma questão muito séria. mas a caça às bruxas no Bananal se presta a um objetivo claro, que é o de purificar o espaço "público" informado por um conteúdo moral acerca das práticas que lá se estabelecem.
é transferir a responsabilidade de uma violação-de-fato a uma população facilmente estigmatizável.
é uma inferência brutal e extremamente conveniente (a de que a frequência de homens se pegando esteja relacionada aos estupros _mais do que, talvez, a existência de um espaço escuro que não pode ser mexido, já que é reserva natural de flora); temos os ingredientes para a construção de um pânico moral e um inimigo comum. pra equipe de des-comunicação do Brasil Urgente, experiente em criar esse tipo de discurso, aliás, é mais do que conveniente.